Mães atípicas canábicas: quando a cannabis se torna caminho de vida

Nesta reportagem especial, mães atípicas canábicas compartilham relatos emocionantes sobre os desafios, descobertas e conquistas no cuidado de seus filhos com o uso da cannabis medicinal, revelando força, afeto e esperança em cada palavra

Publicada em 11/05/2025

Mães atípicas canábicas: quando a cannabis se torna caminho de vida

Quando o amor vira luta por qualidade de vida

Todo mundo conhece uma mãe que se vira nos trinta. Mas existem mães que foram além: romperam barreiras legais, enfrentaram diagnósticos assustadores, desafiaram estigmas e encontraram na cannabis medicinal não só uma esperança, mas um renascimento, tanto para elas quanto para seus filhos.


Neste Dia das Mães, nossa homenagem vai para aquelas mulheres que, quando o mundo virou de cabeça para baixo, decidiram reconstruir o chão com as próprias mãos. Elas não só enfrentaram diagnósticos difíceis, noites sem dormir e jornadas solitárias, como também romperam o preconceito, desafiaram a medicina tradicional e abriram caminho para outras mães. 


São mães atípicas e canábicas. Mães que não mediram esforços para garantir qualidade de vida aos seus filhos e, no meio do caminho, se tornaram símbolo de coragem e resistência.
Três delas compartilharam suas histórias com o Sechat. O que você vai ler a seguir não é só sobre cannabis. É sobre amor, luta e a reinvenção diária da maternidade.


Liane e a Carol: da desesperança à festa de 15 anos

liane e carol.jpg
Foi um sonho que nem ousava sonhar", diz Liane ao lado da Carol em sua festa de 15 anos | Imagem: Arquivo Pessoal


A gaúcha Liane Maria Pereira lembra do primeiro susto como se fosse ontem: “a Carol teve a primeira convulsão com 25 dias de vida. Era síndrome de Dravet, um nome difícil para uma dor imensurável”. A trajetória que começou com medo e desespero encontrou na cannabis um ponto de virada. “Eu queria só diminuir as crises. E hoje eu tenho uma filha que lê, escreve, tem um caderno maravilhoso e é uma adolescente feliz. Isso é muito mais do que eu sonhei”.


Hoje Carol tem 15 anos e não usa sonda gástrica, nem cadeira de rodas. “A festa de debutante foi simbólica…um marco de tudo que a gente venceu. “O óleo de cannabis trouxe de volta o brilho no olhar da minha filha. E isso não tem preço”,  conta Liane, emocionada.


Ela, que nunca pensou em ser referência, hoje se tornou ponto de apoio para outras mães que vivem a escuridão do começo. “Minha caminhada já não é só sobre a Carol. É pelas muitas ‘Caróis’ que existem por aí. Se eu puder ajudar alguém a encontrar luz, já valeu a pena”, diz.


Francis e Antonela: a maternidade que se uniu à militância


 

francis e antonella.jpg
Francis diz: "o que me tranquilizou foi o conhecimento" | Imagem: Arquivo Pessoal

Francis Mayry já estava na luta há muito tempo antes da chegada da pequena Antonela, de apenas 1 ano e 4 meses. Fundadora do Instituto Mães da Cannabis, ela atuou em Brasília, ajudou a moldar legislações e levou informação sobre a cannabis por onde passou, Jamaica, EUA, Colômbia.


Mas nada a preparou para a notícia recebida durante a gestação: “Com 25 semanas, descobri que a Antonela viria com uma cardiopatia e 50% de chance de ter Trissomia 21. O obstetra me perguntou se minha filha teria viabilidade. Aquilo me desmontou”, conta.


Francis, que já tinha vencido uma degeneração da mácula do olho com o uso do canabidiol há mais de 14 anos, transformou novamente sua dor em força. Mergulhou em artigos científicos, buscou os melhores especialistas e enfrentou o diagnóstico com informação e fé. “Quando ela nasceu, eu já sabia que estava pronta. A cannabis me deu a cura no corpo e na alma. Hoje, a Antonela é luz, e a luta agora é por ela, e por todas as mães que não podem mais esperar”.


Janaina e Miguel: intuição, amor e resistência 


Janaina sonhava com a maternidade. Depois de anos tentando, veio a tão esperada notícia: gêmeos. Miguel e Isabella nasceram prematuros, mas logo estavam em casa. A vida parecia seguir o rumo esperado até que, aos 8 meses, ela começou a notar diferenças no comportamento de Miguel. O olhar distante, as reações sensoriais, o silêncio. 

“Meu coração dizia que tinha algo ali. Mas meu marido seguia resistindo. Eu fui sozinha levar o Miguel na neurologista. E quando ouvi: ‘Seu filho é autista’, o mundo parou”, comenta.

Jana e Miguel.jpg
Janaína esperou tanto para ser mãe que vieram gêmeos e não mede esforços para ver Miguel feliz | Imagem: Arquivo Pessoal

Entre terapias, exames difíceis e dias de dúvida, Janaina encontrou força na troca com outras mães. Descobriu o potencial da cannabis e, com o tempo, viu mudanças reais no filho. “Hoje o Miguel melhorou muito com as terapias, a equoterapia e com o óleo. Ainda temos desafios, mas ele é outra criança”, pontua.


Mãe de um casal gemelar, Janaina é daquelas que se reconstruiu enquanto construía o mundo ao redor dos filhos. “Eles me transformaram. O Miguel me ensinou a olhar com o coração. E eu nunca mais fui a mesma”, emociona-se.


Neste Dia das Mães, essas mulheres incríveis nos lembram que a maternidade atípica é feita de coragem, amor que transborda e fé inabalável. 


Liane, com a serenidade de quem viveu o desespero e hoje colhe frutos inesperados, deixa um recado direto ao coração: “não perca a fé. Você não está sozinha. Acredite no potencial dessa planta e busque apoio”.
 

Francis, que há mais de uma década planta sementes de esperança, reforça que o conhecimento liberta: “busque fontes seguras, não se entregue ao medo, porque é possível construir um caminho de cuidado e dignidade”.


Já Janaína, que aprendeu a ler os silêncios do filho e enfrentou as resistências com amor, diz com firmeza: “o diagnóstico não é uma sentença, é o ponto de partida. Ouça seu coração de mãe. Ele sabe. Mesmo que o mundo duvide, continue”.