Irmãos que mudaram o CBD agora desenvolvem medicamentos com cogumelos mágicos

Os irmãos Stanley, criadores da icônica Charlotte’s Web, agora investem em medicamentos botânicos feitos com cannabis e psilocibina para tratar o autismo

Publicada em 04/07/2025

Irmãos que mudaram o CBD agora desenvolvem medicamentos com cogumelos mágicos

Irmãos Stanley com a menina Charlotte, durante gravação do documentário Weed | Foto: Divulgação

Em um armazém no Colorado, onde antes brotavam sementes de esperança para uma menina chamada Charlotte, agora nascem novos corpos frutíferos de outro milagre da natureza: os cogumelos psicodélicos. Joel Stanley, um dos sete irmãos que criaram a Charlotte’s Web,  referência mundial no uso do CBD, caminha entre salas de cultivo de cogumelos com a serenidade de quem sabe que está, novamente, semeando um futuro promissor.

A história, que já mudou a vida de milhares de famílias com a planta de cânhamo rica em CBD, agora se entrelaça com fungos potentes, psilocibina, canabinoides e a difícil missão de desenvolver medicamentos naturais com potencial bilionário, desta vez, para tratar o autismo e outras condições mentais profundas.


Um laboratório, muitas moléculas e um só propósito


Joel fundou a Ajna BioSciences em 2021, com o objetivo de levar medicamentos botânicos à aprovação da FDA (agência reguladora dos EUA). Sua empresa cultiva cogumelos psicodélicos de maneira orgânica e também produz extratos de CBD e THC, buscando o que ele chama de “uma abordagem farmacêutica para a natureza”.

A estrela desse novo caminho é o AJA001, uma tintura botânica feita a partir da famosa planta Charlotte’s Web, que combina cerca de 6.000 compostos naturais e que, agora, está sendo testada para o tratamento da irritabilidade no Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Enquanto o mundo ainda discute os efeitos e os tabus dos psicodélicos e da cannabis, Joel e seus irmãos seguem confiantes. Já investiram mais de US$ 28 milhões para chegar até a segunda fase dos ensaios clínicos, a mais complexa depois da última, e esperam atingir o mercado com um produto seguro, eficaz e orgânico.


De Charlotte para o mundo: o legado dos Stanley


A Charlotte’s Web nasceu em um porão, com 16 lâmpadas, e cresceu com a fé de uma família que acreditava em algo maior. A fé foi recompensada quando a pequena Charlotte Figi, diagnosticada com Síndrome de Dravet, começou a responder ao óleo produzido pelos irmãos. Suas convulsões caíram de 50 por dia para uma por mês, e o mundo inteiro assistiu ao documentário “Weed”, da CNN, se emocionando com a história contada por Sanjay Gupta.

Agora, os Stanley querem repetir o feito. Desta vez, com um medicamento que não só acalma a irritabilidade de pacientes com TEA, mas também carrega em si a complexidade de milhares de compostos naturais, sem os efeitos colaterais dos medicamentos antipsicóticos atuais, como o Risperdal e o Abilify.


O desafio da regulação e o poder da persistência


A caminhada não é simples. Apenas quatro medicamentos botânicos foram aprovados até hoje pela FDA, e o histórico recente de tentativas frustradas, como o MDMA da Lykos ou o Sativex da GW Pharma, mostra o quão íngreme é essa subida.

Mas os irmãos não desanimam. Com a ajuda de Orrin Devinsky, o renomado neurologista que conduziu os estudos do Epidiolex, eles apostam no ineditismo de um produto botânico completo, difícil de replicar por genéricos e rico em diversidade química, o que pode ser sua maior fortaleza contra a concorrência.

Além disso, a Ajna detém licenças da DEA para trabalhar com substâncias proibidas, como o 5-MeO-DMT, conhecido como a “Molécula de Deus”. Ainda que não estejam focados nesse composto agora, ele representa uma possibilidade de futuro para a expansão terapêutica da empresa.


De volta ao início: uma história de fé e resiliência


“Já levantamos US$ 28 milhões nos últimos quatro anos, durante um dos piores períodos para captar recursos”, conta Joel. “Isso mostra que vale a pena.” A próxima rodada de investimentos será dedicada a custear a Fase II, orçada em mais de US$ 20 milhões. 


Com informações de Forbes.

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