O que o 2024 ensinou para o setor da cannabis medicinal?

O setor da cannabis medicinal aumentou na acessibilidade dos profissionais de saúde, regulamentações mais claras, mas ainda com desafios a superar, indicam especialistas

Publicada em 17/01/2025

capa

Imagem: Canva Pro

O ano de 2024 foi um marco importante para o setor da cannabis medicinal, com avanços em pesquisa, regulamentação e acessibilidade no campo da saúde. Especialistas apontam que esse período trouxe não apenas um maior entendimento sobre o uso terapêutico da cannabis, mas também destacaram desafios que precisam ser superados para consolidar a planta como uma ferramenta medicinal eficaz e acessível.

 

Crescimento de médicos e novas pesquisas

 

Jimmy Fardin, ortopedista e coordenador do Grupo Conaes Brasil, destaca que 2024 representou um “ano de progressos significativos” para a cannabis medicinal. “A liberdade e o reconhecimento dos benefícios da cannabis entre os profissionais da saúde cresceram muito”, afirmou. Dados da Close Up-International indicam que, em setembro de 2024, o Brasil ultrapassou os 47 mil médicos prescritores de cannabis.

 

Jimmy
Médico Jimmy Fardin durante o Congresso brasileiro da Cannabis 2024. Imagem: Arquivo Sechat

Fardim ainda destaca que a adesão de novos profissionais foi impulsionada por "pesquisas mais robustas e relatos de casos que demonstraram eficácia em condições como dor crônica, epilepsia e distúrbios de saúde mental". O Anuário da Cannabis Medicinal de 2024 da Kaya Mind relata que, apenas no primeiro semestre do ano passado, foram publicados 120 estudos relacionados ao uso terapêutico da planta no periódico PubMed.

 

Formação e inovações no mercado de cannabis medicinal

 

Além das prescrições, Fardin destacou o crescimento de cursos, pós-graduações e workshops sobre o uso terapêutico da cannabis em 2024. Ele também pontuou a importância de inovações no mercado, como novos métodos de administração da planta, ampliando as opções terapêuticas para os pacientes.

Eventos como a Medical Cannabis Fair, que em 2024 viveu sua 3ª edição, são espaços importantes para negócios, atraindo um público altamente qualificado, composto por médicos, veterinários, dentistas, farmacêuticos, gestores hospitalares e empresários interessados nas possibilidades do mercado de cannabis. Entre os dias 22 a 24 de maio de 2025, o evento B2B e B2P mais relevante da América Latina retornará em 2025, no Expo Center Norte, em São Paulo. Clique aqui e garanta seu ingresso.

 

Descriminalização do porte de cannabis

 

Alice.jpg
Médica Alice Poltosi. Imagem: Arquivo Pessoal

Na perspectiva da médica Alice Poltosi, o ano de 2024 trouxe um avanço crucial com a descriminalização do porte de maconha no Brasil. “Isso é um passo muito importante, ainda que pequeno, mas acredito que abrirá caminhos para mais avanços nos próximos anos”, apontou. A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em junho de 2024, por meio do Recurso Extraordinário 635.659, foi um marco nesse sentido.

Para Poltosi, a descriminalização facilitou o diálogo entre médicos e pacientes sobre o uso de cannabis, promovendo um ambiente mais seguro para estudos e entendimento sobre os efeitos da planta a longo prazo. “Hoje, as pessoas não se sentem constrangidas de compartilhar isso com os médicos, e a descriminalização permite que a gente estude e entenda melhor essa população”, acrescentou.

Poltosi também relatou que 2024 foi um ano de crescimento na prescrição de cannabis por médicos de outras especialidades, como dermatologistas e especialistas em dor crônica. “Recebo mais encaminhamentos de sub-especialistas para prescrever maconha, principalmente para dor crônica, o que mostra uma mudança na visão dos colegas sobre o uso da planta”, afirmou.

 

Desafios e superação

 

Apesar dos avanços, 2024 também trouxe desafios. Alice Poltosi, moradora do Rio Grande do Sul, relembra as dificuldades causadas pelas enchentes no estado e a força mostrada por membros do setor de cannabis. “Foi um ano complicado nesse sentido, mas também aprendi o poder das associações e dos pequenos produtores, que mesmo diante de dificuldades conseguiu distribuir remédios aos pacientes”, relatou.

Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) pelo menos 876.200 pessoas em 420.100 domicílios (8,8% da população e dos domicílios) tiveram seus locais de residência atingidos diretamente pelas enchentes e deslizamentos nos 418 municípios do Rio Grande do Sul em estado de calamidade ou emergência.

 

Mercado de cannabis no Brasil e perspectivas de crescimento

 

Snapinst.app_441896504_18433498933026694_3355505938075617766_n_1080.jpg
Thaise Alvarez durante a Medical Cannabis Fair 2024. Imagem: Arquivo Pessoal 

Thaise Alvarez, fundadora da Alma Lab CBD, relatou que o mercado de cannabis medicinal no Brasil evoluiu significativamente no ano passado. Presente no setor de 2020, Thaise não vê mais os mesmo desafios, como a burocracia da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Segundo ela, 2024 trouxe uma regulamentação mais clara, permitindo que as empresas brasileiras começassem a manipular produtos de maconha localmente.

Segundo o Anuário da Cannabis, o mercado brasileiro movimentou R$ 853 milhões em 2024, um crescimento de 22% em comparação ao ano anterior. A expectativa é que o setor atinja a marca de R$ 1 bilhão até o final de 2025. Alvarez acredita que um dos principais fatores para esse crescimento do mercado é a possibilidade de as empresas brasileiras manipularem produtos de cannabis dentro do país.

Em sua Agenda Regulatória 2024-2025, a Anvisa tem como tópico a análise de proposta de consulta pública que visa revisar a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 327/2019. Nos bastidores é vista como positiva a possibilidade de incluir farmácias de manipulação na RDC 327. “Isso pode reduzir custos e o tempo de entrega para os pacientes, facilitando o acesso a esses medicamentos”, explicou Thaise.