Empresa aposta fortemente em construções com blocos de cânhamo e investe 22 milhões de euros em nova fábrica
Com produção local e foco em sustentabilidade, a Cânhamor inova o setor da construção civil com os ECOblocos, feito a partir de cânhamo
Publicada em 24/03/2025

Fábrica de 22 milhões de euros. Imagem: Arquivo Cânhamor
Apostando na construção civil com blocos de cânhamo, a Cânhamor, fundada em 2020, iniciou recentemente a produção dos ECOblocos na sua nova fábrica, construída com um investimento de 22 milhões de euros.
Localizada no Alentejo, região portuguesa de 27 330 km² e com uma população de pouco mais de 474 mil habitantes, a fábrica marca uma mudança expressiva na capacidade produtiva da empresa – que, há apenas cinco anos, fabricava em torno de quatro construções por mês e hoje ultrapassa a marca de 250.

A transformação da Cânhamor reflete a aposta na produção local e no potencial do cânhamo como matéria-prima. No último ciclo, a empresa recebeu quase 500 hectares da planta, e os planos para os próximos dois anos prevêem uma expansão para três mil hectares.
Frederico Barreiro, Diretor Comercial da empresa, destacou que “os ECOblocos são aplicáveis a qualquer construção, respondendo acima das normas aplicáveis a qualquer projeto”, ressaltando o ganho em eficiência e na redução de etapas construtivas. Ele apontou ainda que “o mercado está a gritar por uma solução” que seja, ao mesmo tempo, econômica e sustentável.
O que são os ECOblocos feitos de cânhamo
Os ECOblocos são produtos 100% naturais, feitos a partir de aparas de cânhamo, cal, argila e água. Após serem moldados e prensados, passam por um processo de cura natural ao ar livre – que dura entre 1,5 a 2 meses, com uma carbonatação contínua ao longo dos anos. Essa composição resulta em um material com alto desempenho térmico e propriedades naturais. Além disso, os blocos destacam-se por serem resistentes ao fogo, ao bolor e às pragas, contribuindo para uma construção mais sustentável e com menor pegada de carbono.

O cânhamo, por sua vez, é cultivado para uso em diversas aplicações, aproveitando seu baixo teor de THC e suas particularidades. A mudança para materiais sustentáveis na construção civil, historicamente um dos setores mais poluentes, impulsionou a aposta nos ECOblocos. Segundo Barreiro, “essa solução é 40% mais eficiente energeticamente, carbono negativo ”. Ele ressalta que, além do desempenho superior, os blocos consomem menos tempo de execução e a quantidade de materiais e operações, resultando em uma vantagem econômica significativa.
A estratégia da Cânhamor não se resume à inovação do produto. A empresa também investiu em conhecimento e parcerias, com consultores especializados – especialmente de França, onde a cultura do cânhamo já tem maior tradição – para educar o mercado e formar novos parceiros. “Somos compradores finais e, ao mesmo tempo, apoiamos os produtores locais, garantindo que a cultura se torne atrativa e escalável”, afirmou Barreiro.
Impacto na comunidade e parcerias locais
O projeto nasceu com o intuito de auxiliar a comunidade local, partindo de uma pequena fábrica até chegar ao patamar de uma das maiores unidades de produção do mundo. “Quando recebemos a ficha técnica e constatamos o potencial do produto, percebemos que tínhamos um 'tesouro nas mãos', capaz de causar um impacto gigante no setor da construção”.
Perspectivas de mercado e expansão Internacional
Inicialmente, o projeto foi concebido para atender ao mercado nacional e ibérico, com campanhas já iniciadas na Espanha e Portugal. Contudo, o potencial dos ECOblocos já despertou interesse em outros países, como Romênia, Inglaterra e Grécia. Segundo Barreiro, a importação do produto é estudar e as "portas estão abertas" para o futuro.
Barreiro ressalta que o diferencial competitivo do produto é, também, na independência do acesso à matéria-prima. “Ter a capacidade de processar nossa própria produção elimina a dependência de importação, conferindo uma vantagem brutal em termos econômicos”, comentou. Esse fator, aliado ao baixo custo de fabricação, reforça a visão de que os ECOblocos não serão apenas uma alternativa, mas poderão se tornar uma referência obrigatória em construções sustentáveis.
Barreiro destaca ainda que, o cultivo local é a base do projeto. "Sem a matéria prima, o produto torna-se até elitista, voltado para um nicho muito pequeno".
Quebra de tabus e o futuro do cânhamo
Apesar dos avanços, o setor ainda enfrenta desafios relacionados a preconceitos históricos. O cânhamo, que por décadas foi marginalizado e demonizado, passa por uma transformação de imagem. Barreiro relembra que “o cânhamo era uma cultura residual, mas com o trabalho conjunto de instituições e parceiros, portas foram desbloqueadas, colocando Portugal no mapa dessa revolução”.