Maconha não é uma droga de entrada, diz estudo

Desmistificando a noção de que o consumo de cannabis leva ao uso de drogas mais pesadas

Publicada em 07/03/2024

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Um estudo vem desafiando a crença arraigada de que a cannabis serve como uma porta de entrada para o uso de substâncias mais prejudiciais. Publicado em 2016 na National Library of Medicine, os resultados da pesquisa contradizem a ideia de que a legalização da maconha resulta em um aumento do consumo de outras drogas, bem como de problemas relacionados ao abuso de substâncias.

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Ministro André Mendonça (Foto: Agência Brasil)

A teoria da cannabis como uma droga de entrada, embora profundamente enraizada na retórica da Guerra às Drogas, não encontra respaldo nos dados apresentados pelo estudo. Contrariando as afirmações recentes do Ministro André Mendonça no julgamento sobre a descriminalização do porte de drogas pelo Supremo Tribunal federal (STF), que sustentam a ligação entre o uso de maconha e o subsequente consumo de drogas mais perigosas, os resultados desta pesquisa oferecem uma perspectiva diferente.

O estudo, conduzido ao longo de duas décadas e abrangendo mais de 4.000 gêmeos, revelou que a legalização da cannabis em estados como o Colorado, nos EUA, não resultou em um aumento significativo do consumo de outras substâncias. Ao contrário, constatou-se uma possível redução dos problemas associados ao álcool.

Os pesquisadores destacaram que a análise cuidadosa dos dados não demonstrou uma correlação entre a legalização da maconha e o aumento de transtornos por uso de substâncias, tanto relacionados à cannabis quanto a outras drogas. Além disso, não foram identificados vínculos entre a regulamentação do uso adulto e problemas cognitivos, psicológicos, sociais, de relacionamento ou financeiros entre os participantes.

No entanto, é importante reconhecer as limitações do estudo, que se concentrou principalmente em indivíduos de regiões específicas do país norte-americano, sendo a grande maioria dos participantes de cor branca. Apesar dessas restrições, os resultados oferecem uma visão significativa sobre os efeitos da legalização da cannabis, desafiando as narrativas convencionais.

Este estudo destaca a necessidade contínua de questionar as suposições sobre a cannabis e seu papel como droga de entrada. Além disso, a regulamentação e testes de produtos associados à legalização podem garantir a segurança dos consumidores, ao mesmo tempo em que promovem uma compreensão mais aprofundada dos efeitos e benefícios da cannabis.

Enquanto este estudo lança luz sobre a questão da cannabis como droga de entrada, há ainda muito a ser explorado. A pesquisa futura deve se concentrar não apenas na prevalência do uso de cannabis, mas também em aspectos como potência, dosagem e padrões de consumo de THC, proporcionando uma compreensão mais abrangente do seu impacto na saúde pública.