Legalização da “soruma” causa divergência em Moçambique
Especialistas comentam intenção de legalizar o consumo de cannabis sativa, conhecida localmente como soruma e apontam danos possíveis danos do uso adulto
Publicada em 20/08/2024

Imagem: vecteezy
Moçambique aprofunda discussão sobre a possibilidade de legalizar o consumo de cannabis sativa, conhecida localmente como “soruma”.
O debate ganhou força após o Presidente da República, Filipe Nyusi, ter solicitado uma "profunda reflexão" sobre a legalização da soruma, citando seus efeitos nefastos. Celma Ricardo, vice-presidente da Associação Braços Abertos, que trabalha com jovens e adolescentes dependentes de drogas, destaca que o consumo de cannabis está associado a graves problemas de saúde mental.
"Precisamos pensar seriamente sobre isto. Se for legalizado, é imperativo que haja uma monitorização rigorosa do seu consumo. Caso contrário, enfrentaremos graves problemas de saúde pública", adverte.
Rui Mendes, psicólogo clínico, concorda com Celma, acrescentando que Moçambique ainda não está preparado para aprovar uma lei que descriminaliza o consumo de soruma. "Deve haver uma preparação adequada que inclua a disseminação de informações e a sensibilização da população por meio de conferências, palestras e seminários com profissionais experientes. Só assim poderemos preparar o povo para as consequências de uma eventual legalização", alerta Mendes.
Celma Ricardo também ressalta que, embora a cannabis tenha usos medicinais, a descriminalização poderia levar muitos jovens a se envolver no comércio e consumo da substância. "Se eu sou um vendedor, vou sempre procurar clientes, e muitos jovens e adolescentes serão atraídos para o consumo e para a venda de drogas. Isso poderá resultar na proliferação de vendedores de drogas em escolas e outros espaços públicos, porque a droga passará a ser lícita", alerta.
A Associação Braços Abertos, além de trabalhar diretamente com jovens, apoia também as famílias de dependentes de drogas. "Vamos às casas dessas famílias primeiro para conscientizá-las de que se trata de uma pessoa doente. Muitas vezes, o que acontece é que as famílias acabam por expulsar esse doente de casa porque ele rouba ou é agressivo", conta Celma.
Texto publicado originalmente em DW