Empresa cresce 5 vezes em valuation após Shark Tank e busca internacionalizar modelo até 2032
Com foco em retenção de pacientes, produtos próprios e expansão continental, Holy aposta em equilíbrio entre propósito e lucro
Publicada em 23/07/2025

No episódio, a Holy garantiu um investimento de R$ 2 milhões, recebendo um “sim” da empresária Carol Paiffer, que passou a deter 50% da empresa. Imagem: Arquivo pessoal
Apostar no mercado da cannabis não foi apenas uma decisão racional para o empresário Emanoel Almeida. Com raízes indígenas tupi-guarani e um histórico familiar marcado por desafios de saúde, Emanoel viu na medicina da floresta e na cannabis medicinal uma forma de resgatar o equilíbrio físico e emocional da mãe, que enfrentava um quadro severo de doenças crônicas.
Essa experiência pessoal foi o ponto de partida para a trajetória empresarial do CEO e fundador da Holy Natural Healers Ltda. que hoje mira a consolidação no ecossistema de saúde natural e integrativa em escala continental — e, futuramente, global. Fundada em 2020, a empresa projeta, até 2027, tornar-se o maior ecossistema de fitoterápicos e qualidade de vida da América Latina, mercado que, segundo relatório, até 2030, deve crescer de 10% a 14%.
Olhando o cenário global, a empresa busca, até 2032, internacionalizar o modelo de atuação da empresa, levando a chamada “soberania brasileira” para o mundo. Para alcançar os objetivos, a empresa aposta em distribuição de produtos, investimentos em pesquisa e desenvolvimento, atendimento médico e soluções acessíveis de saúde pública.
“A gente quer impactar a sociedade com um novo modelo de cuidado, e isso exige um equilíbrio entre o propósito e o lucro”, afirma Emanoel Almeida.
A virada de chave

O projeto ganhou impulso com a participação na 9ª temporada do Shark Tank Brasil, exibida em julho de 2024. No episódio, a Holy garantiu um investimento de R$ 2 milhões, recebendo um “sim” da empresária Carol Paiffer, que passou a deter 50% da empresa.
“A ida ao Shark Tank não foi apenas para levantar recursos, mas para mostrar que empresas com propósito também podem ser negócios viáveis, lucrativos e escaláveis”, comenta Emanoel.
Desde a entrada da investidora, a empresa cresceu cinco vezes em valuation e viu o número de pacientes aumentar 198% em relação ao ano anterior, de acordo com dados do último trimestre. Um reflexo direto do fortalecimento da marca e da estrutura comercial.
“A gente entendeu que era necessário se aliar a quem entende de negócios, e não só de cannabis”, diz o CEO. “Hoje, nossa estrutura permite um crescimento sólido, com um time médico robusto e um ecossistema de parceiros voltado para soluções reais".
Aposta na retenção dos pacientes
Como forma de se destacar no mercado, Emanoel aposta na retenção dos pacientes. De 2020, o número de pacientes passou de 200 para 3 mil em 2025, enquanto a taxa de retenção saltou de 15% (2021) para 50% (2023). O foco da empresa são pacientes clínicos, que passam por protocolo médico e buscam tratamentos de médio e longo prazo com cannabis medicinal.
O número de produtos também evoluiu, outro ponto importante para o empresário. De apenas 6 SKUs em 2020, a empresa passou a ter 160 produtos em 2024, com meta de ajustar o portfólio para 80 SKUs até o fim de 2025, priorizando qualidade e estabilidade nos tratamentos.
Apesar da queda no ticket médio, de R$1.287,42 em 2022 para R$804 em 2024, o volume de pedidos segue sustentando o crescimento. A projeção para 2025 é de crescimento de 350% em relação ao ano anterior.
Para continuar crescendo, Emanoel também aposta na produção de novos produtos. Em julho de 2025, a empresa iniciou a comercialização do Juba de Leão, olhando também o mercado de psicodélicos. A expectativa é atingir 20 mil pacientes até o final do ano, somando os atendimentos com cannabis e com a nova linha.
Desafios regulatórios no Brasil
Apesar do avanço nas vendas e no reconhecimento de mercado, Emanoel chama atenção para os entraves regulatórios no setor de cannabis medicinal no Brasil. Segundo ele, a falta de rastreabilidade eficiente e a ausência de produção nacional em escala dificultam o acesso a tratamentos estáveis e confiáveis.
“O mesmo produto chega ao consumidor com preços totalmente diferentes só pela marca ou pela logística de distribuição, sem que isso reflita, de fato, em qualidade”, aponta.
A recente decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que determinou ao governo federal a regulamentação do cultivo de cannabis para fins industriais com até 0,3% de THC, é considerada um avanço, mesmo que tímido. “Essa é só a pontinha do iceberg. O país precisa pensar em uma regulação robusta, que contemple produção nacional, uso industrial, agrícola, farmacêutico e alimentar. Com possibilidade de produzir com maior quantidade de THC”, ressalta.
Pensando nisso, a empresa participa de um Grupo de Trabalho sobre rastreabilidade da cannabis. Uma das propostas defendidas é a inclusão do conhecimento ancestral na regulamentação futura.
“Ninguém está ouvindo os indígenas, os povos que cultivam há milênios. A cannabis nativa brasileira existe. Falta reconhecer isso e integrá-la à discussão regulatória”.
Um novo modelo de negócio
Para Emanoel Almeida, empreender com cannabis no Brasil é “uma loucura”. Mas é uma loucura planejada, com base em estratégia, ciência e propósito. O mercado de cannabis medicinal no Brasil segue em ritmo acelerado de crescimento e deve atingir R$ 1,15 bilhão em 2026, segundo projeção divulgada pela consultoria Kaya Mind. A estimativa representa um salto significativo em relação aos R$ 852,6 milhões esperados para 2024.
"Acreditamos que dá para construir um novo modelo de negócio, que respeite a natureza, as pessoas e gere impacto social real", finaliza Emanoel.