Ondas de calor e noites mal dormidas: a cannabis como aliada da menopausa

Quase 80% das mulheres na meia-idade recorrem à cannabis ou CBD para aliviar sintomas da menopausa, como sono e humor, revela pesquisa da Menopause

Publicada em 17/09/2025

Ondas de calor e noites mal dormidas: a cannabis como aliada da menopausa

CBD e bem-estar na meia-idade: o novo caminho para enfrentar a menopausa | CanvaPro

Ondas de calor, noites mal dormidas e alterações de humor são efeitos comuns da menopausa, mas ainda pouco discutidos no dia a dia. Uma pesquisa publicada na revista Menopause revelou que quase 80% das mulheres na meia-idade recorrem à cannabis ou ao CBD para aliviar esses sintomas.

Conduzida por pesquisadores do Massachusetts General Hospital e da Harvard Medical School, a pesquisa ouviu 258 participantes — 131 em perimenopausa e 127 em pós-menopausa — recrutadas por meio de plataformas digitais e redes sociais entre 2020 e 2021.

Em uma publicação da Harvard Health Publishing, a Dra. Heather Hirsch, do Brigham and Women’s Hospital (Harvard), disse que cada vez mais pacientes relatam uso de cannabis para dormir ou controlar ansiedade. A legalização em diversos estados e a facilidade de acesso tornam a planta uma alternativa atraente, apesar da falta de estudos de longo prazo sobre segurança e eficácia.

Uso expressivo de cannabis

 

Os números chamam atenção: 86,1% das entrevistadas relataram uso atual de cannabis, e 78,7% disseram utilizá-la especificamente para lidar com sintomas da menopausa.


As formas mais comuns de consumo foram o fumo (84,3%) e os comestíveis (78,3%).

Entre os principais motivos de uso destacaram-se:

  • Distúrbios do sono (67,4%), problema frequente e debilitante;

  • Ansiedade e alterações de humor (46,1%);

  • Sintomas vasomotores, como ondas de calor e suores noturnos, que atingem de 60% a 80% das mulheres nessa fase da vida.

     

Perimenopausa mais desafiadora

 

As diferenças entre os dois grupos analisados foram significativas. Mulheres em perimenopausa, período de transição antes do fim definitivo da menstruação, relataram sintomas mais intensos do que as já em pós-menopausa.
Elas apresentaram:

  • Maior prevalência de ansiedade (P < 0,01) e depressão (P = 0,03);

  • Maior carga de ondas de calor (P = 0,04);

  • Maior uso da cannabis especificamente para tratar alterações de humor e ansiedade (P = 0,01).

Já entre as participantes em pós-menopausa, foi registrada maior incidência de condições neurológicas, como o glaucoma.

O papel do sistema endocanabinoide

 

Os autores lembram que a queda de estrogênio e progesterona, característica da menopausa, desencadeia uma série de sintomas físicos e emocionais. O sistema endocanabinoide, que regula processos como sono, humor, ansiedade e temperatura corporal, parece desempenhar papel central nessa fase da vida.

Pesquisas pré-clínicas mostram que o estrogênio influencia a produção de anandamida, um canabinoide endógeno, e que a sua ausência leva à redução da atividade de receptores canabinoides. Em modelos animais, a administração de anandamida ou de compostos que impedem sua degradação foi capaz de reduzir a ansiedade e reverter alterações vasomotoras. Isso sugere que os canabinoides possam, de fato, compensar parte dos efeitos da deficiência hormonal.

Alternativa às terapias hormonais

 

Embora a terapia hormonal seja uma opção amplamente utilizada, seus riscos e efeitos colaterais, como oscilações de humor, fadiga e aumento da probabilidade de alguns tipos de câncer, levam muitas mulheres a buscar alternativas. Nesse contexto, a cannabis medicinal se apresenta como uma estratégia não hormonal promissora, com potencial de eficácia e menos efeitos adversos.

Além disso, a utilização de cannabis para sintomas relacionados à saúde da mulher não é novidade: registros históricos já mencionavam o uso da planta no alívio de queixas ligadas à menopausa. O atual movimento de legalização apenas ampliou o acesso e o interesse por essa possibilidade terapêutica.

 

Expectativas x realidade

 

Outro ponto relevante destacado pelos pesquisadores é o papel da expectativa. Estudos anteriores mostraram que mulheres acreditam que a cannabis pode ser eficaz principalmente para sintomas como irritabilidade, dores musculares e articulares, insônia, ansiedade e ondas de calor. Essa expectativa pode influenciar tanto a adesão quanto a percepção dos resultados.

Por isso, os autores defendem que é fundamental diferenciar o efeito placebo das reais propriedades terapêuticas da cannabis em ensaios clínicos.

 

Impacto social e necessidade de novas pesquisas

 

Os sintomas da menopausa representam um fardo significativo: vão além do desconforto físico, atingindo autoestima, produtividade e qualidade de vida. Segundo os pesquisadores, isso torna ainda mais urgente a busca por novas terapias seguras e eficazes.

Embora os dados do estudo indiquem que a cannabis medicinal já é utilizada de forma ampla para esse fim, ainda não se sabe quais formulações, perfis de canabinoides e dosagens são mais eficazes para cada sintoma.

“Os resultados sugerem que muitas mulheres estão usando cannabis como tratamento complementar para a menopausa, especialmente no alívio de distúrbios do sono e de alterações de humor. No entanto, ainda são necessários estudos clínicos controlados para confirmar a eficácia e segurança dessas práticas”, concluem os autores.

Leia o estudo completo: A survey of medical cannabis use during perimenopause and postmenopause
 

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