Indústria da cannabis na Colômbia: crescimento econômico com desafios estruturais

Exportações de cannabis colombiano crescem significativamente em 2023, mas enfrentam quedas em mercados-chave e desafios para consolidar a indústria

Publicada em 18/12/2024

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Imagem Ilustrativa: IA

Análise, por Sharith Tovar, Economista Coordenadora de Projetos do Observatório Colombiano da Indústria do Cannabis

Nos últimos anos, o crescimento das exportações de cannabis na Colômbia tem sido notável. De acordo com cálculos da ProColombia, as exportações aumentaram de USD $310.270 em 2019 para mais de USD $11 milhões em 2023. Esse aumento não apenas evidencia o dinamismo dessa indústria emergente, mas também destaca o potencial da Colômbia como um ator chave no mercado internacional de cannabis. No entanto, por trás desses números promissores, existem desafios estruturais e oportunidades que não podem ser ignorados.

Em 2023, os cinco principais destinos das exportações de cannabis colombiano foram Brasil (USD $3.401.530), Austrália (USD $2.699.910), Alemanha (USD $1.590.682), Estados Unidos (USD $1.095.027) e Israel (USD $602.437). O Brasil consolidou-se novamente como o principal parceiro comercial, reafirmando sua relevância neste mercado e triplicando as exportações em relação a 2022.

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Sharith Tovar, Economista Coordenadora de Projetos do Observatório Colombiano da Indústria do Cannabis.| Imagem: Arquivo pessoal

Em contraste, chama a atenção a queda nas exportações para países como Espanha, que passou de USD $27.881 em 2022 para USD $6.415 em 2023; República Tcheca, de USD $23.579 em 2022 para USD $9.173 em 2023; e Argentina, onde as exportações despencaram de USD $3.860.212 em 2022 para USD $493.054 em 2023. Ainda mais alarmante é o fato de que mercados chave como Canadá, México e Polônia deixaram de receber exportações colombianas de cannabis em 2023, evidenciando um retrocesso nesses destinos.

Apesar desses dados, é importante destacar a existência de mercados emergentes com bom potencial, nos quais o crescimento está sendo experimentado e onde esforços estratégicos devem continuar, como Países Baixos, França e Barbados. Isso é especialmente relevante considerando o aumento nas exportações totais de cannabis, que passaram de USD $9.787.853 em 2022 para USD $11.106.853 em 2023.

Em nível departamental, em 2023, Cundinamarca liderou as exportações com USD $8.196.800, seguido por Antioquia com USD $577.625. No entanto, Antioquia apresentou uma queda em relação aos USD $1.165.029 exportados em 2022. No outro extremo, departamentos como Boyacá (USD $972) e Atlântico (USD $2.650) registraram os números mais baixos.

O ano de 2024 parece trazer uma redução nas exportações. De janeiro a setembro de 2024, os números alcançaram USD $7.129.610, contrastando com os USD $8.005.881 reportados para o mesmo período de 2023. Apesar dessa diminuição, países como Brasil, Austrália, Alemanha, Portugal e Reino Unido continuam mostrando uma demanda consistente em 2024. Em contraste, Israel e Estados Unidos registraram uma baixa notável. Isso sublinha não apenas a vulnerabilidade do setor a flutuações externas (como a situação de conflito em Israel ou o ambiente eleitoral nos Estados Unidos), mas também a necessidade de fortalecer estratégias internas para consolidar o crescimento desta indústria.

Mas como falar de consolidação sem compreender os detalhes das dinâmicas locais? Por exemplo, no Observatório Colombiano da Indústria do Cannabis (OCIC), destacamos a necessidade de conhecer a desagregação das exportações por municípios para entender quais territórios lideram a transformação produtiva para o cannabis e o cânhamo. Esse dado é crucial, especialmente em municípios historicamente afetados pelo conflito, que agora veem nessa indústria uma oportunidade para geração de emprego e desenvolvimento econômico.

Além disso, os números atuais não permitem distinguir claramente as indústrias destinatárias das exportações (medicinal, industrial, cosmética, etc.), dificultando a identificação de áreas específicas de melhoria e o desenho de políticas públicas que respondam às reais necessidades do setor. Tampouco incluem exportações realizadas por meio de tráfego postal e envios urgentes. Soma-se a isso a ausência de notas metodológicas que expliquem como os resultados foram calculados e os critérios utilizados para incluir certos produtos nas estatísticas (como resoluções de classificação tarifária da autoridade aduaneira na Colômbia – DIAN, ou critérios baseados na atividade econômica de quem realiza a exportação final).

A Colômbia tem o potencial de se posicionar no mercado global de cannabis, mas isso exige um esforço articulado entre o governo e os empresários. Parte desse desafio envolve fortalecer a coleta e apresentação de dados, desagregar estatísticas por municípios e subsetores, e trabalhar em estratégias que garantam maior estabilidade nos mercados internacionais. Só assim poderemos transformar as promessas desta indústria em realidades tangíveis para o país.

Em última instância, o desenvolvimento do setor de cannabis não é apenas uma questão de números econômicos; é uma oportunidade para construir um modelo de desenvolvimento que promova inclusão, sustentabilidade e reconciliação nas regiões mais afetadas pelo conflito. Os números podem ser promissores, mas ainda há um longo caminho a percorrer para que essa indústria cumpra seu verdadeiro potencial.