“Preconceito não pode ser maior que o direito à saúde”: deputada do CE defende cannabis no SUS e enfrenta ataques

Projeto de Lei avança na Assembleia Legislativa do Ceará mesmo com resistência da oposição; deputada Larissa Gaspar reafirma compromisso com pacientes

Publicada em 05/06/2025

“Preconceito não pode ser maior que o direito à saúde”: deputada do CE defende cannabis no SUS e enfrenta ataques

Deputada Larissa Gaspar resiste a ataques e reforça: “Cannabis medicinal é sobre cuidado, não ideologia” | Imagem: Divulgação

A dor de quem precisa não espera. E é em nome de tantas pessoas que hoje encontram na cannabis medicinal uma chance real de alívio que a deputada estadual Larissa Gaspar (PT) tem enfrentado uma onda de ataques políticos e pessoais nas últimas semanas. Coautora de um Projeto de Lei (PL) que propõe a regulamentação da distribuição da cannabis medicinal no Sistema Único de Saúde (SUS) do Ceará, a parlamentar tem sido alvo de críticas por defender, inclusive, a participação de famílias e pacientes na última edição da Marcha da Maconha, realizada em maio.


“Grupos reacionários da extrema-direita querem usar essa pauta para aparecer e impedir o acesso à saúde. O preconceito não pode ser maior que o direito à saúde”, disparou Larissa.


Mais do que um projeto de lei, uma urgência social


O PL, de autoria do deputado Renato Roseno (Psol) com coautoria de outros cinco parlamentares, prevê a distribuição gratuita de medicamentos à base de cannabis pelo SUS, o incentivo à formação de associações de cultivo e o fomento à pesquisa científica sobre o tema. A proposta já teve parecer favorável na Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJR) e agora segue para análise das comissões técnicas antes de ir ao plenário.


Apesar dos ataques e da tentativa de vincular sua imagem ao uso recreativo da planta, Larissa tem sido firme: sua defesa é clara e restrita ao uso medicinal da cannabis. “Já fui chamada de tudo. Mas não vou me abalar. A direita pode espernear, se fantasiar, me esculhambar nas redes sociais. Eu não vou abrir mão da defesa pela vida”, afirmou.


Quando o preconceito atrasa o cuidado


Não é de hoje que o debate em torno da cannabis medicinal no Brasil é atravessado por desinformação e estigmas. Para a deputada, a estratégia da oposição tem sido plantar pânico moral, distorcendo os objetivos do projeto. Ela cita o exemplo de estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Minas Gerais, governados pela direita e extrema-direita, que já regulamentaram a distribuição da medicação. “Não faz sentido que esses estados tenham avançado e o Ceará fique para trás por pura ideologia, enquanto pessoas sofrem esperando uma alternativa de tratamento”, disse.


Durante uma audiência pública realizada em 2023 sobre o projeto, Larissa relembra com emoção o relato de uma mãe que lutava há anos por uma solução para o filho, diagnosticado com transtorno do espectro autista (TEA), nível de suporte três. “Ela já tinha passado pelos melhores neuropediatras. O menino, com doença rara associada, não falava. Com 15 dias de uso da cannabis medicinal, ele começou a falar”, contou.


A criança usava medicamentos fortes, como ritalina e risperidona, há mais de seis anos, sem resultados satisfatórios. “Está mais do que comprovado, cientificamente e pela prática das pessoas que fazem uso, que há um salto significativo na qualidade de vida dos pacientes”, destacou a parlamentar.


Alívio que chega em gotas


De fato, os canabinoides, como CBD (canabidiol) e THC (tetrahidrocanabinol), têm sido usados com eficácia no tratamento de epilepsia, dor crônica, ansiedade, Parkinson, câncer, fibromialgia, TDAH, depressão e TEA, entre outras condições. Mas o acesso à medicação ainda é restrito, caro e burocrático.


Por isso, para Larissa, a aprovação do PL representa mais do que uma vitória política. É a chance de dar visibilidade a quem quase nunca tem voz: mães, pais, avós, cuidadores e pacientes que convivem com o sofrimento diário e que precisam ser ouvidos pelas instituições públicas.


Apesar das críticas, Larissa acredita que o barulho causado pela oposição pode ser um tiro no pé. “Você passa a ter uma mobilização maior das pessoas que necessitam da medicação. Elas se sentem chamadas a se posicionar”, avaliou.


Recentemente, o ex-senador Eduardo Suplicy, também defensor da pauta e usuário da medicação, esteve em Fortaleza e reforçou a importância da aprovação do projeto.
Caso seja aprovado pela Assembleia Legislativa, o PL segue para a sanção do governador Elmano de Freitas (PT). “Penso que o governador entenda essa importância e esteja ao lado de quem mais precisa”, concluiu a deputada.