Associações elevam padrão de qualidade e consolidam modelo para a cannabis medicinal no Brasil
Mesmo sem regulamentação definitiva, entidades estruturam processos rigorosos, padronizam extratos e adotam padrões técnicos equivalentes aos da indústria farmacêutica; movimento já atende 147 mil pacientes no país.
Publicada em 30/11/2025

As associações de apoio aos pacientes de cannabis medicinal no Brasil vivem um momento de transformação profunda. O que começou com pequenos grupos de pacientes buscando autonomia terapêutica se tornou, em muitos casos, uma estrutura técnica robusta, baseada em metodologias farmacêuticas e protocolos rígidos de controle.
E muitos associações brasileiras representam essa virada. O processo, que antes poderia ser associado à informalidade de um preparo artesanal, hoje se apoia em genética controlada, padrões laboratoriais e rastreabilidade completa desde a semente.

A farmacêutica Gabriela Kreffta explica que tudo começa muito antes do frasco chegar às mãos do paciente. “Na Santa Cannabis, o processo começa no cultivo orgânico, com genética controlada e rastreada desde a semente”, diz. Segundo ela, a extração é feita com solvente grau alimentício resfriado e protocolos que preservam os compostos bioativos. “Após a colheita e a secagem, o material vegetal passa por uma extração com solvente grau alimentício previamente resfriado [...] o que aumenta a seletividade e preserva melhor os compostos de interesse, como os canabinoides e terpenos”, detalha a responsável técnica da associação fundada no ano de 2019 em Santa Catarina.
A partir daí, o processo entra numa lógica industrial: filtração de precisão, evaporação em ambiente controlado, ativação dos canabinoides sob vácuo e testes de pureza e estabilidade. Tudo acompanhado de análises periódicas. “Esse controle de pressão e temperatura é fundamental para alcançar resultados mais estáveis e reprodutíveis”, afirma.
O objetivo é garantir que cada frasco represente uma fórmula previsível — um desafio técnico que diferencia o setor.
Da planta ao frasco: controle ponto a ponto

Um dos avanços mais significativos é o controle contínuo de qualidade, que acontece em todas as fases da produção. Gabriela explica que a associação monitora a planta desde o cultivo: “O controle de qualidade na Santa Cannabis é contínuo e integrado a todas as etapas do processo produtivo, sendo executado em parceria com um laboratório independente, acreditado e participante da Rede REBLAS/Anvisa" - que significa Rede Brasileira de Laboratórios Analíticos em Saúde constituída por laboratórios analíticos, públicos ou privados, habilitados pela Anvisa, capazes de oferecer serviços de interesse sanitário com qualidade, confiabilidade, segurança e rastreabilidade. No Brasil, já são mais de 15 laboratórios habilitados para análise de produtos de cannabis.
Esse monitoramento inclui controle ambiental, análise de solo, avaliações periódicas de canabinoides e exames para garantir ausência de contaminantes. “A biomassa vegetal é analisada conforme as diretrizes da Farmacopeia Brasileira, avaliando-se a ausência de metais pesados, micotoxinas e contaminantes microbiológicos”, destaca.
Após a extração, o rigor se intensifica. Cada lote passa por testes que determinam se está apto para ser envasado. Identificação, inspeção visual, checagem de volume e emissão dos Certificados de Análise (CoA) - documento técnico emitido por laboratórios acreditados que comprova a composição, pureza, potência e segurança de um produto — no caso da cannabis medicinal, detalha concentrações de canabinoides, presença de contaminantes, solventes residuais, metais pesados e parâmetros microbiológicos. Essas etapas formam uma cadeia de controle que mira o padrão industrial farmacêutico.
Gabriela reforça a importância desse processo: “De acordo com os lotes, são emitidos os Certificados de Análise (CoA), que validam o produto final e confirmam a aderência a um processo padronizado e reprodutível”.
