A ciência por trás dos perfumes da maconha

Nova revisão científica revela como genética, cultivo e pós-colheita influenciam os aromas e sabores da cannabis, ampliando o entendimento sobre seu potencial terapêutico e sensorial

Publicada em 10/07/2025

A ciência por trás dos perfumes da maconha

Saiba como nasce o aroma único da cannabis | Reprodução IA

Uma coisa é fato. O cheiro da cannabis é inconfundível. Mesmo quem nunca teve contato direto com a planta reconhece seu aroma marcante que, muitas vezes é cítrico, terroso, amadeirado, picante ou floral. 

No campo, no laboratório ou no dispensário, o perfume da cannabis desperta memórias, sensações e, cada vez mais, interesse científico. Uma nova revisão publicada na revista Molecules mergulha nesse universo sensorial e revela que os sabores e aromas da planta não são apenas agradáveis ao olfato, eles carregam informações genéticas, ambientais e terapêuticas que moldam a identidade de cada variedade.

O estudo reúne pesquisadores da Suíça, Alemanha e Espanha em torno de uma pergunta que há tempos inquieta consumidores e produtores: o que, afinal, dá à cannabis seu sabor e aroma característicos?


Mais que terpenos: o complexo perfil da planta


Durante anos, os terpenos ocuparam o centro das atenções. São eles que, em grande parte, dão à cannabis seu cheiro tão marcante, aquele que denuncia a presença da planta mesmo antes de vê-la. Mas a ciência está olhando além. Flavonoides, fenóis, aldeídos, cetonas, ésteres e compostos com enxofre também participam dessa orquestra aromática. 

E não tocam sozinhos: são regidos pela genética da planta, pelo solo em que crescem, pela luz que recebem, pela água, pelo estresse e até pela forma como são colhidos, secos e armazenados.

“O aroma e o sabor da Cannabis sativa L. são sua assinatura no mundo”, afirmam os autores da revisão. E assim como uma assinatura, são únicos, irreproduzíveis e, muitas vezes, sensíveis demais propensos à degradação se não forem bem cuidados.


Do gene à prateleira: tudo influencia


Manipular os genes da planta pode mudar completamente seu perfil sensorial. Mas os pesquisadores alertam: a genética sozinha não basta. A forma como a planta é cultivada, a intensidade da luz UV, os nutrientes do solo e o tipo de secagem após a colheita influenciam tanto quanto, ou até mais, na criação desses sabores e aromas.

Ao unir essas três frentes — genética, agronomia e manejo pós-colheita — é possível, segundo os cientistas, atingir “os resultados mais eficazes”. Isso inclui, por exemplo, escolher uma variedade com alto potencial aromático, cultivá-la com luz adequada e depois secá-la com precisão quase cirúrgica.


A roda dos sabores


Inspirados por práticas já consolidadas em produtos como café, chá, vinho e tabaco, os pesquisadores propõem a criação de uma “roda de sabores” da cannabis. Um guia sensorial que ajudaria tanto consumidores quanto cientistas a nomear, classificar e aprofundar suas experiências com a planta.

Na prática, isso significa identificar que o linalol lembra lavanda, que o limoneno traz limão e laranja, que o pineno semelha pinho e que o cariofileno pode lembrar especiarias. Mas não é tão simples: a composição química da cannabis é viva, instável, sensível ao calor, à luz, ao oxigênio, à umidade. E tudo isso pode alterar (ou apagar) os traços que fazem da planta uma obra-prima do olfato.

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Com informações de Marijuana Moment.