Saiba tudo sobre a três doenças tratadas pelo programa de Cannabis no SUS em São Paulo

Síndrome de Dravet, Síndrome de Lennox-Gastaut e Esclerose Tuberosa: as três doenças tratadas com cannabis pelo SUS de São Paulo

Publicada em 13/10/2025

 Saiba tudo sobre as 3 doenças tratadas com cannabis em São Paulo

Saiba quais são as doenças tratadas com cannabis e como acessar o tratamento | Foto: Marcello Casal/Agência Brasil

A partir de agosto de 2025, o Sistema Único de Saúde (SUS) de São Paulo iniciou a distribuição de canabidiol (CBD) para o tratamento de diversas condições de saúde. Essa medida visa ampliar o acesso a tratamentos eficazes para doenças graves e refratárias, anteriormente de difícil acesso para a população. 


Quais doenças são tratadas com cannabis no SUS de São Paulo?


Inicialmente, o SUS de São Paulo disponibiliza o canabidiol para o tratamento de três doenças específicas:


1. Síndrome de Dravet


A Síndrome de Dravet é uma forma rara e grave de epilepsia que geralmente se manifesta nos primeiros meses de vida. Caracteriza-se por convulsões frequentes e resistência aos tratamentos convencionais. O uso de canabidiol tem mostrado eficácia na redução da frequência e intensidade das crises. 

 

Uso terapêutico da cannabis

O estudo publicado pela revista Foco analisou o uso do óleo de cannabis em pacientes com Síndrome de Dravet, uma forma rara e grave de epilepsia infantil resistente aos tratamentos convencionais. Os resultados mostraram redução significativa na frequência e intensidade das crises epilépticas, além de melhora na qualidade de vida e no desempenho cognitivo e motor dos pacientes acompanhados. O trabalho reforça o potencial do canabidiol (CBD) como alternativa terapêutica segura e eficaz, apresentando apenas efeitos adversos leves, como sonolência e diminuição do apetite. Os autores destacam, contudo, a importância de novos estudos clínicos controlados e de longo prazo para confirmar esses achados, definir dosagens ideais e garantir o monitoramento adequado dos pacientes tratados com derivados da cannabis no sistema público de saúde.


2. Síndrome de Lennox-Gastaut


A Síndrome de Lennox-Gastaut é uma epilepsia rara que se inicia na infância e é caracterizada por múltiplos tipos de crises. Além das convulsões, pode causar atraso no desenvolvimento cognitivo e motor. O canabidiol tem sido utilizado como uma opção terapêutica para controlar as crises em pacientes com essa síndrome. 

 

Tratamento com canabidiol em epilepsias resistentes

O artigo “Clinical efficacy and safety of cannabidiol in refractory epilepsy: a systematic review and meta‐analysis” (PMC9273119) examinou o uso do canabidiol (CBD) em diferentes formas de epilepsia resistentes, incluindo síndromes como Dravet e Lennox–Gastaut, evidenciando reduções substanciais na frequência de crises, com proporção de respondentes (≥ 50 % de queda nas crises) significativamente superior ao placebo. O estudo também aponta que os efeitos adversos mais comuns — como sonolência, alterações gastrointestinais e elevação de enzimas hepáticas — foram em geral leves a moderados, sendo bem tolerados na maioria dos casos. Os autores enfatizam a necessidade de padronização de dosagens, acompanhamento laboratorial regular e investigações adicionais de longo prazo para avaliar os impactos da terapia com CBD em diferentes faixas etárias e subtipos de epilepsia refratária.


3. Esclerose Tuberosa


A Esclerose Tuberosa é uma doença genética que causa o crescimento de tumores benignos em diversos órgãos, incluindo cérebro, coração e rins. Além dos tumores, pode provocar crises epilépticas. O tratamento com canabidiol tem demonstrado benefícios na redução das crises em pacientes com essa condição.

 

Canabidiol em epilepsias refratárias

O artigo publicado na Epilepsia Open (doi:10.1002/epi4.12956) apresenta as recomendações de um painel de especialistas para a otimização do uso do canabidiol (CBD) no tratamento de epilepsias refratárias, com foco nas síndromes de Dravet, Lennox–Gastaut e esclerose tuberosa. O estudo destaca que o CBD, comercializado sob o nome Epidiolex®, é aprovado para o tratamento de crises nessas condições. As diretrizes enfatizam a importância da individualização da dose, monitoramento rigoroso de efeitos adversos, especialmente alterações hepáticas e interações medicamentosas, e a necessidade de ajuste terapêutico contínuo para maximizar os benefícios clínicos. Os especialistas também recomendam a implementação de protocolos de acompanhamento para avaliar a eficácia e segurança do CBD a longo prazo, visando melhorar a qualidade de vida dos pacientes com epilepsias difíceis de controlar.

 

Avaliação do canabidiol em epilepsias farmacorresistentes

O artigo publicado na Epilepsia Open (doi:10.1002/epi4.12956) examina de forma robusta os resultados clínicos do tratamento com canabidiol (CBD) em pacientes com epilepsias resistentes, incluindo síndromes graves como Dravet, Lennox-Gastaut e outras formas refratárias. O estudo relata que o uso adjuvante de CBD está associado a reduções médias significativas na frequência de crises, com elevada proporção de pacientes classificados como “respondentes” (queda ≥ 50 % nas crises), além de casos de remissão completa ou quase completa em subgrupos selecionados. Os eventos adversos mais relatados incluem sonolência, diarreia, perda de apetite e elevação das transaminases hepáticas, embora em grande parte sejam de grau leve a moderado e reversíveis com ajuste de dose ou monitoramento. Os autores ressaltam ainda que a variabilidade na resposta individual, as interações medicamentosas (especialmente com antiepilépticos como valproato) e a falta de dados prolongados (em relação ao impacto cognitivo, motor e de qualidade de vida a longo prazo) demandam estudos futuros bem delineados.


Como acessar o tratamento com canabidiol no SUS de São Paulo?


Para obter o tratamento com canabidiol, os pacientes devem:

  • Apresentar prescrição médica emitida por profissional capacitado.
  • Dirigir-se às farmácias municipais de referência para a retirada do medicamento.
  • Assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), conforme exigido pela legislação vigente.


É importante ressaltar que o uso do canabidiol é regulamentado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e segue as normas estabelecidas para garantir a segurança e eficácia do tratamento.


Expansão do uso de cannabis medicinal no SUS de São Paulo


Além das três doenças inicialmente contempladas, o SUS da cidade de São Paulo está ampliando o uso de medicamentos à base de canabidiol para o tratamento de outras condições, incluindo:

  • Epilepsias de difícil controle.
  • Dores crônicas.
  • Doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson.
  • Transtornos do espectro autista.
  • Doenças reumatológicas


Essa ampliação visa proporcionar um tratamento mais acessível e eficaz para pacientes que, anteriormente, enfrentavam dificuldades para obter os medicamentos necessários.

 

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A inclusão do canabidiol no rol de tratamentos oferecidos pelo SUS de São Paulo representa um avanço significativo no acesso a terapias eficazes para doenças graves e refratárias. Com a ampliação do uso de cannabis medicinal, espera-se melhorar a qualidade de vida de muitos pacientes e reduzir a dependência de tratamentos judiciais para obtenção dos medicamentos.