Canabidiol pode inibir câncer do ducto biliar, aponta estudo tailandês

Pesquisadores identificam que o CBD reduz a proliferação de células cancerígenas e induz morte celular no colangiocarcinoma

Publicada em 26/02/2025

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Imagem ilustrativa: Canva.

Um estudo tailandês publicado recentemente no periódico Journal of Traditional and Complementary Medicine revelou que o canabidiol (CBD) pode ser uma alternativa terapêutica promissora para o tratamento do colangiocarcinoma (CCA), um tipo agressivo de câncer do ducto biliar, que é um tubo longo ligado ao fígado e que transporta bile. A pesquisa mostrou que o CBD inibe a proliferação celular, induz autofagia e senescência, além de promover a morte celular, também conhecida como apoptose, por meio da modulação da via PI3K/AKT/mTOR.

 

Como o CBD atua no colangiocarcinoma?

 

O colangiocarcinoma é um tipo de câncer que afeta os ductos biliares, canais responsáveis por transportar a bile do fígado para o intestino. Como costuma ser diagnosticado em estágios avançados, as opções de tratamento são limitadas. No estudo, os cientistas analisaram o efeito do CBD em três tipos diferentes de células tumorais e também em modelos animais. Os resultados indicaram que a substância conseguiu reduzir significativamente o crescimento das células cancerígenas.

O CBD demonstrou um efeito importante ao induzir a chamada senescência celular. Esse processo ocorre quando as células entram em um estado de envelhecimento, perdendo a capacidade de se multiplicar. Isso impede que o tumor continue crescendo. Além disso, foi observada a ativação da autofagia, um mecanismo pelo qual a célula recicla componentes internos danificados. Embora esse processo seja normalmente benéfico para a célula, no caso do câncer, ele pode ser usado para eliminar células tumorais defeituosas.

 

A importância da via PI3K/AKT/mTOR no câncer

 

Uma das descobertas mais relevantes do estudo foi a ação do CBD na via PI3K/AKT/mTOR, um dos principais caminhos moleculares envolvidos na proliferação e sobrevivência das células tumorais. Essa via funciona como um "interruptor" que regula o crescimento celular. No câncer, ela costuma estar hiperativada, permitindo que as células se multipliquem rapidamente. O CBD foi capaz de suprimir essa via, reduzindo a capacidade das células cancerígenas de sobreviver.

Os pesquisadores também observaram um aumento na expressão de proteínas que ajudam a controlar o crescimento celular, como p53 e p21. Essas proteínas atuam como “freios” para a divisão celular descontrolada, um dos principais problemas no câncer. Além disso, foi detectada uma redução na proteína PCNA, que está diretamente ligada à proliferação de células tumorais.

 

Resultados promissores em modelos animais

 

Além dos testes em células cultivadas em laboratório, o estudo também avaliou os efeitos do CBD em camundongos com tumores de colangiocarcinoma. Nos animais tratados com a substância, houve uma redução significativa no tamanho dos tumores em comparação com os que não receberam o tratamento. Esse achado sugere que o CBD pode ter aplicações terapêuticas reais e não apenas efeitos observados em ambiente controlado de laboratório.

Outro ponto importante foi a constatação de que o CBD induziu mudanças na estrutura das células tumorais, tornando-as mais suscetíveis à morte celular. A disfunção mitocondrial observada nos tumores tratados indica que o metabolismo das células cancerígenas foi afetado, dificultando sua sobrevivência. Esse tipo de abordagem é promissora porque ataca o câncer de diferentes maneiras, aumentando a chance de sucesso do tratamento.

 

Possibilidades para tratamentos futuros

 


Os resultados do estudo sugerem que o CBD pode ser um candidato para futuras terapias combinadas contra o colangiocarcinoma. No entanto, os pesquisadores alertam que mais estudos são necessários para entender completamente seus efeitos e garantir sua segurança. A pesquisa abre caminho para testes clínicos em humanos, que serão fundamentais para confirmar a eficácia da substância e definir a dosagem ideal para o tratamento.

Caso os ensaios clínicos sejam bem-sucedidos, o CBD poderá ser incorporado às terapias existentes para o colangiocarcinoma, melhorando as opções de tratamento para os pacientes. Atualmente, as principais abordagens incluem cirurgia, quimioterapia e terapias-alvo, mas a taxa de sucesso ainda é limitada, especialmente nos casos avançados. A possibilidade de utilizar o canabidiol como um tratamento complementar traz esperança para melhorar a sobrevida e a qualidade de vida dos pacientes.

Com o crescente interesse nas propriedades terapêuticas do canabidiol, pesquisas como essa reforçam a necessidade de mais investimentos no estudo dos canabinoides. A descoberta de novos mecanismos de ação do CBD pode abrir portas para sua aplicação em outros tipos de câncer, além de contribuir para o avanço da medicina personalizada.