O que a partida de "Negão" nos ensina sobre amor, cuidado e o poder da terapia canabinoide
A emocionante história de Negão, o cão resgatado pela biomédica Emília Alcântara, que teve qualidade de vida restaurada com o uso da cannabis medicinal. Um relato sobre amor, ciência e dignidade até o fim
Publicada em 29/07/2025

Negão tratou uma artrose com a cannabis e teve mais qualidade de vida no processo de despedida dessa vida | Divulgação
Negão não teve um começo fácil. Resgatado das ruas por Emília Alcântara e sua mãe, ele chegou machucado, maltratado, com um passado que parecia ter sido apagado pelas marcas do abandono. Mas foi no quintal da nova casa, e no coração de Emília, que ele encontrou algo maior que dor: amor, cuidado e pertencimento.

Foram dez anos de convivência, passeios, brincadeiras e silêncios cúmplices, mesmo nos dias em que a artrose começou a apertar. A doença crônica, que compromete articulações e reduz a mobilidade, chegou como uma sombra sobre os dias do Negão. Mas sua tutora, Emília, que é biomédica, não se contentou em vê-lo definhar.
"Ver o Negão se levantar com mais facilidade, caminhar e até brincar de novo me trouxe esperança real", conta ela. "Foi como dar a ele o que ele sempre me deu: cuidado e amor”.
O papel da cannabis na dor e na dignidade

Com orientação da médica veterinária Carolina Lomovtov, especializada em Medicina Integrativa e Endocanabinoide, Emília, que atua no setor da medicina endocanabinoide, iniciou o tratamento com cannabis medicinal. A dosagem foi precisa: 12 mg de CBD e 12 mg de THC por dia, em proporção 1 por 1. O resultado foi surpreendente!!!
"Mesmo com uma condição avançada, ele voltou a ter brilho no olhar, a querer interagir e até se alimentar melhor", relata Carolina. "A cannabis não reverteu a artrose, mas devolveu qualidade de vida”.
Negão ganhou dias melhores. Voltou a brincar com seus amiguinhos, a levantar sem esforço e demonstrar interesse pela vida. “Era ele voltando a ser o cachorro cheio de vida que sempre foi”, lembra Emília, emocionada.
THC: vilão ou aliado?
O uso do THC em animais ainda levanta receios entre tutores. Muitos temem intoxicação ou reações adversas. Mas, segundo Carolina, isso se deve à confusão entre o uso recreativo e o medicinal.
“No contexto medicinal, trabalhamos com microdoses calculadas e individualizadas. O THC é essencial em casos de dor refratária, câncer ou perda de apetite. Quando bem manejado, ele não intoxica. Pelo contrário: melhora a qualidade de vida”, afirma a veterinária.
Ela também destaca que o objetivo do tratamento não é sedar, e sim aliviar. “Se o animal volta a dormir bem, comer melhor e interagir, é sinal de conforto. Se estiver letárgico, ajustamos a dose. Sedação é excesso, não é meta”.
Muito além da medicina: o legado do Negão

Negão partiu. Mas deixou um legado. Não só para Emília, mas também para todos os que acompanham sua história. “Aprendi que o cuidado vai além do básico, é buscar alternativas, estudar, tentar. A ciência, quando bem aplicada, transforma vidas. E o amor incondicional é isso: fazer o possível e o impossível pra aliviar o sofrimento de quem a gente ama”, reflete Emília.
Para Carolina, esse é o papel mais bonito da cannabis: levar dignidade onde a cura já não é mais possível. “A gente não tem como evitar a finitude, mas pode fazer com que ela seja mais leve, mais respeitosa”, finaliza.
Negão viveu cercado de carinho, ciência e escolhas conscientes. Em seus últimos dias, ganhou conforto, voltou a sorrir e, acima de tudo, teve o direito de partir com dignidade.
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