Estudo japonês contesta teoria da “cannabis como droga de entrada”
Pesquisa apoiada pelo governo do Japão indica que o uso de cannabis ocorre após álcool e tabaco e raramente leva ao consumo de outras substâncias
Publicada em 01/08/2025

Levantamento é descrito pelos autores como “um dos maiores e mais significativos estudos sobre usuários comunitários de cannabis no Japão até o momento”. Imagem: Canva Pro
Um novo estudo sobre os padrões de uso de drogas no Japão lança dúvidas adicionais sobre a ideia de que a maconha é uma droga de entrada. A pesquisa concluiu que o consumo de cannabis no país geralmente ocorre depois do início do uso de álcool e tabaco — e que, na maioria dos casos, não leva ao uso de outras substâncias.
Publicado no periódico Neuropsychopharmacology Reports, o levantamento é descrito pelos autores como “um dos maiores e mais significativos estudos sobre usuários comunitários de cannabis no Japão até o momento”.
Quase metade dos usuários de cannabis não experimentaram outras drogas
A pesquisa revelou que quase metade dos entrevistados que relataram ter usado maconha como terceira substância “não passaram a usar outras drogas depois disso”. O relatório, apoiado pela Associação Clínica Japonesa de Canabinoides e pelo Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar do Japão, afirma:
“O uso de cannabis no Japão geralmente ocorre após o consumo de álcool e tabaco, e raramente leva ao uso posterior de drogas. Essas descobertas desafiam a hipótese da porta de entrada no contexto japonês”.
Fatores sociais e políticas restritivas moldam padrões de uso
Embora reconheça que a cannabis é frequentemente rotulada como uma “droga de entrada”, o estudo destaca que faltam evidências causais fortes sobre a progressão para o uso de outras substâncias. Em vez disso, os dados sugerem que “vulnerabilidades compartilhadas” — como idade, escolaridade e status socioeconômico —, além de políticas rigorosas sobre drogas, moldam esses comportamentos.
A pesquisa foi realizada por meio de questionário anônimo, em janeiro de 2021, com 3.900 pessoas que já haviam usado cannabis. Os pesquisadores analisaram as chances de os participantes utilizarem outras substâncias após o primeiro contato com a maconha.
De acordo com os autores, as chances de uso posterior de álcool, tabaco, metanfetamina e outras drogas ilícitas após a cannabis foram, respectivamente, de 1,25, 0,77, 0,08 e 0,78 — sugerindo baixa probabilidade de progressão.
Embora 10,4% dos usuários de maconha tenham relatado já ter usado metanfetamina — percentual superior à média nacional de 0,5% — o estudo destaca que isso não implica causalidade.
Mercado ilícito e a teoria da responsabilidade comum
O relatório apoia a chamada “teoria da responsabilidade comum”, que propõe que a ordem de uso das substâncias não decorre de um efeito causal entre elas, mas sim de fatores genéticos, sociais e psicológicos compartilhados que predispõem os indivíduos ao uso múltiplo.
“No Japão, regulamentações rigorosas sobre a cannabis podem gerar um cenário em que ela circula no mesmo mercado que outras drogas ilícitas, o que aumenta a exposição dos usuários”.
A pesquisa também observou taxas menores de uso de substâncias legais, como benzodiazepínicos e medicamentos prescritos, entre os participantes.
Limitações do estudo e próximos passos
Os autores reconhecem limitações metodológicas, como o recrutamento por redes sociais e o foco exclusivo em pessoas que já haviam usado cannabis. Por isso, recomendam estudos de coorte em larga escala com a população geral.
Apesar disso, os resultados são claros: “Não observamos padrões que apoiem a hipótese da droga de entrada”.
Conteúdo publicado originalmente em MarijuanaMoment