Estudo revela caminhos para cepas de cannabis sob medida para pacientes e usuários

Cientistas identificam 33 marcadores genéticos na cannabis que podem acelerar o desenvolvimento de cepas personalizadas para usos medicinais e recreativos, abrindo caminho para tratamentos mais eficazes e acessíveis

Publicada em 09/06/2025

Estudo revela caminhos para cepas de cannabis sob medida para pacientes e usuários

Marcadores genéticos da cannabis apontam para um futuro mais justo e eficaz | Imagem: CanvaPro

Uma equipe de cientistas de Québec, no Canadá, parece ter dado um novo passo rumo ao que muitos pacientes, médicos e cultivadores sonham há anos: uma cannabis desenhada sob medida para aliviar dores, acalmar a mente ou potencializar a criatividade.


Publicada recentemente na revista científica The Plant Genome, a pesquisa liderada por estudiosos da Université Laval identificou 33 marcadores genéticos que influenciam diretamente a produção de canabinoides na planta. Parece técnico, e é, mas por trás dos números, sequências e cromossomos, há uma promessa que toca diretamente quem depende da cannabis medicinal para viver com mais dignidade.


“Essa descoberta pode nos permitir, num futuro bem próximo, criar variedades específicas, pensadas para diferentes tipos de tratamento, com mais precisão, menos custos e resultados mais eficazes”, explicam os autores. Na prática, isso significa um salto na forma como a cannabis é cultivada e utilizada, tanto para fins médicos quanto recreativos.


A pesquisa analisou o genoma de 174 plantas de cannabis cultivadas no Canadá, com um olhar atento para os níveis de compostos como THCA, CBDA e CBN, nomes que, para muitos pacientes e seus familiares, já são sinônimos de esperança. O estudo revela, por exemplo, a existência de um “conjunto massivo” de genes em um dos cromossomos, associado a variedades com maior concentração de THC, o canabinoide mais conhecido por seus efeitos psicoativos e terapêuticos.


Mas, além das evidências científicas, há também um contexto simbólico importante. Por décadas, a proibição sufocou a pesquisa sobre a planta, estigmatizando cientistas, pacientes e até agricultores. “Essa nova etapa representa uma ruptura com esse passado. É o início de uma era em que a cannabis pode, enfim, ser tratada com a seriedade e o cuidado que merece”, destaca um dos pesquisadores.


A notícia chega em um momento de efervescência na comunidade científica. Além do estudo canadense, pesquisadores da Coreia do Sul anunciaram recentemente a descoberta de um novo canabinoide, o canabielsoxa, além de outros compostos inéditos extraídos das flores da Cannabis sativa, nome científico da maconha. Embora ainda não tenham apresentado efeitos terapêuticos comprovados, esses achados ampliam as possibilidades e instigam novas linhas de investigação.


Tudo isso acontece enquanto a cannabis ainda enfrenta barreiras políticas, ideológicas e regulatórias em diferentes partes do mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, um memorando interno do Instituto Nacional do Câncer colocou a maconha ao lado de temas considerados "controversos", exigindo supervisão prévia antes da divulgação de pesquisas, um reflexo da tensão entre avanços científicos e disputas ideológicas.


Apesar disso, os dados falam mais alto: há vidas sendo transformadas. Cada gene identificado, cada composto isolado, cada nova cepa desenvolvida com mais precisão, representa uma chance a mais para mães como Nilceia Bosso, que viu sua filha Nielli voltar a sorrir com a ajuda do óleo de cannabis. Ou para tutores de animais exóticos, como Morgana, a jiboia, que voltou a se alimentar após tratamento com canabinoides.
 

Ao que tudo indica, a ciência está apenas começando a decifrar o que povos originários e culturas tradicionais já intuíram há séculos: a cannabis é uma planta complexa, potente e generosa.
 

Com informações de Marijuana Moment.