O mercado de cannabis medicinal do Reino Unido tem demonstrado um crescimento consistente e sustentável nos últimos dois anos. Embora menos explosivo que o de países como Alemanha e Austrália, o setor britânico evolui de forma controlada, o que tem permitido evitar a intervenção regulatória excessiva e o escrutínio que acompanharam expansões aceleradas em outras regiões.

Em entrevista recente ao Business Cannabis, o cofundador e CEO do Grow Group, Ben Langley, afirmou que a “força subjacente do mercado” foi um dos principais motivos para a aquisição da Avida Medical pela empresa, marcando uma nova fase estratégica.

Já o diretor de negócios da Wellford, Joshua Roberts, destacou que a nova estrutura da companhia vem apresentando crescimento consistente de dois dígitos mês a mês, além de estar ampliando o time para acompanhar a alta demanda.

Dados oficiais confirmam a tendência

Recentemente, o NHS England e a Care Quality Commission (CQC) publicaram informações que corroboram o crescimento relatado por especialistas. Apesar das dificuldades em obter dados precisos e atualizados sobre o mercado — especialmente em relação a prescrições de produtos não licenciados —, os números disponíveis apontam para uma tendência positiva.

Em fevereiro deste ano, dados obtidos via Lei de Liberdade de Informação (FOI) revelaram que mais de 300 mil itens foram prescritos entre abril de 2023 e abril de 2024 — mais que o dobro do registrado nos 12 meses anteriores.

Primeiro semestre de 2024 em alta

De acordo com nova solicitação FOI divulgada recentemente, os dados privados de prescrições no primeiro semestre de 2024 mostram um avanço sólido. Janeiro de 2024 apresentou o maior crescimento mensal, com alta de quase 20% em relação a dezembro de 2023. Apesar de os números entre maio e agosto parecerem inferiores, especialistas apontam que isso se deve a atrasos nos registros do NHS, e não a uma retração real do mercado.

Relatório da CQC reforça estabilidade

O relatório "Atualização Anual 2024", publicado pela CQC em 15 de julho, confirma a presença de 35 fornecedores de CBPMs (medicamentos prescritos à base de cannabis) registrados, quase todos atuando no setor privado. Um gráfico não rotulado indica que o número de prescrições ultrapassou 52.355 em julho de 2024, sugerindo que a queda apontada pelo NHSBSA é temporária.

Desafios e advertências regulatórias

Apesar do desempenho positivo, a CQC também destacou preocupações com práticas clínicas em algumas instituições privadas, como falhas na supervisão, justificativas clínicas frágeis e problemas com a conformidade publicitária.

De acordo com as informações do Business Cannabis, até o momento, o governo britânico não impôs novas restrições ao setor, diferentemente de países como Alemanha, Austrália e Polônia. Isso se deve, em parte, ao compromisso das clínicas com as rígidas normas locais. Ainda assim, com revisões regulatórias previstas, o setor entra em uma fase crítica para demonstrar conformidade e evitar ações punitivas.

Conteúdo publicado originalmente em Business Cannabis