Transporte também é parte do processo
Uma mudança pouco discutida, mas fundamental para a segurança, é o cuidado com o transporte do óleo — parte da cadeia produtiva que muitas vezes é ignorada.
Gabriela explica que não basta produzir bem; é preciso garantir que o produto não seja comprometido no percurso. “Utilizamos frascos de vidro âmbar, que minimizam a interferência da luz sobre os canabinoides, e embalagens estruturadas, que evitam impactos, vazamentos e variações térmicas durante o envio”.
Padronização
A padronização da concentração de canabinoides é um dos pilares que diferenciam um produto seguro de um produto imprevisível. Gabriela descreve um processo que se apoia no padrão-ouro da química analítica. “A padronização é garantida por análises quantitativas de canabinoides realizadas por cromatografia (HPLC)”, explica.
Nesse processo, balanças analíticas de alta precisão e amostragem rigorosa garantem que cada lote mantenha a mesma potência. “Essa é a diferença entre um produto artesanal e um produto desenvolvido com rigor técnico e farmacêutico”, resume.
Laboratórios acreditados
A etapa final — liberação do produto para o paciente — não é feita pela própria associação. Para evitar conflitos e elevar a confiabilidade, os testes são realizados por um laboratório externo.
Gabriela detalha a estrutura: “A análise final dos produtos da Santa Cannabis é realizada em laboratório independente, credenciado pela Rede REBLAS/Anvisa e certificado pela ISO 17025”. A parceria com o DALL Phytolab, conforme ela explica, garante rastreabilidade e precisão metrológica.
Internamente, a farmacêutica ainda realiza triagens e acompanhamento de processo, mas deixa claro: “A liberação final é sempre feita com base em laudos emitidos pelo laboratório acreditado”.
Ambiente controlado e ausência de contaminantes
Para garantir pureza e segurança, certas associações passaram a operar com protocolos que lembram boas práticas de fabricação farmacêuticas. Gabriela descreve ambientes restritos, higienização total e controle para evitar contaminação cruzada.
“Buscamos seguir as Boas Práticas de Fabricação e Manipulação [...] garantindo a ausência de metais pesados, fungos, microrganismos e solventes residuais”, afirma.
Rastreabilidade total — e a chegada do SAP
A rastreabilidade hoje é um diferencial importante. Cada lote tem uma história completa: da semente ao frasco.
“Desde a entrada da semente, cada lote é identificado e registrado em nosso sistema interno de controle, garantindo rastreabilidade completa em todas as etapas”, explica Gabriela.
Agora, a Santa Cannabis inicia a implementação do SAP — sistema usado por indústrias farmacêuticas. “O SAP permitirá centralizar e interligar dados de produção, estoque, qualidade e distribuição”, diz.
Segundo a associação, já foram investidos cerca de R$ 2 milhões em estrutura física e equipamentos desde a sua fundação em 2019.
A confiança médica — e o que ainda falta
Para os médicos, previsibilidade e acesso à informação são fundamentais. Gabriela destaca: “O médico precisa ter clareza sobre a concentração do produto, o perfil de canabinoides, a forma farmacêutica e via de administração”.
A associação oferece suporte técnico, reuniões, materiais e laudos. Mas ainda há barreiras. “Falta um reconhecimento formal da qualidade técnica que muitas associações já alcançaram”, afirma.
Ela reforça que grande parte das evidências clínicas brasileiras foi produzida com produtos de associações — e que isso deveria ser considerado pelos reguladores.
Critérios para o paciente e a importância da transparência
Gabriela recomenda que o paciente exija documentos e verifique a origem e a qualidade. “O paciente deve verificar se a associação possui regularização institucional, responsabilidade técnica farmacêutica e controle de qualidade documentado”, diz.
E, sobre segurança: “O paciente deve solicitar o CoA e verificar se as análises foram realizadas por laboratórios confiáveis”.
