Canabidiol mostra potencial no combate à dor da endometriose, aponta estudo inédito brasileiro

Pesquisa clínica sugere melhora na percepção da dor e nos sintomas emocionais

Publicada em 15/09/2025

Canabidiol mostra potencial no combate à dor da endometriose, aponta estudo inédito brasileiro

“Não há dúvida de que o canabidiol traz melhoras robustas para essas pacientes”, afirmou o professor Oméro Benedicto Poli Nétto. Imagem: Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP

Na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, um grupo de 50 mulheres com endometriose aceitou participar de uma jornada científica em busca de alívio. O estudo avaliou o canabidiol (CBD), substância derivada da Cannabis sativa, como possível aliado na redução da dor e de outros sintomas.

Foram selecionadas e acompanhadas, durante nove meses, pacientes que não obtiveram melhora com tratamento hormonal ou cirurgias. O estudo utilizou um modelo duplo-cego: metade das voluntárias recebeu o canabidiol e a outra metade, placebo. Também, apostou em um acompanhamento, quase diários junto às pacientes, que iniciaram com 10 miligramas de óleo de CBD, chegando progressivamente até 150 miligramas.  

 

Canabidiol = "Melhoras robustas"

 

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 Oméro Benedicto Poli Nétto, coordenador do estudo e professor professor do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da FMRP. Imagem: Arquivo pessoal 

Segundo o coordenador do estudo, professor Oméro Benedicto Poli Nétto, os resultados foram relevantes. Um dos pontos de destaque foi a redução significativa na percepção da dor, medida por meio de escala analógica visual. “O que nós percebemos é que há uma queda importante na intensidade da dor. Pacientes que relataram nota 10, por exemplo, passaram a registrar 7 ou até 5”, explicou Oméro.

Mesmo assim, o pesquisador alerta para a proximidade de resultados entre o efeito placebo e o canabidiol, em relação à dor. “Esse contato muito próximo da equipe médica com as pacientes pode ter interferido bastante no processo de melhora. Mas, de qualquer maneira, mostra que, com suporte clínico adequado ou com o uso do CBD, é possível alcançar avanços significativos”, destacou.

A pesquisa também aponta melhora em sintomas psicológicos, como ansiedade e depressão, e na qualidade de vida das pacientes - embora algumas tenham apresentado sonolência durante o dia. 

 

“Não há dúvida de que o canabidiol traz melhoras robustas para essas pacientes”, afirmou o pesquisador.

 

Uma em cada dez brasileiras sentem na pele

 

De acordo com o Ministério da Saúde, uma em cada dez brasileiras sofre com endometriose. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a doença atinja 176 milhões de mulheres no mundo, incluindo mais de 7 milhões no Brasil. Mesmo com tratamentos eficazes, cerca de 30% das pacientes não apresentam resposta satisfatória. Esse foi o grupo escolhido para a pesquisa com canabidiol.

A endometriose ocorre quando um tecido semelhante ao revestimento do útero cresce fora dele, provocando inflamação, dor intensa na região pélvica e, em alguns casos, infertilidade. Embora não tenha cura, a doença pode ser controlada com medicamentos ou cirurgia.

 

Publicação em análise e novas perspectivas

 

A pesquisa está finalizada e aguarda aprovação em periódico científico. Segundo a FMRP, o artigo já passou pelas últimas etapas de revisão e pode ser publicado ainda em setembro.

“Esse é o primeiro estudo no mundo a ser concluído sobre o tema. Ele abre caminho para compreendermos melhor como o CBD atua em pacientes com endometriose e dor crônica. Novas pesquisas bem desenhadas poderão trazer mais luz para médicos e pacientes”, disse Oméro.

O pesquisador adiantou que já está planejando uma nova pesquisa, voltada à percepção diferenciada de dor em mulheres com endometriose. Segundo ele, pacientes que convivem com a dor diariamente, apresentam maior intensidade que a  população em geral. 

"Nossa aposta é que o CBD, ou mesmo a combinação de CBD e tetrahidrocanabinol (THC), possa atuar modulando essa percepção, com efeito sobre o sistema nervoso central e não apenas na doença periférica”, explicou.