Cânhamo com THC na mira: proposta conservadora pode paralisar setor nos EUA

Um novo projeto de lei proposto por republicanos no Congresso dos EUA ameaça a sobrevivência da indústria do cânhamo, ao tentar proibir qualquer produto com canabinoides que tenham efeitos semelhantes ao THC

Publicada em 18/06/2025

Cânhamo com THC na mira: proposta conservadora pode paralisar setor nos EUA

Quando o THC do cânhamo vira vilão: defensores alertam para um impacto "devastador" em agricultores, consumidores e pequenos negócios | CanvaPro

A indústria do cânhamo americano, que floresceu com promessas de saúde, inovação e economia verde desde 2018, está sob risco de murchar. Um novo projeto de lei proposto por um comitê da Câmara dos Deputados dos EUA, liderado por republicanos, busca alterar profundamente a definição federal do que é cânhamo, proibindo produtos com qualquer quantidade “quantificável” de THC ou outros canabinoides com efeitos semelhantes.


Essa nova redação legal, incluída discretamente em um projeto de lei de gastos para o ano fiscal de 2026, soa como um retrocesso para defensores da planta e para as mais de 50 mil aplicações já conhecidas do cânhamo. A proposta foi apresentada pela Subcomissão de Dotações da Câmara para Agricultura e Administração de Alimentos e Medicamentos, presidida pelo deputado Andy Harris, conhecido por seu histórico antimaconha.


Caso aprovada, a medida poderá inviabilizar boa parte dos produtos de CBD que hoje são amplamente vendidos e consumidos, inclusive os que não causam efeitos psicoativos, mas que contêm traços de THC dentro do limite legal atual de 0,3%.

 

Vozes da indústria: “devastador para quem planta e para quem precisa”



“O impacto seria devastador”, alerta Jonathan Miller, conselheiro da US Hemp Roundtable. “Agricultores perderiam suas safras, consumidores ficariam sem acesso a produtos que já fazem parte da rotina de cuidados com saúde e bem-estar.”
Em outras palavras: o que hoje é remédio, suplemento, ou até ritual de autocuidado, pode virar item proibido de prateleira.


A linguagem da proposta não é inédita. Algo muito semelhante já havia aparecido na Lei Agrícola de 2024, sem aprovação. Mas agora, retorna com uma nova roupagem e com o apoio de grupos como a organização Smart Approaches to Marijuana, que comemorou a proposta como “uma vitória para as crianças e a saúde pública”.


O texto do novo projeto vai além da simples proibição de produtos com THC. Ele redefine o que é considerado “quantificável”, deixando essa avaliação ao critério das autoridades de saúde e agricultura e também exclui do conceito de cânhamo qualquer substância que seja ou tenha efeito semelhante ao THC, mesmo que seja usada de forma terapêutica em humanos ou animais.


Por outro lado, o projeto faz uma exceção específica para medicamentos aprovados pela FDA, como o Epidiolex, que é feito a partir do CBD. Na prática, isso pode proteger apenas grandes laboratórios, enquanto pequenos produtores e consumidores ficam de fora.

 

Uma disputa entre ciência, política e ideologia


Além da contradição com a política adotada durante o primeiro governo Trump, que legalizou o cânhamo industrial em 2018, a nova proposta vem na contramão da percepção popular. Pesquisas mostram que os americanos veem a cannabis como menos perigosa do que o álcool ou os cigarros. Ainda assim, a ameaça à regulamentação segue viva no Congresso.


Nos bastidores, as partes interessadas tentam conter o avanço do projeto, alertando para seus impactos reais: empregos perdidos, tratamentos interrompidos e empreendedores desamparados. “É uma emergência. E precisamos agir como tal”, disse Miller.


Por enquanto, o futuro do cânhamo com THC segue como uma planta em terreno instável, à mercê do clima político e das ideologias que sopram sobre o Capitólio.

Com informações do Marijuana Moment. 

Leia também

Cânhamo: a planta que não entorpece, mas pode curar e construir

Especialista explica as diferenças entre cânhamo e maconha e os desafios da regulamentação no Brasil