Formas de utilizar a cannabis medicinal  

Confira um guia completo sobre as principais vias de administração, tempo de ação no organismo e as diferentes formulações dos derivados da planta

Publicada em 19/09/2023

Formas de utilizar a cannabis medicinal  

Devido à versatilidade da cannabis, diversas formas de utilização da cannabis e seus derivados têm surgido ao longo dos anos. Neste post, serão exploradas algumas vias de administração mais comuns, tempo de ação e diferença entre produtos full spectrum, broad e isolado. 

No entanto, é preciso ressaltar que nem todas as formas são legalizadas em todos os países. Alguns tipos de uso podem ser criminalizados, enquanto outros são permitidos, assunto este abordado mais a fundo na II edição do E-book Sechat, disponível gratuitamente para download. 

A cannabis pode ser utilizada de diversas maneiras, desde óleos até comestíveis. Descubra as principais formas de utilização a seguir. 

USO ORAL 

  • > Óleos e Tinturas 

Os óleos enriquecidos com canabinoides são os mais populares entre os pacientes que fazem uso medicinal da planta, uma vez que os fitocanabinoides (compostos produzidos pela planta) são lipossolúveis, isto é, solúveis em líquidos, além de terem preço mais acessível e prazo de validade mais longo.  

A dosagem do óleo de cannabis deve ser prescrita por um médico de forma específica a cada paciente pois, o que é benéfico para algumas pessoas, pode não ser para outras. Portanto, não há uma dosagem ou combinação única e universal que funcione para todos, tudo depende de como o paciente reage à medicação, por isso, o acompanhamento individual por um profissional de saúde habilitado se faz necessário nestes casos. 

Para algumas doenças, como depressão, ansiedade ou distúrbios do sono, é recomendado, na maioria das vezes, um produto com alto teor de CBD e baixo teor de THC. Já para diminuição de dores crônicas ou neuropáticas, síndromes raras, entre outros, é recomendado um produto com mais THC ou com quantidades iguais de THC e CBD, na composição 1:1. 

Entenda: 

Existem três tipos de extratos de óleos: 

  • Full-spectrum: contém todos os componentes da planta, desde os fitocanabinoides, como CBD, THC e outros, até os terpenos e canaflavinas; 
  • Broad-spectrum: contém terpenos e de dois a todos fitocanabinoides, menos um; ex: CBN, CBG e Mirceno (tipo de terpeno); 
  • Isolado: contém apenas um canabinoide. 

Diferenças entre extratos de cannabis 

Na hora de tomar o óleo à base de cannabis, é importante considerar alguns fatores para concluir quais a melhor dosagem e a melhor concentração para o paciente, tal como o uso de medicamentos convencionais, qual a doença a ser tratada, idade, peso e estilo de vida do paciente. Por isso, é imprescindível que o indivíduo faça uso desse tipo de medicamento somente se for prescrito por um médico. 

O Sechat dispõe de uma lista de médicos prescritores com mais de 150 cadastros em todo o Brasil, que pode ser acessada em:

https://www.sechat.com.br/lista-de-medicos/

Para ação mais rápida na absorção do óleo, é indicado que as gotas sejam colocadas debaixo da língua, forma de uso mais prescrita entre os médicos. Além disso, outra orientação importante é estar atento aos ingredientes listados no rótulo do produto, com preferência pela opção de óleos com ingredientes naturais e orgânicos, e verificar se há algum ingrediente extra que potencialize seus benefícios. 

Quanto às distinções entre óleos e tinturas, fatores como o processo de produção e o ingrediente base são levados em consideração. Enquanto os óleos são normalmente uma mistura de extrato de cannabis e um óleo carreador inerte, como o óleo de coco de triglicerídeo de cadeia média (TCM), as tinturas são extratos à base de álcool, substância usada como solvente para extrair os compostos naturais da planta de cannabis. Já no óleo, por sua vez, os canabinoides, flavonoides e os terpenos são extraídos do próprio material vegetal. 