A diferença entre um óleo artesanal e um óleo tecnicamente produzido, segundo ela, é evidente: “Um óleo artesanal apresenta variabilidade de dose, pureza e composição [...] Já um óleo produzido sob controle técnico e laboratorial possui estabilidade físico-química, padronização de concentração e reprodutibilidade entre lotes”.
O papel social das associações
Apesar dos avanços técnicos, Gabriela lembra o propósito original das associações. Uma missão que, segundo ela, não pode ser esquecida. “São as associações que há anos produzem resultados concretos, melhoram a qualidade de vida de pacientes e famílias, impulsionam o avanço do setor e mantêm viva uma rede de solidariedade e pesquisa”.
Para ela, confiar em uma associação séria é reconhecer um modelo que une ciência, ética e impacto social. “Nossa missão é garantir acesso a produtos seguros, eficazes e tecnicamente validados — mas com a sensibilidade humana e o impacto social que apenas o trabalho associativo é capaz de oferecer”.
A visão clínica: precisão, segurança e responsabilidade no uso da cannabis na medicina
Para o médico Wellington Briques, a base da prática responsável com cannabis começa muito antes da prescrição: nasce na qualidade e na padronização do produto. Ele explica que a eficácia terapêutica está diretamente ligada à consistência entre lotes e à precisão das concentrações declaradas.

“A segurança e a eficácia começam na qualidade do produto. Em cannabis medicinal, isso significa ter a padronização em mg/mL de canabinoides, com lotes consistentes. Se a concentração varia de um frasco para outro, a mesma dose deixa de ser a mesma — e o paciente sente diferenças no efeito.”
Para ele, essa previsibilidade não é opcional — é requisito clínico. Por isso, reforça a importância das Boas Práticas de Fabricação (GMP), de testes conduzidos por laboratórios independentes e do Certificate of Analysis (CoA), documento que garante exatamente o que está dentro do frasco.
“Sem padronização e CoA, não há como prescrever com precisão — e medicina sem precisão vira tentativa e erro desnecessária e antiética.”
O médico destaca que a rastreabilidade completa, por número de lote, torna-se uma ferramenta essencial tanto para prescrição quanto para intervenções rápidas caso surja algum problema. “Se surgir um problema, sei exatamente de onde veio e como agir.”
Impacto clínico da concentração e da consistência entre lotes
Médico pela USP que se dedica ao tratamento integrativo de doenças nas áreas de dor, oncologia, neurologia, ginecologia, psiquiatria, Briques explica que pequenas variações podem provocar mudanças significativas no efeito terapêutico, especialmente em condições sensíveis à concentração, como epilepsia ou dor crônica.
“Na dor crônica, muitos pacientes respondem bem a CBD dominante; alguns precisam de micro doses de THC à noite para sono e analgesia. Se o lote muda, podem surgir sonolência ou tontura durante a manhã.”
Na epilepsia, o nível de precisão é ainda mais crítico: “O controle de crises depende de CBD em dose estável. Qualquer variação entre lotes pode levar à recidiva.” - reaparecimento de uma doença ou de um sintoma, após período de cura mais ou menos longo; recorrência.
E na ansiedade, o médico reforça que o excesso de THC pode ser prejudicial, tornando indispensável a consistência das formulações: “Geralmente começo com CBD e avalio resposta. THC em excesso pode piorar ansiedade em pessoas suscetíveis.”
Por isso, Briques afirma que sempre insiste na continuidade da mesma marca e mesma concentração, com acesso regular ao CoA do lote: “Assim, quando ajusto 5 mg a mais ou a menos, sei o que estou fazendo.”
Riscos dos produtos sem controle e da prescrição inadequada
Para o médico, produtos sem controle de qualidade representam riscos sérios e totalmente evitáveis, especialmente para pessoas vulneráveis. “Produtos sem controle podem conter pesticidas, solventes residuais, metais pesados, fungos ou bactérias — risco especialmente sério em imunossuprimidos e idosos.”
