Ações da cannabis voltam a subir em meio à disputa entre gigantes nos EUA
Apesar do bom desempenho do setor em julho, Alan Brochstein aponta riscos e incertezas para os principais operadores multi estaduais
Publicada em 21/07/2025

Setor registrou uma valorização de 8,2% em julho. Imagem: Canva Pro
As ações da indústria da cannabis voltaram a ganhar fôlego em julho. Segundo o Global Cannabis Stock Index, divulgado pela New Cannabis Ventures, o setor registrou uma valorização de 8,2% até o momento — desempenho muito superior ao do S&P 500, que subiu apenas 1% no mesmo período.
No entanto, o cenário geral ainda é de queda: no acumulado de 2025, o índice da cannabis recua 21,1%, enquanto o S&P 500 avançou 7,3%. Para o analista de mercado Alan Brochstein, fundador da comunidade 420 Investor, o entusiasmo recente deve ser encarado com cautela, especialmente no que diz respeito às MSOs (Multi-State Operators), as grandes operadoras multi-estacionais da cannabis nos Estados Unidos.
Em artigo publicado esta semana, Brochstein alerta em artigo no New Cannabis Ventures: “Possuir ações das MSOs é essencialmente, apostar na eliminação da tributação 280E. E isso, neste momento, parece cada vez mais improvável”.
A seção 280E do código tributário americano impede que empresas que comercializam substâncias ilegais em nível federal — como a cannabis — deduzam despesas operacionais comuns, o que representa um ônus fiscal significativo para o setor. A expectativa de uma reclassificação federal da planta, que eliminaria essa limitação, já foi mais forte no final de 2022. Hoje, Brochstein avalia que há pouca chance de mudanças a curto prazo.
Queda na confiança e exposição reduzida
Na sua carteira modelo, Brochstein reduziu a exposição às MSOs para apenas 12,4%, número similar à nova ponderação do índice global, que também encolheu após o rebalanceamento de junho. Atualmente, apenas três MSOs integram o índice: Glass House Brands, Green Thumb Industries (GTI) e Trulieve.
Apesar do momento de baixa, o analista reconhece que algumas dessas ações estão baratas. Entre as "Big Five" — Cresco Labs, Curaleaf, GTI, Trulieve e Verano Holdings — ele destaca a Verano como a mais barata em relação ao seu EBITDA ajustado. Ainda assim, reforça que a maioria enfrenta dificuldades financeiras sérias. A AYR Wellness, por exemplo, já sofreu uma queda de 67% em 2025.
O melhor balanço patrimonial entre as grandes MSOs, segundo Brochstein, é o da GTI. Mas mesmo ela é negociada com um prêmio acima de seu valor contábil tangível. Já a Glass House Brands, que emitiu ações preferenciais recentemente, se destaca por ainda manter um índice mais alto, embora o analista a considere “cara”.
Outros fatores de risco
Além da carga tributária, Brochstein aponta outros desafios estruturais: o ritmo lento de legalizações estaduais, a retração da demanda no pós-pandemia (especialmente nos estados do oeste) e a fragilidade no mercado de cânhamo. “Sou um grande fã do cânhamo, e três MSOs atuam nesse segmento, mas não vejo isso como um impulsionador relevante para essas ações”, afirma.
Ele ainda menciona a possibilidade de legalização ou reclassificação federal, mas pondera que, caso aconteça, não será em breve. “Haverá oportunidades de entrada se isso acontecer, mas até lá, o cenário segue adverso”, analisa.
Fusões, aquisições e limites estaduais
Brochstein também vê pouco espaço para uma onda de fusões e aquisições entre as grandes. Um exemplo citado é o caso não concretizado entre a Cresco Labs e a Cannabist (Columbia Care), frustrado por entraves regulatórios estaduais. “Alguns estados limitam o número de lojas de varejo ou o tamanho do cultivo, o que pode inviabilizar negócios maiores”, explica.
Apesar do tom crítico, o analista não descarta oportunidades em outras áreas do mercado. “Vejo mais potencial em ações auxiliares e em alguns produtores licenciados (LPs) canadenses. Desejo o melhor aos investidores da cannabis — mas que estejam atentos aos riscos”.
Com informações de New Cannabis Ventures