A contribuição dos negros na história da cannabis e do cânhamo no Brasil colonial

A produção de cânhamo no Brasil colonial e imperial revela a contribuição indispensável dos negros para a economia e cultura do período

Publicada em 20/11/2024

Consciência Negra: resistência e valorização da identidade negra em Feitorias de Cânhamo

Imagem: Canva Pro

Neste Dia da Consciência Negra, é essencial revisitar a história da produção de cânhamo no Brasil colonial e imperial, destacando a contribuição crucial da população negra, especialmente os escravizados, para o desenvolvimento dessa atividade econômica estratégica para os interesses coloniais.

Criada em 1783 no sul do Brasil, a Real Feitoria do Linho Cânhamo (RFLC) foi uma iniciativa do Estado Português com o objetivo de estabelecer a produção de cânhamo, material essencial para a fabricação de velas, cordas e outros itens utilizados pela indústria naval. Com o incentivo direto do Marquês de Pombal, a RFLC visava reduzir a dependência das importações e integrar a colônia às necessidades do império lusitano.

A produção era estruturada sobre o trabalho escravizado, com a força de trabalho composta majoritariamente por africanos. Esses trabalhadores participaram de todas as etapas do processo, desde o cultivo até a remoção e beneficiamento das fibras, utilizando conhecimentos agrícolas adquiridos em suas terras de origem. A experiência e os conhecimentos dos escravizados foram fundamentais para o funcionamento da RFLC. As dinâmicas de poder, com conflitos e negociações entre feitores, autoridades coloniais e escravizados, revelam também formas de resistência e espaços de autonomia dentro das limitações impostas pela escravidão.

 

A chegada da Cannabis e seu uso histórico

 

A Cannabis sativa foi introduzida no Brasil por escravizados africanos no século XVI. Conhecida como "fumo de Angola", sua utilização inicial estava relacionada a práticas culturais e medicinais, adotadas também por indígenas. A planta foi gradativamente integrada aos contextos socioeconômicos locais e à navegação portuguesa.

A produção estatal de cânhamo no Brasil, como nas Feitorias do Linho Cânhamo, reflete uma priorização econômica, com o trabalho escravo desempenhando papel central. As Ordens da Coroa Portuguesa incentivaram a produção agrícola, e os escravizados trouxeram o conhecimento necessário para o cultivo e manejo da cannabis, garantindo sua importância na economia colonial.

 

Outras iniciativas e continuidade do trabalho

 

Além da RFLC, outras iniciativas industriais no Brasil também utilizaram mão de obra negra escravizada para a produção de cânhamo e tecidos. A Companhia Fábrica de Tecidos Cânhamo Juta, por exemplo, teve grande relevância ao longo do século XIX, em um contexto de transição econômica e debates sobre a abolição da escravidão.

A exploração da mão de obra escravizada se estendeu até o final do período imperial, com os trabalhadores negros continuando a ser fundamentais nas atividades agrícolas e industriais relacionadas ao cânhamo. Mesmo após a abolição da escravidão, em 1888, os negros enfrentaram enormes dificuldades para se inserirem no mercado de trabalho formal, muitas vezes se sujeitando a condições análogas à escravidão.

 

Legado histórico e desafios contemporâneos

 

A exploração da mão de obra escravizada se estendeu até o final do período imperial, com os trabalhadores negros continuando a ser fundamentais nas atividades agrícolas e industriais relacionadas ao cânhamo. Mesmo após a abolição da escravidão, em 1888, os negros enfrentaram enormes dificuldades para se inserirem no mercado de trabalho formal, muitas vezes se sujeitando a condições análogas à escravidão.

O Dia da Consciência Negra, realizado em 20 de novembro, é um dado significativo que remonta à morte de Zumbi dos Palmares, um dos maiores líderes da resistência contra a escravidão no Brasil. Zumbi foi assassinado em 1695 por bandeirantes comandados por Domingos Jorge Velho, e sua morte simboliza o fim do Quilombo dos Palmares, um dos maiores redutos de liberdade para negros no período colonial.

Em nota divulgada pelo Governo, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, ressalta: "Celebrar a consciência negra é lembrar quem somos, de onde viemos e o que significa sermos um país de maioria negra, respeitando e promovendo a diversidade e a valorização de todos os brasileiros e brasileiros."

 

Referencias:

- SciELO - Real Feitoria do Linho Cânhamo

- Unespar - Memórias e Feitorias do Linho Cânhamo

- Redalyc - Os escravos da feitoria do linho cânhamo: trabalho, conflito e negociação

- SciELO - A história da maconha no Brasil