A escolha de um ou de outro irá depender, não só do objetivo para o qual se irá usar o medicamento, mas também pela possível sensibilidade ao álcool da tintura ou ao óleo. Contudo, o fator predominante que caracteriza essa diferença está na concentração. 

Enquanto as tinturas são mais concentradas para o uso sublingual, o óleo é mais diluído. Em casos de doenças mais graves, é necessário usar altas doses de cannabis com o extrato puro da planta, ou seja, sem veículos líquidos para dissolvê-lo. Para isso, usa-se o dosador, que é uma espécie de seringa. 

  • > Cápsulas e comprimidos 

Outra alternativa de uso da cannabis medicinal é por meio de cápsulas. Diferente dos métodos citados anteriormente, as cápsulas têm menor biodisponibilidade, ou seja, levam um pouco mais de tempo para fazer efeito, já que precisam passar pelo trato digestivo. Por esse motivo, uma parte da quantidade de canabinoides nos comprimidos, não atingirá a corrente sanguínea de quem a utiliza. 

As cápsulas demoram, em média, 60 minutos para fazerem efeito, no entanto, tais efeitos podem durar horas, apresentando, contudo, a vantagem de fornecer uma dosagem precisa, já que a composição de cada unidade é fixa. O fato de ser um produto sem sabor é outra vantagem, pois é possível que alguns pacientes se sintam incomodados com o gosto vegetal do óleo. 

Comestíveis 

Produtos alimentícios à base de cannabis estão cada vez mais populares e são apresentados em muitas formas diferentes. Esses alimentos contêm um ou mais ingredientes da planta de cannabis ou, no caso dos produtos full spectrum, contêm todos eles. Semelhante aos comprimidos ou cápsulas, os comestíveis são consumidos por via oral. 

A experiência geral com alimentos é diferente. É possível que o efeito leve horas para ser notado, mas possibilita ser mais intenso e durar mais tempo do que vaporizar cannabis, por exemplo.  

No geral, os efeitos se iniciam de 30 a 60 minutos após o consumo e, a depender da quantidade e do tipo de canabinoide, há possibilidade de o impacto no organismo durar entre 6 e 8 horas.  

Os consumidores que fazem uso de comestíveis de cannabis, no entanto, devem ficar atentos e tomarem cuidado para não ingerir quantidades adicionais enquanto esperam pelo efeito total, que às vezes demora um pouco mais do que outros tipos de usos. Além disso, a desatenção às dosagens indicadas na embalagem pode gerar efeitos adversos como aumento do apetite, boca seca, sonolência, entre outros. 

Muitos indivíduos relatam que a cannabis comestível é uma experiência mais intensa que a inalação. Pesquisadores do estudo “Tasty THC: Promises and Challenges of Cannabis Edibless”, publicado em 2017, no site National Center for Biotechnology Information, dizem acreditar que isso ocorre porque, quando o THC é consumido, a substância é convertida em 11-hidroxi-THC (principal metabólito ativo do tetrahidrocanabinol), que é formado no corpo após o consumo da cannabis descarboxilada, do qual é particularmente eficaz em atravessar a barreira hematoencefálica e resultar em efeito mais intenso.  

Para algumas pessoas, o 11-hidroxi-THC oferece o benefício de aumentar os resultados da cannabis sem a necessidade de consumir mais. Para outros, os efeitos apresentam-se muito intensos e indesejáveis. 

  • > Spray 

Outro formato possível de administração de medicamentos de cannabis por via oral é o spray. Atualmente, existem poucas opções deste tipo de produto no mercado. O mais conhecido, certamente, é o Mevatyl, primeiro produto à base de cannabis aprovado pela Anvisa para ser vendido nas farmácias brasileiras.  

O spray oral é indicado para diminuir a espasticidade em pacientes com Esclerose Múltipla (EM). O benefício deste formato é que ele oferece exatidão na dose, além de alívio rápido, pois os componentes são absorvidos rapidamente pelas mucosas da boca. 

