Globo Rural aborda cannabis medicinal e cânnhamo industrial em reportagem especial
Os debates sobre cannabis medicinal seguem com profundidade no Cannabis Connection 2025, em novembro, e no Congresso Brasileiro da Cannabis Medicinal, em maio de 2026, ambos em São Paulo
Publicada em 29/09/2025

O futuro da cannabis no Brasil será aprofundado no Cannabis Connection 2025, em novembro, e no Congresso Brasileiro da Cannabis Medicinal, em maio de 2026, ambos realizados em São Paulo.
O programa Globo Rural, da TV Globo, trouxe neste domingo uma reportagem sobre o potencial da cannabis medicinal e do cânhamo industrial no Brasil e na América Latina. A matéria contou com a participação de membros do Comitê Científico e de palestrantes do Congresso Brasileiro da Cannabis Medicinal, que compartilharam suas visões sobre os avanços e desafios do setor.
O potencial da cannabis vai muito além do uso medicinal e farmacêutico, abrangendo setores estratégicos como a indústria têxtil, construção civil, produção de bioplásticos e outros materiais sustentáveis. Fibras da planta podem substituir algodão em tecidos, reduzir impactos ambientais na construção com materiais mais leves e duráveis, e gerar bioplásticos que oferecem alternativas ecológicas aos derivados do petróleo.
O ano de 2025 se mostra decisivo para o futuro do setor no Brasil: o Governo Federal deve regulamentar, até terça-feira dia 30 de setembro, o cultivo de cannabis para fins medicinais, seguindo o prazo estipulado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), e a ANVISA deve anunciar, até dezembro, as atualizações da RDC 327, estabelecendo novas normas para produção, importação e comercialização de derivados da planta.
Esses próximos meses serão cruciais, representando um marco regulatório que pode impulsionar investimentos, inovação e o desenvolvimento de uma cadeia produtiva sólida e sustentável no país, consolidando a cannabis como um recurso estratégico e multifuncional para diversas indústrias.
No dia 06 de novembro, o Cannabis Connection será o ponto de encontro para quem quer estar atualizado e pronto para a nova era da cannabis no Brasil.
O potencial agrícola da cannabis
O presidente do Instituto Ficus, Bruno Pegoraro, palestrante do módulo Agro & Tech do Congresso Brasileiro da Cannabis Medicinal (CBCM) realizado em parceria com a Embrapa, afirmou que é preciso “olhar o cânhamo não apenas como remédio, mas também para a utilização em outros fins”. Ele ressaltou, ainda, que o Brasil tem plenas condições de ser líder nesse mercado, graças ao seu potencial agrícola. O Instituto Ficus também participará da edição 2025 do Cannabis Connection trazendo um panorama geral do cânhamo como a commodity do futuro.

O empresário Marcelo Demp, palestrante do Congresso Brasileiro da Cannabis Medicinal e expositor da Cannabis Fair com 5ª edição marcada de 21 a 23 de maio de 2026, destacou o pioneirismo do Paraguai na América do Sul. “Em feiras e exposições internacionais, meus clientes começaram a pedir a semente descascada do cânhamo como alimento proteico, com altos valores nutricionais”, afirmou.

“Quem sabe a cannabis não será uma nova soja”, afirmou a pesquisadora Daniela Bittencourt, da Embrapa, em entrevista ao repórter Filippo Mancuso, do Globo Rural.
Durante a maior feira de cannabis da América Latina, realizada em paralelo ao Congresso Brasileiro da Cannabis Medicinal, a pesquisadora destacou pontos fundamentais para o futuro do setor.
“É preciso o envolvimento de várias frentes. Não se trata apenas de permitir o plantio de cannabis no país. Precisamos criar meios para que isso realmente se torne uma cadeia produtiva e para que o Brasil seja um grande player canábico mundial”, ressaltou Daniela que participou do módulo Vet Cannabis do CBCM 2025.

O desafio de convencer sobre os benefícios terapêuticos da planta está sendo superado
Dr. Pedro Pierro, diretor científico da Sechat e membro do Comitê Científico do Congresso Brasileiro da Cannabis Medicinal, compartilhou sua experiência e reflexões sobre o uso da cannabis medicinal.

