No foco de investidores mercado de cannabis dispara em 2021
Regulamentação em países desenvolvidos fomenta mercado de investimentos no mundo todo
Publicada em 28/06/2021
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João R. Negromonte
Antes de mais nada, ao tratar do tema cannabis é preciso conhecer a história da planta no nosso país para entender como funciona as atuais legislações, afinal, quem conhece sua história compreende melhor seu futuro. Usada como matéria prima na produção de velas e cordas das embarcações portuguesas que aqui desembarcaram em 1.500 d.C., além de roupas e utensílios, o cânhamo, como era conhecido na época, foi por séculos utilizado na indústria têxtil, construção civil, para fins medicinais e religiosos por diversas culturas espalhadas pelo mundo, servindo como produto de grande valor comercial durante vários anos.
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No início do séc.XX, boa parte do mundo iniciou uma guerra contra as drogas e, no centro dessa discussão estava a cannabis. Países como os Estados Unidos, dedicaram boa parte dos seus recursos anuais para o combate à planta devido a mesma estar em sua lista de drogas mais perigosas como a cocaína e o crack. Reflexo desse pensamento ultrapassado, serviu como justificativa de repressão à possíveis adversários comerciais da época, ou seja, com um produto de extremo valor comercial, a proibição seria, em tese, uma forma de criar barreiras que atrapalhassem o mercado do produto em grandes áreas de livre-comércio de cânhamo.
No Brasil, esse pensamento parece ainda permear as discussões sobre o tema, porém, com uma mudança de postura em relação a cannabis medicinal em países como Canadá, Israel e EUA que, através de pesquisas e conhecimentos embasados em ciência e mercado, vem dando a volta por cima de toda essa alienação coletiva decorrente de séculos de desinformação e preconceitos.
Visando um futuro pós pandêmico mais promissor, os movimentos sociais e econômicos buscam se alinharem com essa nova possibilidade de negócio que pode trazer bons frutos para um país de dimensões continentais como o Brasil. Segundo dados do IQVIA (referências global na área de saúde) o mercado farmacêutico varejista brasileiro teve um crescimento de 15,6% em 2020, tendo um faturamento bruto de cerca de US$ 107 bilhões no mesmo ano. Fundos de investimentos já disponibilizam em suas plataformas, carteiras com empresas 100% destinadas a produção e comercialização de cannabis, além disso, o agronegócio brasileiro que faturou sozinho cerca de US$ 100,8 bilhões em 2020, ganharia uma nova forma de cultura que alavancaria ainda mais o setor segundo especialistas. De acordo com a Kaya Mind, empresa de inteligência de mercado de cannabis, a regulamentação da cannabis no Brasil poderia gerar 117 mil empregos e movimentar R$ 26,1 bilhões em quatro anos no país. O cálculo realizado pela consultoria levou em conta a regulamentação de todas as formas de consumo, ou seja, cânhamo (planta com baixa ou nenhuma concentração de THC e CBD), uso adulto e para fins medicinais, sendo as projeções as melhores possíveis para os próximos anos devido a regulamentação de leis que contribuem com a expansão do mercado.
Seguindo a tendência mundial e, de acordo com informações coletadas pela Prohibition Partners, empresa que estuda e analisa dados sobre o mercado de cannabis ao redor do mundo, estima-se que até 2024 esse mercado comece a valer em torno de US$ 104 bilhões, sendo US$ 9 bilhões apenas na América Latina. Mesmo com as maiores cargas tributárias do mundo, cerca de 31,64% em relação a outros países, segundo dados do ministério da economia, o Brasil possui um grande potencial agrícola que pode vir a suprir todas as demandas do mercado nacional e mundial caso a PL399/2015 seja aprovada pelo executivo.
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De todo modo, sabemos que a regulamentação da cannabis é imprescindível para garantir a liberdade individual e a saúde de milhões de pessoas. A partir do movimento da regulamentação internacional, foi possível acompanhar o crescimento de um mercado bilionário, que pode contribuir para a educação de jovens sobre o uso de drogas e tantas outras medidas importantes para mudarmos o cenário dos últimos anos e, de certa forma, desmistificar idéias e ideologias que ainda existem em torno do debate.
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