Produção nacional do IFA pode reduzir em até 30% o custo de produtos derivados de cannabis, revela especialista
A discussão sobre a regulamentação do cultivo de cannabis para fins medicinais no Brasil tem como objetivo impulsionar a pesquisa, a purificação e a produção do IFA
Publicada em 04/07/2023

A coordenadora do Grupo de Trabalho de Insumos de Cannabis da Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos (Abiquifi), Caroline Sellani, reforçou a importância de o Brasil assumir o domínio completo da cadeia produtiva da cannabis medicinal em seu território que é mundialmente reconhecimento por sua agricultura pujante. Em entrevista exclusiva ao Portal Sechat, Sellani destacou os benefícios de o país ser protagonista desde o cultivo da planta até a fabricação produto final para garantir o acesso a produtos de qualidade e preços mais acessíveis.
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Caroline Sellani
Formada em Relações Internacionais pela USP e cursando Pós Graduação em Gestão Pública pelo Insper, coordena desde 2019 o Grupo de Trabalho de Insumos de Cannabis da Abiquifi, que tem como objetivo discutir assuntos regulatórios e legislativos sobre o tema, com o intuito de viabilizar a cadeia completa de produção dos medicamentos à base de Cannabis no Brasil. Atua também como Educational and Public Health Affairs na SAIL for Health.
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Sellani enfatizou que a discussão sobre a regulamentação do cultivo de cannabis para fins medicinais no Brasil tem como objetivo impulsionar a pesquisa, a purificação e a produção do IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo). De acordo com a coordenadora, em um levantamento recente, constatou-se que uma possível produção nacional poderia resultar em uma redução de cerca de 30% no custo do IFA, o que reflete diretamente no preço final dos produtos e medicamentos para os pacientes. Essa economia pode representar um avanço significativo no acesso aos tratamentos à base de cannabis, tornando-os mais acessíveis e viáveis para um número maior de pessoas.
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Ela contou que a Abiquifi atua junto aos agentes públicos e privados com o objetivo de colaborar com a redução dos custos envolvidos nesse processo, para proporcionar um acesso mais amplo aos tratamentos medicinais.
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“Não, necessariamente, a gente irá substituir, por completo, a importação do IFA, mas ter a possibilidade de seguir com a importação do IFA e uma produção nacional garante que a gente tenha uma base produtiva mais robusta. A indústria precisa estar preparada para conseguir atender a demanda crescente seguindo os rigores de qualidade e com o custo reduzido para não onerar os cofres publicos no atendiemnto das demandas do SUS”, afirmou Sellani.
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A regumentação da cannabis medicinal no Brasil .
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Desde 2015, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária permite a terapia com produtos à base de canabidiol (CBD) ou com baixas concentrações de tetrahidrocanabinol (THC), propriedades medicinais encontradas na planta Cannabis Sativa, espécie com mais de 500 substâncias. O orgão também autoriza a importação individual para pacientes com prescrição e laudo médico que atestam a necessidade do tratamento por meio dos benefícos medicinais da planta.
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A demanda por produtos derivados da cannabis tem aumentado significativamente no Brasil, impulsionada por regulamentações como a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 327, que permite a venda de produtos em farmácias, e a RDC 660, que possibilita a importação de medicamentos à base de cannabis. Essas medidas têm impulsionado a procura por tratamentos alternativos e gerado a necessidade de suprir a demanda no Sistema Único de Saúde (SUS).
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De acordo com o anuário de 2022 da Kaya Mind, uma empresa especializada em dados do mercado canábico, a importação individual continua sendo a principal forma de acesso à terapia com cannabis medicinal no Brasil. O relatório, com dados coletados até agosto de 2022, aponta que aproximadamente 187 mil brasileiros utilizam produtos à base de cannabis para tratamentos médicos, sendo cerca de 91 mil por meio de importação individual e apenas 26 mil por meio da compra em farmácias.
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Além disso, cerca de 70 mil pessoas recorrem a associações que fornecem produtos com preços mais acessíveis, especialmente para famílias de baixa renda. Essa realidade se deve ao fato de que seis dessas associações conseguiram, através de liminares judiciais, o direito de cultivar a planta e produzir o próprio óleo, oferecendo uma alternativa acessível para pacientes em busca de tratamentos com cannabis.
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Apesar do aumento significativo na busca por produtos de cannabis medicinal em farmácias em 2023, conforme dados da Associação Brasileira da Indústria de Canabinoides (BRcann), com um crescimento de 201% em relação ao mesmo período do ano anterior, a importação individual ainda prevalece como a forma mais comum de acesso à terapia no país.