Faculdade de Jundiaí recruta voluntários para estudo inédito com cannabis em Alzheimer

Faculdade de Medicina de Jundiaí recruta voluntários para estudo pioneiro com THC e CBD em pacientes com Alzheimer moderado, trazendo esperança de novos cuidados e mais qualidade de vida

Publicada em 24/09/2025

Faculdade de Jundiaí recruta voluntários para estudo inédito com cannabis em Alzheimer

Pesquisadores buscam participantes para ensaio clínico com CBD e THC em Alzheimer moderado | Foto: CanvaPro

Investir em pesquisa não é apenas somar dados em relatórios: é abrir caminhos para que famílias encontrem novos horizontes e pacientes possam ter mais qualidade de vida. É nesse espírito que a Faculdade de Medicina de Jundiaí (SP) está recrutando voluntários para um ensaio clínico pioneiro no Brasil, que investiga o uso combinado de canabidiol (CBD) e tetrahidrocanabinol (THC) em pessoas com Alzheimer moderado.
 

O estudo em andamento

 


Conduzido pela mestranda Tereza Raquel Xavier Viana, que também é escritora, o projeto é o primeiro do país a analisar formulações balanceadas de THC e CBD em pacientes com Alzheimer em estágio moderado de agitação. O objetivo é compreender a interação entre as moléculas e medir sua eficácia na redução de sintomas que impactam não só a vida dos pacientes, mas também a de seus cuidadores.


O recrutamento é feito por meio de formulário e direcionado a pessoas acima de 60 anos, com diagnóstico clínico confirmado e exames que atestem o estágio da doença. Para garantir segurança, há critérios de exclusão, como histórico de reações adversas aos compostos, uso recente de cannabis ou de determinados medicamentos, além de doenças graves que possam trazer riscos.


Todo o processo segue rigorosamente os protocolos éticos do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP/CONEP) e é acompanhado de perto por médicos e especialistas da instituição. A pesquisa tem orientação do doutor José Eduardo Martinelli e coorientação do professor Ivan Aprahamian.

 

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A mestranda Tereza Raquel Xavier Viana conduz pesquisa pioneira na Faculdade de Medicina de Jundiaí sobre o uso de THC e CBD em pacientes com Alzheimer moderado | Foto: Divulgação


Em conversa com o Sechat, a mestranda Tereza Raquel Xavier detalhou como funciona o cotidiano da seleção e do acompanhamento dos voluntários.


Como funciona, na prática, o processo de triagem dos pacientes e quais critérios são mais importantes para definir quem pode participar da pesquisa?


A triagem é essencial porque garante a segurança dos pacientes e a qualidade da pesquisa. Os atendimentos são feitos no Ambulatório de Geriatria da Faculdade de Medicina de Jundiaí (FMJ). Para participar, o paciente precisa ter Alzheimer em estágio moderado, já confirmado por diagnóstico clínico e exames de imagem, além de ter 60 anos ou mais. Também temos critérios de exclusão, como doenças graves que possam colocar o paciente em risco, uso recente de cannabis ou de certos medicamentos, e histórico de reações adversas a CBD ou THC. Para a inclusão, o responsável legal do paciente precisa assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), que formaliza a participação de forma clara e transparente.


Depois que um voluntário é aceito, como é a rotina inicial de acompanhamento e orientação para que ele e seus cuidadores se sintam seguros em participar do estudo?


Depois da aceitação e da assinatura do TCLE, o paciente passa por três avaliações mensais nos primeiros três meses. São testes cognitivos, funcionais e comportamentais feitos pela equipe de Geriatria da FMJ. Depois, ocorre a randomização, um sorteio que define em qual grupo ele ficará: o grupo intervenção, que recebe o óleo medicinal e as avaliações mensais, ou o grupo controle, que também passa pelas avaliações mensais e é fundamental para a comparação científica. No grupo intervenção, há ainda um acompanhamento semanal, com canal aberto para relatar qualquer efeito adverso. O cuidador recebe uma folha de dosagem para anotar tudo. É um processo pensado para dar acolhimento e segurança, tanto ao paciente quanto à família. Eles não caminham sozinhos.


Qual a relevância científica e social de conduzir uma pesquisa pioneira como essa no país?


Até onde sabemos, este é o primeiro estudo no Brasil a investigar o uso de THC e CBD em formulação balanceada em pacientes com Alzheimer moderado. A relevância é enorme. Para os pacientes e cuidadores, significa esperança de novas opções de cuidado e qualidade de vida. Para os profissionais da saúde, dados clínicos que dão mais segurança e respaldo. Para a ciência, é conhecimento produzido no Brasil, que dialoga com a pesquisa internacional. E, no futuro, pode abrir portas para políticas públicas, ajudando a criar protocolos seguros e ampliar o acesso dentro do sistema de saúde. É uma pesquisa ética, regulada e que pode impactar milhares de famílias.


Mais do que um estudo, trata-se de um investimento no futuro da ciência e, sobretudo, na dignidade de quem convive com o Alzheimer e suas famílias. Para quem quiser participar do recrutamento, é necessário preencher este formulário e aguardar retorno da instituição.