Osmar Terra se reúne com empresa que está desenvolvendo CBD sintético
Publicada em 15/07/2019
O ministro da Cidadania, Osmar Terra, se reuniu na manhã desta quinta-feira (11) com o diretor presidente da empresa farmacêutica Prati-Donaduzzi, Eder Fernando Maffissoni. O encontro foi publicado na agenda oficial do Ministério e acontece dois dias após o político dizer, em audiência pública no Senado, que não é necessário plantar maconha para se obter o medicamento.
A Prati-Donaduzzi é uma indústria do Paraná que se apresenta como a maior produtora de medicamentos genéricos do País. Ela realiza desde 2015 pesquisas para o desenvolvimento de medicamento à base de canabidiol (CBD).
"O produto tem como principal vantagem seu alto grau de pureza, excluindo a presença do tetrahidrocanabidiol (THC), uma substância psicoativa que causa dependência química. Simultaneamente, a empresa está em fase final dos testes do Myalo ®, medicamento à base de canabidiol - este produzido a partir do extrato purificado da planta, indicado para controle de crises de epilepsia refratária (grau mais crítico da doença, cuja incidência é maior em crianças)", informou a empresa em comunicado.
A pesquisa está sendo produzida em parceria com o Hospital das Clínicas da USP, no campus de Ribeirão Preto. Segundo a Prati-Donaduzzi, a previsão é que esteja disponível no mercado no início de 2020.
No entanto, o produto precisa antes ser submetido a registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Segundo a empresa, a agência já autorizou a Prati a produzir comercialmente o canabidiol sintético (Resolução 1244 de 9 maio de 2019). Ela já está produzindo com capacidade de 400 kg por ano, mas ainda não está comercializando.
Após a reunião da empresa com o ministro da Cidadania, Osmar Terra foi ao Twitter criticar a proposta da agência de plantio de cannabis com fins medicinais no Brasil.
"Não precisa plantar maconha para ter a única das 480 moléculas do cigarro da maconha que não causa dano ao cérebro e ao organismo! A Anvisa está arrumando desculpa para o plantio e a legalização da droga", disse em referência à proposta de plantio da cannabis com fins medicinais no Brasil.
Mesma posição do secretário executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo, que participou da reunião: "a plantação de maconha torna-se totalmente desnecessária para fins medicinais", declarou.
Médico contesta declaração
O doutor em psiquiatria Luís Fernando Tófoli, professor na Unicamp e pesquisador sobre políticas de drogas, afirma que a declaração do secretário e do ministro não possui base científica.
"Primeiro, o canabidiol não é a única molécula com propriedades terapêuticas na planta; segundo: o uso fitoterápico proporciona o efeito comitiva; terceiro, plantar ainda é a opção mais barata".
O médico lembrou ainda que o THC, conforme recente publicação do Conselho Federal de Medicina atesta, "também tem propriedades terapêuticas para dor, espasticidade (rigidez muscular) causada por esclerose múltipla e náuseas e inapetência causadas por quimioterapia. Outros, como o CBG, por exemplo, estão sendo estudados".
O Sechat entrou em contato com a assessoria de imprensa do Ministério da Cidadania para que a pasta possa esclarecer qual a pauta da reunião e qual o seu envolvimento em um assunto da indústria farmacêutica. A reportagem aguarda resposta.