O contexto histórico da proibição da maconha no Brasil: ecos de um passado que ainda respira

No Deusa Cast, o historiador Luiz Fernando Petty resgata a origem da proibição da maconha no Brasil e revela como narrativas enviesadas criaram o estigma que ainda persiste

Publicada em 03/10/2025

 O contexto histórico da proibição da maconha no Brasil: ecos de um passado que ainda respira

Entenda como preconceito e política moldaram a história da planta | CanvaPro

Quando se fala em maconha no Brasil, muitos ainda pensam apenas no estigma, no preconceito ou na criminalização. Mas por trás desse olhar rígido existe uma história muito mais complexa, feita de contradições, esquecimentos e escolhas políticas que moldaram o imaginário social. Esse é o fio que o historiador Luiz Fernando Petty ajuda a desatar no corte do episódio do Deusa Cast, Cannabis no Brasil: História, Espiritualidade e Redução de Danos. 


No diálogo, Petty revisita um período pouco falado, em que a cannabis circulava livremente no país — fosse como remédio, insumo agrícola ou até mesmo vendida em cigarros embalados com selo francês. O que hoje parece impensável, um dia foi prática comum.


1932: quando a proibição ganhou forma


Segundo Petty, o marco legal da proibição se dá em 1932, quando aparece a primeira lei que menciona a cannabis indica e a cannabis sativa. A distinção entre as duas, no entanto, já carregava confusões: de um lado, a planta associada ao “chapar”; de outro, o cânhamo, usado para tecidos e cordas. “Mas todas são cannabis”, lembra o historiador. “A diferença está apenas no cultivo, não na essência”.


Mesmo assim, a lei não “pegou” de imediato. Durante anos, cigarros de maconha, como os famosos Cigarros Índicos, fabricados pelos irmãos Grimaldi, eram vendidos legalmente em farmácias e propagandeados como produto medicinal. Essa realidade só começaria a mudar no pós-1929, quando o Brasil atravessava a crise do café e novas regulações começaram a surgir com mais força.


A era Vargas e o peso do discurso médico


É a partir de 1945, no governo Vargas, que a narrativa proibicionista se consolida. Surge um órgão de fiscalização de drogas, e junto dele uma enxurrada de textos médicos e acadêmicos que, segundo Petty, “eram praticamente cópias uns dos outros”.
Neles, a descrição do uso da cannabis parecia quase positiva: riso, sono profundo, sonhos vívidos. Mas as conclusões sempre distorciam a realidade. 


Esse viés científico, repetido em enciclopédias e matérias de jornais, criou a base do preconceito que até hoje ecoa: uma planta narrada não pelo que realmente era, mas pelo medo e pela necessidade de controle social.


Mais do que uma aula de história, este corte do Deusa Cast é um convite para refletirmos sobre como as narrativas são construídas. Vale reforçar que a dentista canábica Joyce Bernardo também foi parceira do historiador neste episódio. Confira no vídeo abaixo o que o historiador conta sobre a proibição da cannabis: