“Estamos perdendo tempo”: por que o Brasil precisa avançar na regulamentação da cannabis medicinal
Marcelo Polacow Bisson, do CRF-SP, defende que a revisão da lei sobre cannabis medicinal pode impulsionar pesquisas e abrir espaço para novas empresas no Brasil
Publicada em 28/05/2025

Como a regulamentação da cannabis pode mudar o cenário da saúde no Brasil? | Imagem: CanvaPro
Apesar do crescente interesse da comunidade científica e do setor farmacêutico na cannabis medicinal, a legislação atual ainda é considerada um entrave para o pleno desenvolvimento de pesquisas e negócios na área. Mas esse cenário pode estar prestes a mudar.
“Estamos perdendo tempo e oportunidades de inovar no setor farmacêutico”, alerta Marcelo Polacow Bisson, presidente do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (CRF-SP). Segundo ele, a revisão das leis que regulam o uso medicinal da cannabis pode abrir caminhos até então bloqueados. “A expectativa é que o país flexibilize o desenvolvimento de pesquisas relacionadas ao tema e, consequentemente, crie espaço para o desenvolvimento de empresas interessadas”, pontua.
Cannabis Medicinal: um solo fértil para a ciência
O Brasil tem tudo para se destacar quando o assunto é cannabis medicinal. As condições climáticas favorecem o cultivo e a expertise agrícola é inegável. O que falta? Uma legislação mais moderna e sensível às demandas da ciência e da saúde pública.
“Desde o plantio, que ainda não está regulamentado, estamos perdendo tempo”, reforça Bisson. A afirmação dele ecoa entre pesquisadores e profissionais da saúde que, há anos, lutam por condições legais que permitam não só a realização de estudos, mas também a produção de medicamentos derivados da planta em território nacional.
Epilepsia refratária, dor crônica, náuseas decorrentes de tratamentos oncológicos... Esses são apenas alguns dos quadros que já se beneficiam da cannabis medicinal ao redor do mundo. Com uma legislação mais permissiva, o Brasil não só poderia acelerar suas pesquisas, como também garantir o acesso mais seguro e acessível à população.
Além disso, a regulamentação abre espaço para a criação de novos negócios, movimentando a economia e gerando empregos. “A flexibilização da legislação ajudará universidades e centros de pesquisa a desenvolver novas fórmulas e medicamentos, além de estimular a criação de empresas no setor”, pontua o presidente do CRF-SP.
O que o mundo tem a ensinar sobre a regulamentação da Cannabis Medicinal
Casos de sucesso não faltam. Canadá, Israel e diversos estados norte-americanos já colhem os frutos de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento da cannabis medicinal. Nessas regiões, a regulamentação proporcionou não apenas avanços científicos, mas também impacto positivo na economia e, claro, no bem-estar da população.
“O Brasil tem o potencial de ser um player importante no cenário internacional, mas precisamos de um ambiente legal mais favorável”, explica Bisson.
Apesar do otimismo, os desafios ainda são grandes. A regulamentação depende da aprovação de projetos de lei que esbarram em resistências políticas e culturais. Além disso, a atuação de órgãos reguladores como a ANVISA será fundamental para garantir a segurança e a eficácia dos produtos que chegarem ao mercado.
Um exemplo recente da mobilização por mudanças é a união entre o CRF-SP e um grupo de pesquisadores da Unicamp. Juntos, eles apresentaram à ANVISA um apelo pela ampliação do uso da cannabis medicinal no Brasil. A ação marca um passo importante na construção de uma ponte entre ciência, regulação e mercado.
Um futuro promissor para a saúde pública
Com uma legislação que favoreça a pesquisa e o empreendedorismo, o Brasil pode finalmente transformar seu potencial em realidade. “A revisão das leis não é só uma questão burocrática. É uma questão de saúde pública, de inovação e de cuidado com a população”, conclui Marcelo Bisson.
Se as mudanças saírem do papel, o país poderá ocupar um lugar de destaque no mapa da cannabis medicinal. E, mais do que isso, poderá oferecer novas possibilidades de tratamento a milhares de brasileiros que hoje enfrentam dificuldades de acesso, burocracias e altos custos.