Com inspirações que vão do bluegrass norte-americano à literatura de Gabriel García Márquez, empresário aponta mercado "espelho" para o Brasil
O mercado australiano de cannabis medicinal se consolida como referência internacional e inspira debates no Brasil
Publicada em 15/09/2025

Diego Felipe Navarro, Global COO e cofundador da FoliuMed, durante o 4º Congresso Brasileiro da Cannabis Medicinal.
Entre a tradição cultural da música dos Estados Unidos e a literatura latino-americana premiada com o Nobel de Gabriel García Márquez, a FoliuMed aposta em referências fortes para se posicionar em um mercado cada vez mais competitivo. Analisando o mercado global, a empresa tem na Austrália seu principal foco e vê o país como um modelo inspirador para o Brasil.
“A Austrália é o mercado mais importante da indústria de cannabis atualmente”, afirmou Diego Felipe Navarro, Global COO e cofundador da FoliuMed, durante o 4º Congresso Brasileiro da Cannabis Medicinal, realizado em maio em São Paulo. Para ele, o desenvolvimento australiano serve de espelho ao Brasil.
O mercado australiano em ascensão
O setor de cannabis medicinal da Austrália vem registrando uma das trajetórias de crescimento mais rápidas do mundo. Em 2024, movimentou cerca de US$ 126 milhões e deve ultrapassar US$ 420 milhões até o final da década, segundo o Relatório de Previsão do Mercado de Cannabis Legal na Austrália 2025-2030.
Outro estudo, da Prohibition Partners, projeta que a receita ultrapassa os US$ 1,2 bilhão em 2028 — números que colocam o país ao lado de grandes mercados, como a Alemanha.
A expansão reflete a diversificação de produtos GMP disponíveis em farmácias e a popularização das clínicas de telessaúde, que ampliaram o acesso às prescrições. Em 2023, foram vendidas 3,2 milhões de unidades de cannabis medicinal, quase o dobro do ano anterior. Só no primeiro semestre de 2024, as vendas chegaram a 2,9 milhões.
Ao mesmo tempo, a Austrália fortalece sua produção doméstica. Em 2023, o cultivo local atingiu 26,6 toneladas, mas o país ainda depende de importações — principalmente do Canadá, responsável por 80% das 42,1 toneladas importadas. As exportações também avançam, somando mais de 2 toneladas, com destinos que vão da Alemanha e Reino Unido a mercados emergentes como Tailândia e Uruguai.
Relevância para o Brasil

Para Navarro, o modelo australiano é uma referência direta para o Brasil. “O mercado australiano vem amadurecendo há vários anos e tem um tamanho proporcional ao do Brasil — mesmo com pouco mais de 20 milhões de habitantes. Já o Brasil, com seus 220 milhões de habitantes, tem uma oportunidade gigantesca de crescimento”, afirmou.
Para ele, a revisão da RDC 327 pela Anvisa abre perspectivas para ampliar o portfólio de produtos. A expectativa é incluir medicamentos com maior teor de THC e novas formas farmacêuticas.
“Nos últimos 12 meses, houve uma intenção de modificar a regulamentação. Esperamos que o portfólio seja ampliado, permitindo produtos com maior teor de THC e mais formas farmacêuticas. Isso é fundamental, e é exatamente o que temos no mercado australiano”, disse Navarro.
Ele lembra ainda que a experiência internacional já influencia o marco regulatório nacional:
“O Brasil tem interesse em aprender com outros marcos regulatórios. Tivemos o privilégio de receber autoridades da Anvisa na Colômbia há alguns anos, em nossas instalações, dentro de um modelo de cooperação governo a governo. Acredito que esse processo deve continuar: aprender com geografias já desenvolvidas e, ao mesmo tempo, considerar as particularidades do país.”
Entre música e literatura
A FoliuMed opera no modelo B2C, com gestão direta de prescritores e pacientes. Suas duas marcas próprias carregam símbolos culturais distintos: a Stanley Brothers, voltada a patologias mais exigentes e inspirada no lendário duo de bluegrass norte-americano; e a Coronel Buendía, que homenageia a obra Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez.
Essa combinação, entre tradição musical e literatura latino-americana, reflete a estratégia da companhia de unir identidade cultural a um mercado altamente competitivo.
Além de diversidade cultural, para Navarro, a combinação entre inovação regulatória e qualidade farmacêutica são essenciais para sustentar o crescimento global da cannabis medicinal. Nesse contexto, a Austrália se consolida como mercado estratégico e referência para outros países — especialmente o Brasil.
Acompanhe a fala de Navarro durante o o 4º CBCM: