Cannabis como alternativa no combate ao vício do vape
O uso de substancias mais leves, como a cannabis, consegue evitar a abstinência em cerca de 70% dos usuários de nicotina, ressalta médico
Publicada em 09/07/2024

O cigarro eletrônico pode ter até seis vezes mais nicotina que os normais, segundo estudo/ Imagem: Canva Pro
Segundo uma recente pesquisa realizada com a participação de 200 fumantes de vape (cigarro eletrônico), a concentração de nicotina no corpo desses usuários pode ser de três a seis vezes maior em relação aos fumantes comuns. O estudo foi realizado pela Vigilância Sanitária da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo em parceria com o Instituto do Coração (Incor) e o Laboratório de Toxicologia da Faculdade de Medicina da USP.
Com constante crescente no número de usuários de vape no Brasil, o debate sobre o tratamento do vício está ganhando cada vez mais força entre os profissionais da área da saúde. Em consulta pública realizada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), dos 13,9 mil participantes, 1.158 eram profissionais da saúde, destes, 745 (cerca de 65%) foram a favor de manter a proibição dos cigarros eletrônicos no Brasil.
Cannabis como redução do vício
Conforme o médico e colunista do Portal Sechat, Jimmy Fardin, a cannabis pode atuar como uma aliada na luta contra a dependência causada pelo cigarro eletrônico. “Temos trabalhos pré-clínicos mostrando que a manipulação do sistema canabinoide pode neutralizar os efeitos viciantes da nicotina”, destaca o ortopedista e traumatologista.
Segundo Jimmy, os medicamentos à base da planta interagem com os receptores nicotínicos do nosso corpo, influenciando no sentimento de recompensa e no processamento sensorial. “O uso de substâncias mais leves ou até combinadas consegue evitar a abstinência em cerca de 70% dos pacientes”, ressalta o médico.
Estudo científico
Um estudo piloto, realizado com 24 fumantes, avaliou o impacto do uso de canabidiol em pessoas interessadas em parar de fumar. 12 participantes receberam inaladores com CBD e a outra metade com placebo. Durante o teste os fumantes ficaram sem fumar nicotina, tendo que usar apelas o produto cedido pelos pesquisadores.
Na semana de tratamento, os usuários tratados com placebo não mostraram diferenças no número de cigarros fumados. Enquanto isso, aqueles que usaram o CBD reduziram em 40% o número de cigarros fumados durante o tratamento. Os resultados também indicaram alguma manutenção deste efeito no acompanhamento a médio e longo prazo.
“A redução de danos faz com que a pessoa tenha uma vida digna e responsável. É uma perspectiva mais realista para quem está na situação. O uso de drogas ilícitas já vem com um estigma de que a pessoa é um dependente químico, que a solução é punir e proibir. Por isso o tratamento com cannabis por uma outra via que não a inalada tem conseguido avançar na redução do consumo de vapes, tabaco e drogas ilícitas com sucesso há alguns anos”, destaca Jimmy Fardin.