Canabidiol: aliado na recuperação atlética ou risco de doping?
Pesquisadores brasileiros analisam os benefícios do canabidiol para atletas e os desafios regulatórios que colocam carreiras em risco devido à contaminação por substâncias proibidas
Publicada em 18/10/2025

um artigo de pesquisadores brasileiros revela um paradoxo: apesar de permitido, o uso de CBD para atletas no Brasil envolve um alto risco de contaminação por tetra-hidrocanabinol (THC), colocando-os entre a inovação terapêutica e uma violação de doping.
O canabidiol (CBD) surge como um potente aliado na recuperação, sono e controle da ansiedade de atletas. No entanto, um artigo de pesquisadores brasileiros revela um paradoxo: apesar de permitido, o uso de CBD para atletas no Brasil envolve um alto risco de contaminação por tetra-hidrocanabinol (THC), colocando-os entre a inovação terapêutica e uma violação de doping.
O estudo, intitulado "Cannabidiol in Sports: A Brazilian Perspective", propõe que o CBD oferece um efeito ergogênico indireto. Ou seja, não melhora a performance diretamente, mas otimiza as condições para que o atleta treine e compita em seu melhor estado.
Isso ocorreria pela melhora na qualidade do sono, redução da ansiedade pré-competição e aceleração da recuperação muscular. Além disso, o canabidiol surge como uma alternativa mais segura aos opioides e anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), frequentemente usados para o manejo da dor crônica.
Apesar do potencial terapêutico, o cenário é complexo. O princípio da "responsabilidade estrita" da Agência Mundial Antidoping (WADA) considera o atleta 100% responsável por qualquer substância proibida encontrada em seu corpo, independentemente da intenção.
O perigo é real. Segundo uma análise presente no artigo, quatro de 11 produtos de CBD comercializados continham THC em níveis suficientes para exceder o limite permitido pela WADA. Isso transforma o uso de CBD para atletas em uma decisão de alto risco.
Barreiras culturais e regulatórias no Brasil
Para o médico e coautor do estudo, Dr. Aderbal Aguiar, os principais desafios são culturais e regulatórios, não científicos. "O médico que prescreve precisa conhecer profundamente o produto que está indicando — sua origem, lote e certificações — para evitar qualquer violação inadvertida das regras antidoping", adverte.
Aguiar aponta que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda enquadra o canabidiol em uma lógica semelhante à de substâncias perigosas. "O CBD é um psicotrópico, pois atua no sistema nervoso central, mas não é psicoativo. Sua classificação indevida impõe entraves desnecessários ao uso clínico", explica.

O médico e pesquisador Dr. Jimmy Fardin, também autor do artigo, reforça a barreira do estigma. "A grande maioria dos clubes e confederações esportivas não tem confiança nos produtos e receio de acusarem nos testes antidoping, além de não terem o conhecimento sobre o potencial da cannabis", afirma.
Potencial de uso do CBD para atletas
O interesse no CBD para atletas cresce à medida que mais profissionais buscam soluções para os desgastes do alto rendimento. Segundo o Dr. Fardin, a maioria poderia se beneficiar, tratando desde inflamações crônicas e dores até insônia e ansiedade.
"Atletas pugilistas, que sofrem traumas cranianos, também podem diminuir a neuroinflamação crônica segundo estudos recentes", detalha Fardin. No entanto, a dificuldade está na comprovação científica robusta, pois a maioria dos estudos é feita com amadores.
O Caminho para um uso seguro e eficaz
Para que o CBD para atletas seja integrado de forma segura no esporte brasileiro, os autores recomendam mais pesquisas, padronização de produtos e programas educacionais. A certificação de pureza é fundamental para garantir a ausência de THC.
Uma solução, segundo o Dr. Fardin, seria a criação de "parcerias com universidades que já fazem testes de certificação de análises dos produtos". O sucesso do canabidiol na medicina esportiva dependerá de um esforço conjunto para superar as barreiras de qualidade, evidência e, sobretudo, o preconceito.