USO INALATÓRIO 

  • > Vaporização 

Outra forma de consumir a cannabis para fins medicinais é por meio da vaporização. A vaporização significa transformação da cannabis em vapor para inalar os ingredientes ativos.  

Assim como as outras formas de administração da planta, a vaporização também pode trazer diversos benefícios à saúde e ao bem-estar de quem a utiliza. Um dos maiores é o fornecimento de nível mais alto de biodisponibilidade (ou seja, a quantidade e a velocidade da absorção do princípio ativo), que se refere à proporção de fitocanabinoides que realmente entram no sistema de circulação do corpo.  

Mais especificamente, a vaporização de canabinoides oferece uma taxa de biodisponibilidade menor em relação às outras formas de administração, como a dos óleos e a dos comestíveis, uma vez que leva de um minuto a cinco minutos para fazer efeito. Contudo, a duração desses efeitos também é menor, ao manter a ação entre 45min e três horas após a utilização.  

Um ponto preocupante, entretanto, é a possível toxicidade. Em 2019, uma onda de doenças pulmonares nos Estados Unidos, provocadas pelos cigarros eletrônicos, conhecidos como “vapes” ou “canetas”, alertou as autoridades do país. Por meio de um estudo realizado pela importante revista científica Chemical Research in Toxicology, foi comprovado que alguns modelos de vaporizadores possibilitam o aparecimento de problemas pulmonares e pneumonias.  

A pesquisa revelou, que as bobinas de aquecimento do cartucho de vapor e as partes do núcleo são feitas de aço inoxidável, ou seja, de metais pesados como níquel, cromo e cobre, que podem lixiviar para o concentrado quando aquecidos ou quando o cartucho é deixado parado por muito tempo. Por isso, é importante que esse tipo de consumo da cannabis seja feito por meio de recomendação de um médico e com produtos que ofereçam segurança, garantia e qualidade previamente recomendados pelos órgãos competentes como a Anvisa

USO TÓPICO 

Para uso tópico, as possibilidades são cremes, adesivos, bálsamos, bomba de banho, gel, loção, óleo, pasta, pomada, sabonete, lubrificantes íntimos entre outros, por oferecer efeito localizado quando aplicado na superfície da pele.  

É possível utilizar o bálsamo com canabinoides nas articulações e para tratar dores musculares. Já as propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes de alguns canabinoides, como o CBD, CBG, CBC e o CBN, são úteis também no tratamento de algumas doenças da pele, como acne e problemas relacionados à psoríase e eczema. 

À medida que as substâncias presentes na cannabis são apontadas como benéficas à saúde da pele, mais empresas se interessam em produzir produtos de uso tópico. Um estudo de 2020, a Universidade de Córdoba, na Argentina, em parceria com a Universidade de Dundee, na Escócia, mostrou pela primeira vez que o CBD induz a produção de heme oxigenase 1 (que é uma enzima antioxidante e anti-inflamatória) em células da camada superior da pele, conhecidas como queratinócitos, possibilitando, por exemplo, o tratamento de doenças como a dermatite atópica.  

Os especialistas em saúde e beleza dizem acreditar que os compostos de cannabis também ajudam a reduzir a inflamação local e a diminuir o tempo de cicatrização. Além disso, as propriedades antioxidantes dos canabinoides são importantes porque tornam possível a proteção contra os danos dos radicais livres, os quais levam a pele a parecer mais ressecada e com mais linhas finas e rugas.  

O CBD, por exemplo, é um canabinoide rico em vitaminas A, C e E. A vitamina A é conhecida por estimular as células responsáveis pela produção do tecido que mantém a pele saudável e firme. Já a vitamina C estimula a produção de colágeno, que é um nutriente essencial no processo de cicatrização da pele. A vitamina E é um antioxidante que bloqueia os radicais livres do corpo e, portanto, auxilia nas formulações antienvelhecimento. 