Ele destaca ainda os perigos de rótulos imprecisos: “É possível que um produto prometa X e entregue Y. O resultado será ineficácia ou eventos adversos.”
Mas talvez seu alerta mais contundente seja o direcionado a prescritores mal preparados. Ele relata casos concretos de erros grosseiros:
“Já vi prescrições com 60 mg de THC por dia para começar um tratamento, associado a 100 mg de CBG e 20 mg de CBD. Um desastre potencial para qualquer paciente.”
Por isso, reforça que escolher produtos com GMP e CoA atualizado não é mero formalismo — é cuidado clínico.
“Ciência de produção importa. Escolher fabricantes com GMP e CoA por lote não é burocracia; é ato de segurança.”
Educação do paciente e uso seguro
O médico também se dedica à orientação detalhada dos pacientes, começando por um ponto frequentemente negligenciado: as doses não devem ser medidas em gotas. “As doses são em miligramas, não gotas. A gota muda dependendo do conta-gotas, concentração e outros fatores.”
Ele segue o princípio clássico da medicina cannabinóide: “Start low, go slow.”
Além disso, destaca a importância de avaliar interações medicamentosas — especialmente com benzodiazepínicos, antiepilépticos e varfarina — e de orientar o armazenamento adequado dos frascos.
Outro alerta essencial envolve o risco do THC ao volante: “O uso recreativo do THC aumenta em 25% a probabilidade de acidente automobilístico. Não dirigir se usar THC.”
A prática de registrar dose, horário e efeito também é subestimada, mas fundamental:
“Isso acelera o acerto fino da prescrição.”
A cadeia multidisciplinar e a responsabilidade coletiva
Para Briques, a cannabis medicinal funciona quando há integração entre profissionais e responsabilidade em todas as etapas: “O tratamento é multidisciplinar. Médico, dentista e veterinário fazem avaliação clínica e titulação; farmacêuticos fazem checagem e farmacovigilância; biomédicos e químicos garantem CoA por lote e ausência de contaminantes; a indústria é responsável por GMP e rastreabilidade.”
Quando essa engrenagem opera corretamente, o resultado é um: “O paciente recebe produto padronizado, orientação clara e acompanhamento contínuo — que é o que realmente protege e melhora a vida dele.”
Ele encerra com uma afirmação que resume toda a sua abordagem: “Cannabis não é panaceia. Funciona melhor quando usada com critérios clínicos por profissionais treinados, produto padronizado e acompanhamento próximo. Minha promessa é prudência, transparência e mensuração de resultados — sempre.”
A química por trás da cannabis: por que a estrutura molecular define a eficácia
Em um setor onde pequenas diferenças químicas podem alterar completamente o efeito terapêutico, garantir padronização, pureza e controle rigoroso deixou de ser apenas uma exigência regulatória — tornou-se uma questão central de segurança do paciente.

Para especialistas, como o químico industrial e pesquisador Dr. Ubiracir F. Lima Filho, da UFRJ e membro do Conselho Federal de Química, compreender a composição dos produtos e padronizá-los é vital para que médicos saibam exatamente o que prescrevem e pacientes recebam aquilo que esperam. “Pequenas mudanças estruturais nos canabinoides podem potencializar ou reduzir o efeito terapêutico”, explica o pesquisador .
Por que qualidade importa?
Ao contrário de medicamentos sintéticos, cuja molécula ativa é única e estável, produtos derivados da cannabis envolvem misturas complexas de dezenas de compostos, como canabinoides, terpenos e flavonoides. Uma leve variação na fórmula pode alterar:
- potência
- duração do efeito
- tipo de resposta terapêutica
- perfil de segurança
Por isso, especialistas defendem que o setor avance para níveis mais altos de controle — do cultivo ao frasco final.
