Medicina canábica vai além da prescrição

Profissionais da saúde que querem se destacar precisam investir em conhecimento sobre a planta.

Publicada em 01/03/2024

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“Na clínica, eu comecei a trabalhar com cannabis quando eu adquiri a expertise necessária para poder indicar o tratamento e seguir no acompanhamento dos meus pacientes, uma etapa muito importante para atingir os resultados que se espera”, pontua Letícia Franco, médica de família e entusiasta da cannabis medicinal.

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Letícia Franco é médica da família | Foto: arquivo pessoal 

Após surgir o interesse pela cannabis enquanto terapia, Letícia se dedicou por dois anos aos estudos sobre a planta e suas possibilidades de tratamento. Realizou três cursos e entende que a continuidade na busca de informação e conhecimento é primordial para realizar um bom atendimento.

“Os médicos que estiverem interessados em de fato entender o tratamento estarão prontos para prescrever, mas o estudo não pode ser superficial, já que o Sistema Endocanabinoide atua em todo o nosso organismo. É preciso conhecer as ferramentas terapêuticas para conseguir atuar nessa área”, reforça a médica.

O que despertou o interesse da Dra. Letícia pela cannabis foi o fato da planta promover a homeostase do organismo como um todo, podendo atuar não somente na patologia diagnosticada, mas trazer benefícios em outras frentes.

Congresso Brasileiro da Cannabis Medicinal


O 3° Congresso Brasileiro da Cannabis Medicinal acontecerá nos dias 23, 24 e 25 de maio de 2024, no Expo Center Norte. Com uma grade abrangendo mais de 100 palestrantes e expectativa para 1.200 congressistas.
 

“A cannabis promove uma melhor qualidade de vida do paciente, com baixo efeito colateral e com uma dificuldade grande de se chegar a um nível tóxico, ou seja, é um tratamento seguro. O paciente busca tratar uma doença em específico, mas percebe a melhora em outros aspectos. Por exemplo, um paciente que usa cannabis para tratar dor crônica, mas acaba tendo uma melhora do sono e de sintomas ansiosos, ou seja, é uma terapia complementar, isso é fantástico”, destaca.

Terapia canábica no SUS

Enquanto no atendimento particular o paciente, na maioria das vezes, já chega no consultório querendo saber mais sobre a cannabis medicinal, no SUS pouco se fala sobre essa terapia. Uma realidade que precisa mudar para que o tratamento com cannabis seja acessível para toda a população.

“Como eu atuo no particular e no SUS, eu percebo a diferença do impacto do tema cannabis para cada paciente. Os da rede pública, além de não conhecerem, têm um certo preconceito por conta de todo o estigma que a planta carrega. Por isso, abrir essa porta no SUS, capacitando os profissionais para educar essa população e facilitando o acesso aos produtos, é um ótimo caminho de integração dessa medicina na rede pública. Diferente do atendimento particular, que a maioria das pessoas já chega no consultório querendo entender o tratamento, dispostos a fazer essa escolha”, explica a médica.
 

O Uso de Produtos de Cannabis na Prática Clínica

Prescreva com segurança produtos de Cannabis e faça parte dessa revolução da saúde.

 

Preconceito na classe médica

Mesmo diante dos avanços das pesquisas e dos resultados que os pacientes revelam com o tratamento, ainda existe muito preconceito dentro da classe médica.

“Muitos médicos se limitam a repetir que não existem evidências suficientes, sendo que hoje os estudos só crescem e os resultados são efetivos e seguros. Mesmo assim, a gente continua ouvindo que não existe embasamento científico, enquanto vários medicamentos alopáticos têm poucas ou fracas comprovações de seus efeitos e não são tão recriminados”, pontua.

Cannabis, o futuro da medicina

“A cannabis pode ser sim o futuro da medicina. Como diz Sidarta Ribeiro, um neurocientista que compara a revolução da cannabis na medicina contemporânea da mesma forma que foi a descoberta da penicilina no século passado, estamos vivendo um momento muito importante na história. Ainda que a cannabis seja indicada para diversas patologias, é preciso tomar cuidado, pois existe uma linha tênue entre aqueles que não acreditam em nada da cannabis e aqueles que acham que ela é o elixir da vida. Os estudos seguem avançando para termos cada vez mais solidez na prescrição em áreas que ainda não se tem muita pesquisa. E ainda existe um caminho árduo de trazer luz a um processo de estigma e preconceito em torno da planta que acontece há muitos anos. Temos muito trabalho pela frente”, esclarece Letícia.