A cannabis para fins medicinais em forma de uso tópico também chamou a atenção de atletas nos últimos anos. À medida que mais pesquisas são feitas acerca dos benefícios do CBD, mais esportistas decidem aderir a esse tipo de tratamento alternativo. O composto pode ser eficaz ao tratar aspectos como dores, recuperação e aumento muscular e ampliação da resistência dessas pessoas. Como resultado de tais evidências, a Olimpíada de Tóquio de 2021 permitiu o uso do CBD entre os atletas. Contudo, o THC continua proibido pela Agência Mundial Antidopagem (WADA). 

USO VAGINAL 

  • > Absorvente interno 

Já existe absorvente vaginal interno infundido com solução canábica. Também conhecido como supositório vaginal, é possível ser usado para o alívio de cólicas menstruais, uma vez que oferece alívio quase imediato, ao promover a diminuição das dores com 15 minutos de uso. O objetivo é proporcionar os benefícios calmantes da cannabis, diretamente no local da dor.  

O melhor de tudo isso é que tal produto já pode ser encontrado no Brasil. Pensando no bem-estar das mulheres durante o período menstrual, a Terra Cannabis, representante nacional da Foria Wellness, empresa de origem norte-americana e criadora do produto, já disponibiliza o absorvente em seu site para compra.  

O absorvente infundido com tetrahidrocanabinol (THC), o principal composto psicoativo da maconha, proporciona alívio em cerca de 15 a 20 minutos de uso. Sua utilização é simples, assim como um absorvente interno, o produto deve ser retirado após 15 minutos e substituído por um absorvente comum. Diferentemente de outros produtos à base de cannabis, a fórmula criada pela Foria Wellness não apresenta efeitos psicoativos, atuando apenas diretamente nas terminações nervosas do útero, do colo do útero, ovários e tecidos musculares para aliviar as dores menstruais. Ativando receptores canabinóides na região pélvica, a solução age diretamente no sistema imunológico promovendo o bem-estar feminino nessa fase. 

Outro produto que também vem ganhando destaque são os géis lubrificantes para a região íntima da mulher infundidos com CBD e THC, que servem tanto para evitar o ressecamento da vagina como para ser utilizado como anti-inflamatório contra lesões decorrentes do ato sexual ou mesmo de patologias relacionadas. 

Um exemplo desse tipo de produto é o Xapa Xana, que promete “despertar o libido e potencializar as sensações ao toque e orgasmos de pessoas que nasceram com vagina”, revela a brasileira e fundadora da empresa Débora Mello, que desde 2017 mora no Uruguai. Com o objetivo de promover a arte, cannabis e empoderamento sexual feminino, Débora é considerada uma das primeiras empreendedoras a promover o setor para o segmento erótico. 

USO RETAL 

  • > Supositórios 

Já existe no mercado supositórios à base de cannabis para serem usados por pacientes com patologias intestinais. Este tipo de medicamento é indicado a enfermos que têm dificuldade de engolir, como idosos, crianças ou pessoas em tratamento quimioterápico.  

O supositório também é indicado por agir rapidamente e chega à corrente sanguínea entre 10 e 15 minutos após a introdução, tendo ação prolongada com duração entre quatro a oito horas. Apesar da dificuldade em encontrar esses produtos no Brasil, importações que respeitem a legislação vigente já podem ser feitas de forma simples, por meio de pedido ao órgão regulador sanitário (Anvisa). 

Conclusão 

A cannabis medicinal oferece uma ampla gama de opções de administração, desde o uso oral até o tópico, inalatório, retal e vaginal. Cada uma dessas vias de administração tem suas próprias vantagens e considerações específicas. É importante destacar que a legalidade dessas formas de uso varia de país para país, e a orientação médica é fundamental para garantir o uso seguro e eficaz da cannabis medicinal. Como mencionado anteriormente, a dosagem e a composição dos produtos de cannabis devem ser personalizadas de acordo com as necessidades individuais de cada paciente. Portanto, a consulta a um profissional de saúde habilitado é essencial para orientar os pacientes na escolha da forma de administração mais adequada e na determinação da dosagem correta.