O “encaixe” perfeito: estrutura química determina o efeito
Embora CBD e THC sejam os canabinoides mais conhecidos — e dividam a mesma fórmula molecular (C₂₁H₃₀O₂) — eles não se comportam da mesma forma no organismo. A explicação, segundo o Dr. Ubiracir, está na estrutura tridimensional dessas moléculas, conceito chave da Química Medicinal .

O pesquisador recorre ao modelo clássico de “chave e fechadura”, proposto por Emil Fischer em 1902: o efeito terapêutico só ocorre quando a molécula (a chave) se encaixa perfeitamente no receptor do corpo (a fechadura).
No caso do THC, a presença de um éter cíclico impede rotações internas e cria um formato “linear”, enquanto o CBD possui uma conformação em “cruz”. O resultado é que cada um interage de forma distinta com nossos receptores biológicos — e produz efeitos completamente diferentes.
Esse exemplo ilustra um ponto crucial: qualquer alteração estrutural precisa ser conhecida, controlada e padronizada.
A ciência mostra: o detalhe importa
Estudos citados pelo Dr. Ubiracir reforçam que mudanças mínimas na cadeia química influenciam diretamente a potência de canabinoides analógicos, como THCV, THC e THCP — este último, apesar de muito mais potente, aparece em concentrações naturais extremamente baixas, o que exige ainda mais cuidado analítico .
A conclusão é inequívoca: controle químico refinado é indispensável.
Padronização: a base da confiança médica e do tratamento
Um dos maiores desafios enfrentados por médicos que prescrevem cannabis no Brasil é a falta de padronização entre produtos.
Sem garantias sobre:
- quantos mg/mL de CBD
- quantos mg/mL de THC
- perfil de terpenos
- presença de impurezas
- estabilidade de lote
torna-se impossível prever com precisão o efeito terapêutico.
Na prática, isso significa que dois frascos aparentemente iguais podem produzir respostas terapêuticas completamente diferentes — o que compromete o tratamento, a adesão e a segurança do paciente.

Da planta ao frasco: controle em todas as etapas
A qualidade depende de um ciclo integrado de boas práticas:
1. Cultivo
- Genética rastreada
- Condições ambientais estáveis
- Controle de pragas e fungos
- Colheita e secagem adequadas
2. Extração
Processos mal executados podem deixar resíduos tóxicos ou degradar canabinoides sensíveis.
3. Formulação
É necessário estabilizar a concentração de compostos ativos, evitando variações indesejadas entre lotes.
4. Testes laboratoriais
Análises obrigatórias incluem:
- perfil de canabinoides
- solventes residuais
- metais pesados
- microrganismos
- pesticidas
“Caracterizar e padronizar o maior número possível de componentes em extratos e produtos é fundamental”, reforça o pesquisador .
A importância do QSAR: prever efeitos, aumentar segurança
O pesquisador também destaca a aplicação do QSAR (Relações Quantitativas entre Estrutura e Atividade), abordagem que identifica padrões químicos capazes de prever interações fármaco–receptor .
Essa ferramenta permite:
- prever potência
- reduzir riscos
- melhorar formulações
- entender sinergias e modulações terapêuticas
Tratamentos mais precisos dependem diretamente desse tipo de análise avançada.
Qualidade não é detalhe, é o pilar do tratamento seguro
A cannabis medicinal só poderá atingir todo o seu potencial terapêutico quando a indústria adotar padrões rígidos e científicos de qualidade. A química — como reforça o Dr. Ubiracir — mostra que diferenças minúsculas podem gerar efeitos completamente distintos.
Para o paciente, isso significa:
- mais segurança
- menos eventos adversos
- tratamentos mais previsíveis
- maior confiança na prescrição
E para o setor como um todo, representa maturidade, credibilidade e impacto social real.
A mensagem é clara: sem qualidade, não há cannabis medicinal — há apenas risco. Com qualidade, há ciência, saúde e futuro.



