CBD reduz febre induzida por inflamação, aponta estudo da USP

Pesquisa realizada em camundongos na Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto mostrou que a substância teve efeito antipirético seletivo

Publicada em 24/10/2025

CBD reduz febre induzida por inflamação, aponta estudo da USP

A pesquisa investigou o efeito do CBD no processo febril em camundongos. Imagem: Canva Pro

O canabidiol (CBD) pode reduzir a febre induzida por inflamação de maneira eficaz e seletiva. É o que aponta um estudo desenvolvido na Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp) da USP.

A pesquisa investigou o efeito do CBD no processo febril em camundongos. O trabalho foi publicado na revista Progress in Neuro-Psychopharmacology and Biological Psychiatry. A orientação foi do professor Luiz Guilherme Siqueira Branco, do Departamento de Biologia Básica e Oral da Forp.

Ele explica ao Jornal da USP que o interesse surgiu porque, apesar do uso amplo do CBD, seu efeito sobre a febre ainda era desconhecido. Para o docente, a pesquisa reforça a interação entre processos corporais e mentais. 

 A febre é uma resposta comum do organismo a infecções, resultado de mediadores químicos que alteram a regulação da temperatura no cérebro. Embora seja um mecanismo de defesa, quando elevada, exige tratamento com medicamentos antipiréticos. Estados inflamatórios persistentes podem contribuir para distúrbios como ansiedade e depressão.

 

O efeito antipirético do canabidiol


Os pesquisadores verificaram que o canabidiol, em dose específica, foi capaz de reduzir a febre induzida pelo LPS. "Esse efeito foi observado de forma consistente, mostrando que a substância realmente apresentou um potencial antipirético", destaca o docente.

O CBD reduziu a febre sem interferir na temperatura basal dos animais. "Isso é muito importante, porque significa que o CBD tem uma ação seletiva", afirma Branco. "Ele não causa hipotermia, apenas reduz a febre quando há inflamação."

O estudo também apontou que o canabidiol diminuiu citocinas inflamatórias (TNF-α, IL-1β e IL-6) e aumentou a anti-inflamatória IL-10. Houve ainda redução na PGE2 e na corticosterona.

"Esses achados reforçam a ação anti-inflamatória do canabidiol", explica Siqueira Branco. A substância atua em "diferentes pontos que levam ao aumento da temperatura corporal".

 

Como o estudo com CBD foi realizado


Os experimentos usaram camundongos machos que receberam injeções de lipopolissacarídeo (LPS) para induzir a febre. O canabidiol foi administrado 30 minutos antes do LPS.

Os pesquisadores monitoraram a temperatura corporal dos animais com dataloggers implantados na cavidade abdominal. Também mediram diferentes marcadores inflamatórios.

Foram analisadas citocinas, proteínas que regulam a comunicação das células de defesa. Entre as pró-inflamatórias (que aumentam a febre) estão o TNF-α, a IL-1β e a IL-6. A IL-10, por outro lado, é anti-inflamatória.

Também foram avaliados outros mediadores, como a PGE2, ligada ao aumento da temperatura no hipotálamo (AVPO). A corticosterona, hormônio do estresse que regula a inflamação, também foi medida.

Apesar dos resultados positivos, o professor destaca limitações importantes. "O nosso estudo foi feito apenas em camundongos machos e com dose única da substância."

"Ainda precisamos avaliar os efeitos em fêmeas em modelos de inflamação crônica e, principalmente, em ensaios clínicos com humanos", pondera.

 

Futuro do canabidiol como antipirético


O CBD pode ser uma alternativa promissora aos antipiréticos convencionais, segundo o docente. A substância tem potencial para ser mais segura em algumas situações clínicas.

"O CBD pode ser útil sobretudo para pacientes com contraindicação ao uso desses medicamentos", avalia, citando casos de disfunção hepática.

Próximos passos incluem investigar a periodontite induzida por ligadura e desafios com a bactéria Porphyromonas gingivalis.

Além de testar em fêmeas e humanos, novas pesquisas devem aprofundar os mecanismos envolvidos. Isso é essencial para definir a viabilidade do uso terapêutico do canabidiol no futuro.

Com informações do Jornal da USP