Canabinoides ácidos: a química que revela a integridade da cannabis

Estudo brasileiro revela o papel dos canabinoides ácidos como marcadores de frescor, qualidade e autenticidade da cannabis, e propõe revisão dos protocolos forenses usados no país

Publicada em 21/10/2025

Canabinóides ácidos: a química que revela a integridade da cannabis

THCA, CBDA e CBGA: os compostos que estão redefinindo a análise da cannabis no Brasil | CanvaPro

Um grupo de pesquisadores brasileiros propôs uma revisão profunda nos métodos oficiais de análise forense da cannabis, destacando um elemento até então negligenciado: os canabinoides ácidos. 


O estudo, publicado na Revista Contemporânea, indica que compostos como THCA, CBDA e CBGA não apenas ajudam a medir a qualidade e o frescor da planta, mas também funcionam como marcadores confiáveis em perícias criminais e no controle de qualidade de produtos medicinais.


Segundo os autores, o Procedimento Operacional Padrão (POP) usado por laboratórios forenses no Brasil apresenta lacunas importantes: não distingue adequadamente os canabinoides ácidos dos neutros, ignora padrões visuais de cromatografia e se apoia em solventes de alta toxicidade e baixa polaridade, o que compromete a separação precisa dos compostos. 

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Como solução, o artigo propõe a adoção de protocolos mais modernos, como o Alpha-CAT - uma ferramenta de bem-estar inspirada nos usos médicos do cannabis, já utilizado em países da Europa, que incorpora códigos de cor, valores de retenção (Rf) e padrões visuais padronizados.


Marcadores de frescor e autenticidade


Os canabinoides ácidos são as formas originais produzidas pela planta, antes de passarem pela descarboxilação, processo químico que, ao ser induzido por calor, transforma o THCA em THC e o CBDA em CBD. 


A presença desses compostos, portanto, revela que a amostra foi bem armazenada, sem exposição prolongada ao sol ou ao calor, o que os torna excelentes indicadores de integridade vegetal.


Nas análises apresentadas, os pesquisadores observaram que amostras de cannabis prensada, comumente oriundas do Paraguai, apresentaram ausência total de canabinoides ácidos, sinal claro de degradação e baixa qualidade. 


Já amostras medicinais, cultivadas sob boas práticas de colheita e armazenamento, mantiveram altos níveis desses compostos, comprovando o valor dos canabinoides ácidos como indicadores de frescor e pureza.


Da bancada ao impacto regulatório


A pesquisa reforça a necessidade de atualização do POP brasileiro, aproximando o país das práticas internacionais em química forense e farmacognosia. O reconhecimento dos canabinoides ácidos como marcadores de qualidade pode influenciar desde o controle sanitário de produtos medicinais até a diferenciação entre cannabis de uso médico e amostras degradadas do mercado ilícito.