Família Fischer cobra autoridades

Publicada em 22/05/2019

capa
Compartilhe:

“Estamos perdendo dinheiro, ciência e deixando famílias sem amparo!” A frase é de Norberto Fischer, do pai da Anny Fischer, a primeira brasileira autorizada judicialmente a importar derivado da maconha para uso medicinal. Casado com Katiele Fischer, a familia luta unida pelo direito ao acesso de todos e da livre escolha em como se tratar: importando, produzindo no Brasil, laboratório ou cultivo da maconha em casa ou em associações. Katiele, Norberto e Anny ficaram conhecidos em todo o país graças ao documentário “Ilegal”, do jornalista Tarso Araújo. O filme acompanhou a batalha da família na luta pelo tratamento e pelo acesso ao remédio da maconha medicinal.

No começo da conversa com o Sechat, Norberto falou sobre a saúde de Anny, que está com 11 anos agora. “Ela está bem. Faz o uso diário do canabidiol que importamos da HempMeds todos os meses. E a quantidade de crises é bem baixa, não terminaram as convulsões, mas o número é reduzido,” contou Norberto. Anny tem a síndrome de Rett CDKL5, problema genético raro, causador de epilepsia grave, entre outros problemas, e sem cura. Antes do remédio da maconha, Anny tinha entre 60 e 80 crises epilépticas por semana. Os ataques fizeram a criança viver um retrocesso e a família viu desaparecer as habilidades conquistadas com a fisioterapia.

Em 2014, quando Anny passou a usar o canabidiol a família viu o número de convulsões zerar. Um ano depois, Anny foi medicada com um remédio para verminoses e a substância produziu alterações em seu sistema canabinoide, inibindo em  parte a ação do CBD para tratar a epilepsia. Houve um pequeno retrocesso. Mas após um tempo as crises voltaram a ser controladas e a dose do canabidiol acabou acertada novamente. “Hoje, Anny apresenta uma ou outra convulsão, mas nada comparável ao momento anterior. Eu diria que sem o remédio da maconha é possível que a minha filha nem estivesse mais aqui conosco. O canabidiol salvou a vida dela, não tenho dúvidas mais sobre isso”, afirma de maneira enfática o pai da menina que marcou a luta pela maconha medicinal no Brasil.

Norberto faz um apelo para as autoridades da saúde no Brasil. Contou que quer se reunir com os novos agentes de governo, que assumiram o poder neste ano, mas que tem tido pouco sucesso. Ele contou ao Sechat que o ministro da Saúde ficou de conversar com ele sobre o tema em um evento na Fiocruz, no Rio, agora no primeiro semestre do ano ainda. “A Fiocruz é o grande laboratório farmacológico do Brasil e as pesquisas sobre as propriedades medicinais da cannabis poderiam estar muito mais avançadas não fossem as restrições por parte da legislação”, avalia Norberto.

O pai de Anny Fischer acredita que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) poderia assumir essa batalha, mas que não entende porque o processo não anda por lá. “Desde de 2017, existe o protocolo completo para liberação do cultivo com finalidade para pesquisa e produção artesanal com a Anvisa, mas nada ainda saiu. Estamos perdendo dinheiro e ciência. No mundo avança de maneira forte e acelerada e aqui nada. Sem contar o lado humano, famílias que poderiam estar sendo beneficiadas”, lamenta Fischer. A Anvisa informou por meio de sua assessoria que irá se posicionar sobre o assunto no momento oportuno.

Vale lembrar que o caso da família Fischer foi lembrado pelo Superior Tribunal de Justiça em fevereiro deste ano. A luta pela importação do canabidiol para Anny teve início em 2014 e chegou até a decisão da Segunda Turma do STJ que padronizou o entendimento sobre o tema.  

  O Superior Tribunal de Justiça está completando trinta anos de existência. Para relembrar essa história, o setor de comunicação do tribunal criou a série “30 anos, 30 histórias” . Reportagens sobre a vida de personagens que tiveramsuas vidas entrelaçadas com a alta corte brasileira estão sendo publicadas desde dezembro.