Avó e neto conseguem permissão de cultivo de Cannabis em dois dias

Depois de meses consumido o óleo do mercado paralelo, os dois cearenses conseguiram um habeas corpus

Publicada em 27/03/2020

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Valéria França

Uma história de vida de muita luta, dentro da pobreza e da violência de uma cidade nordestina, encontrou alento com ajuda da Justiça. Nesta quarta-feira (25), foi concedido um habeas corpus duplo de cultivo de Cannabis para a Jeferson Damesceno, 22, e a avó dele, Maria Ferreiras dos Santos, 75.

Ele tem transtorno explosivo intermitente – acessos de raiva que descarrega com mutilações físicas, e ela, Alzheimer. A permissão de plantar a Cannabis e produzir o próprio óleo vai dar possibilidade de terem um tratamento de qualidade. Até agora, ele conseguia a Cannabis para os dois no mercado paralelo. O caso fez com que a Justiça desse a permissão em tempo recorde, dois dias.

Neto e avó moram juntos em uma casa construída em uma assentamento – independente –, há nove anos, na cidade de Baturité, no Ceará. Isso foi um salto de vida. O jovem passou a infância em uma favela, na mesma cidade. Vivia das esmolas que conseguia na rua.

O pai era alcoólatra, esquizofrênico e violento. “Eu sofria com crises de ansiedade e pânico. Tinha alucinações, ao me deitar à noite na cama. Via uns bichos”, conta Damasceno. Nos dias mais difíceis, batia com a cabeça na parede, esmurrava superfícies duras. Chegou a quebrar a mão.

Quando entrou na faculdade de Administração, o quadro de saúde mental se agravou devido o estresse provocado pela vida universitária. Passou a ter ataques epilépticos. O psiquiatra dele receitou o óleo de Cannabis.

Paralelamente, a avó começou a dar sinais de esquecimento. Não lembrava de algumas pessoas da família, nem da casa onde morava. Afora a confusão mental, veio a incapacidade de fazer coisas simples, como tomar banho sozinha.

“Minha avó piorou muito com uma sequência de problemas familiares. Primeiro meu pai morreu, em seguida minha mãe passou a ser perseguida, porque era líder do assentamento.  Ela teve de sair de casa.  E minha irmã foi violentada”, conta Damasceno. 

O jovem tem sonhos maiores e prósperos. Quer ser vereador. Agora ele está cursando a segunda faculdade, a de Agronomia. “A Cannabis vai ajudar que eu tenha uma vida melhor. Estou muito feliz com essa possibilidade."