Pesquisadores da Unicamp avaliam composição de óleos medicinais

Pesquisadores do CIATox/Unicamp analisam a composição de óleos de Cannabis enviados por pacientes e associações para garantir qualidade, eficácia terapêutica e segurança nos tratamentos

Publicada em 30/06/2025

Pesquisadores da Unicamp avaliam composição de óleos medicinais

A Jornada dos óleos de cannabis no laboratório da Unicamp | CanvaPro

Num canto silencioso da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde os frascos de óleo de cannabis chegam de diferentes lugares do Brasil, a ciência encontra rostos, histórias e urgências. O Centro de Informação e Assistência Toxicológica de Campinas (CIATox) transformou sua expertise em análises toxicológicas em uma ponte entre o rigor científico e a luta dos pacientes por medicamentos eficazes, seguros e acessíveis.

A iniciativa nasceu do encontro entre a experiência do professor José Luiz da Costa, perito criminal e toxicologista, e a inquietação de uma jovem pesquisadora, Marília Santoro Cardoso. O que começou como um projeto de pesquisa virou uma ação com forte retorno social, que hoje envolve ensino, extensão e resistência em nome da saúde pública.


A planta, o paciente e o composto certo


A Cannabis é complexa. Não há uma única fórmula ou dosagem que atenda a todos. Cada paciente precisa de um perfil específico de compostos e é exatamente isso que o CIATox busca identificar. Com mais de 500 substâncias em sua composição, a planta pede estudo, precisão e responsabilidade. 

As análises feitas no laboratório vão muito além de fórmulas e gráficos. Elas dizem respeito à vida de crianças com epilepsia, de adultos com dor crônica, de idosos em tratamento paliativo e dentre outras patologias que já divulgamos por aqui. 

Com técnicas como cromatografia e espectrometria de massas, o CIATox identifica e quantifica até dez canabinoides diferentes, entre eles, CBD, THC e suas formas ácidas (CBDA e THCA), que podem impactar diretamente na eficácia do produto.

Mas o olhar dos pesquisadores vai além: o projeto está se expandindo para mapear terpenos, pesticidas, metais pesados e outros contaminantes. “Nosso interesse pelos terpenos cresce porque eles também influenciam os efeitos terapêuticos dos canabinoides”, disse Lílian de Araújo Lima, doutoranda envolvida na pesquisa, a revista digital, ComCiência.


Da resistência à continuidade


Nem sempre foi simples seguir com a pesquisa. Após ganhar visibilidade, o CIATox foi notificado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária - (Anvisa), que interpretou o trabalho como serviço de controle de qualidade, o que não se aplica a um projeto acadêmico. Foi necessária uma defesa formal e o apoio da Unicamp para manter a iniciativa viva.

E mesmo com recursos aprovados pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) em 2023 para análise de 300 amostras, a burocracia atrasou o início dos envios, que só começaram em janeiro de 2025. “A universidade pública precisa estar preparada para acolher pautas controversas. O conhecimento também serve para quebrar estigmas”, afirma o professor José Luiz.


Um futuro moldado por evidências


Apesar dos desafios, os pesquisadores seguem movidos pela convicção de que a ciência pode, sim, transformar políticas públicas. Com dados consistentes em mãos, é possível dialogar com agências reguladoras e mostrar que produtos desenvolvidos por associações podem, com o devido controle, ser seguros e acessíveis.

“Nosso trabalho ajuda a construir um caminho para que a regulação avance com base em evidências e justiça social”, afirma João Gouvea, doutorando do CIATox e coordenador do grupo de trabalho de cannabis medicinal no CRF-RJ. 

 

Com informações de ComCiência