CRMV-SP cria comissão para tratar da cannabis na medicina veterinária

Iniciativa se fortalece durante o Congresso Brasileiro de Cannabis Medicinal e promete transformar o cuidado com os animais no país

Publicada em 07/07/2025

CRMV-SP cria comissão para tratar da cannabis na medicina veterinária

Os membros da comissão em reunião no Congresso Brasileiro de Cannabis Medicinal, organizado pelo Sechat. Da esquerda para a direita: Bruno Perozzo, Aline Goulart, Cátia Ferraro, Ana Helena Pagotto, secretaria geral da diretoria do CRMV e Carol Campagnoni

Há momentos em que a história muda de direção de forma quase silenciosa, em reuniões, escutas e compromissos éticos assumidos por quem cuida da vida. Foi assim que nasceu, um marco para a medicina veterinária brasileira: a criação da Comissão de Endocanabinologia do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP).


Anunciada oficialmente nos últimos dias, a comissão é o primeiro passo concreto de uma jornada que há muito já era sentida na prática, nas clínicas, nos estudos, nos relatos comoventes de tutores e nas evidências científicas que crescem a cada dia. É um sopro de esperança para os animais e para os profissionais que os tratam com rigor técnico e sensibilidade.


Cuidar com ciência, escuta e responsabilidade


A presidente da comissão, Kátia Ferraro, resume com precisão a missão do grupo: fomentar uma regulamentação exequível, com base no conhecimento técnico e na prática ética da medicina canabinoide. Mas não só isso. Trata-se também de construir uma ponte sólida entre os avanços científicos, os órgãos reguladores e os veterinários.


“Nossa atuação buscará elaborar diretrizes técnicas de prescrição, articular com o MAPA e o CFMV, produzir conteúdos educativos e escutar ativamente a categoria por meio de eventos, simpósios e até consultas públicas, se necessário”, afirma Kátia, com a serenidade de quem entende que transformar leva tempo, mas começa com decisão.


Três eixos, um propósito


Para Carol Campagnone, vice-presidente da comissão, a atuação será firme em três frentes estratégicas: regulamentação, formação profissional e segurança.


“Vamos apoiar a criação de normativas junto ao CFMV e ao MAPA, com foco na prescrição responsável, acesso a produtos de qualidade e critérios para a pesquisa científica. Além disso, queremos ajudar a construir um consenso nacional sobre o uso de canabinoides na Medicina Veterinária, algo essencial para dar segurança ao profissional e ao paciente”, diz Carol.


Na formação profissional, a comissão já prevê ações de educação continuada, como artigos técnicos, simpósios intercomissões, palestras e materiais nos canais oficiais do conselho. Tudo com um olhar cuidadoso sobre a segurança do uso da cannabis: “queremos evitar a banalização e garantir que ela seja integrada de forma ética e responsável”, completa.


Materiais que acolhem e orientam


O médico veterinário Bruno Perozzo, segundo secretário da comissão, reforça que entre as primeiras ações estará a produção de conteúdos educativos, não apenas para informar, mas para acolher as dúvidas, angústias e necessidades dos veterinários que desejam trilhar esse novo caminho com segurança. “Estão previstas diretrizes técnicas de prescrição, publicações na revista do Conselho, webinars, eventos presenciais, materiais multiplataforma e presença em feiras da área. Será uma ação conjunta com a sociedade e com a categoria”, explica.


Um novo tempo para a medicina veterinária


Para Aline Goulart, secretária da comissão, a criação da Comissão de Endocanabinologia é mais que um avanço institucional, é um divisor de águas. “Esse é um marco histórico que legitima o debate científico, técnico e ético sobre a cannabis na medicina veterinária, respeitando o sistema endocanabinoide e reconhecendo a medicina canabinoide como uma área de relevância crescente”, afirma.


A comissão listou os próximos passos, muitos deles ambiciosos e necessários:


* Diálogo estreito com o MAPA para tratar de questões regulatórias;


* Apoio à futura Resolução do CFMV sobre prescrição;


* Produção de um documento de consenso técnico;


* Lançamento de ações educativas como podcasts, simpósios e eventos;


* Estruturação da endocanabinologia como especialidade veterinária;


* Articulação para inclusão da disciplina nas grades curriculares, inspirando-se em iniciativas já existentes em universidades como UFSC e UFRPE.


No cenário do Congresso Brasileiro de Cannabis Medicinal, promovido pelo próprio Portal Sechat, a reunião dos membros da comissão foi um momento de alinhamento e afirmação: a medicina veterinária canábica não é mais uma promessa, é uma construção coletiva em pleno andamento.


E como todo cuidado começa pelo conhecimento, acompanharemos de perto cada passo dessa história. Porque quando a ciência encontra o afeto, e a regulamentação encontra a escuta, quem ganha é a sociedade inteira.

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