Ele comentou sobre a surpresa ao perceber “por que algo tão antigo e eficaz havia sido negligenciado por tanto tempo” e destacou o desafio de dialogar com as famílias.
“E para convencer as pessoas? Para você falar assim para um pai: ‘Olha, seu filho tem indicação de neurocirurgia para epilepsia, mas temos ferramentas terapêuticas menos invasivas, como os canabinoides medicinais’”, explicou.
Em entrevista a Filippo Mancuso, Dr. Pierro relatou ainda uma situação que ilustra a resistência ao tema:
“Aí a pergunta: ‘Cannabis da maconha?’ Eu disse: ‘Sim’. O pai respondeu: ‘Doutor, abra a cabeça do meu filho, mas não dê maconha para ele’.”
Os desafios em relação ao preconceito à cannabis estão sendo superados, cerca de 670 mil pacientes no Brasil já fazem uso terapêutico dos canabinodides extraídos de planta popularmente conhecida como maconha.
O papel das associações
Cassiano Gomes, fundador e presidente da Abrace, falou sobre a importância o acesso à cannabis medicinal. "Para muitos isso é um crime, então eu cometi um crime para salvar vidas". A entrevista foi gravada em meio à plantação no sitio em homenagem a própria mãe que era paciente canábica. "Isso foi meu principal motivador, tanto que esse sitio é em homenagem a ela: Dona Zezé".

Camila Moraes, diretora administrativa da Abrace, contou sua experiência pessoal com crises frequentes de convulsões e a solução que encontrou no Uruguai onde o uso terapêutico já era liberado na época: "Desde o primeiro dia em que eu tomei o óleo eu fiquei sem crises convulsivas durante 45 dias. Eu voltei para o Brasil com 12 frascos de remédio e morrendo de medo de ser presa por tráfico internacional de drogas".
A pesquisa com cannabis
Pedro Sabaciauskis, presidente da Santa Cannabis, associação que participou como expositora da maior feira de cannabis da América Latina, investiu na produção orgânica, no interior de São Paulo, depois que um ciclone destruiu sua estrutura em Santa Catarina. Foi quando conheceu o agricultor Masami Yoshimizu, responsável pelo cultivo da associação, que contou que, no início, foi difícil assimilar a ideia de trabalhar com a planta.

“Eu não conhecia nada desse segmento, havia até um tabu, e existia o risco da ilegalidade. Nunca tivemos interesse em nada nesse sentido. Quando percebi que tudo era muito diferente da imagem que eu tinha, e que havia a possibilidade de cultivar algo que pudesse ajudar as pessoas e, financeiramente, fosse promissor, achei que valia a pena o desafio”, disse em entrevista ao Globo Rural.
Sobre o plantio, ele explicou o motivo pelo qual as tendas são fechadas em determinados momentos do dia:
“Em pleno verão, precisamos fazer com que a planta sinta que está chegando o inverno, que os dias estão ficando mais curtos; assim, induzimos a planta a entrar na fase generativa, que é a fase da flor”, explicou Masami Yoshimizu.
Sobre os avanços para desenvolvimento do grande mercado em potencial, Sabaciauskis defendeu a ampliação da pesquisa nas universidades. “Uma prioridade deveria ser a autorização para que as faculdades estudem. Não faz sentido dizer que não há pesquisa científica e, ao mesmo tempo, impedir que as faculdades realizem estudos”, disse à Mancuso.

Aline Unes, pesquisadora da UFLA (Universidade Federal de Lavras) e palestrante do CBCM 2025, afirmou que a alternativa encontrada para as pesquisas foi “buscar as associações que já cultivavam. Então, as associações se tornaram nosso campo experimental”.
Erik Amazonas, membro do Comitê Científico do Congresso Brasileiro de Cannabis Medicinal e atuante no módulo Vet Cannabis, reforçou a importância das pesquisas nas universidades. “Não seria possível realizar esse cultivo sem o conhecimento da agronomia; não seria possível entender o que há dentro dessas plantas sem a química; e eu não conseguiria avaliar o uso clínico e veterinário sem a pesquisa”, afirmou o pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

O uso da cannabis na prática veterinária

Rodrigo Zamith, médico-veterinário pesquisador da Universidade de Bolonha, na Itália, e palestrante do CBCM 2025, contou a história de Hope, um cavalo com uma ferida na pata que foi tratado com cannabis medicinal e apresentou melhora. “Optamos por um óleo completo, com THC - bastante rico em canabinoides. Estamos fechando a ferida e em um processo de diminuição do desconforto, mas ainda temos o terço final do tratamento para concluir”, relatou.

A cannabis medicinal e industrial vem ganhando espaço no país, com pesquisas, regulamentações e casos clínicos que reforçam sua relevância para a saúde e para o desenvolvimento da cadeia produtiva. A regulamentação do cultivo de cannabis pelo Governo Federal deve ajudar a fortalecer o setor industrial no país. Assistir a reportagem do Globo Rural agora: clique aqui. A partir do minuto 34:30.
Os temas apresentados no programa da TV Globo serão debatidos com mais profundidade nos principais eventos do setor:
Cannabis Connection 2025 – dia 6 de novembro de 2025, em São Paulo.
cannabisconnection.com.brCongresso Brasileiro da Cannabis Medicinal – em maio de 2026, também em São Paulo.
congressocannabis.com.br
Participe e esteja por dentro do futuro da cannabis no Brasil!