Evolução tecnológica, impulso no mercado de cannabis medicinal

O uso de tecnologias avançadas está modificando o setor de cannabis medicinal, melhorando a produção e o acesso a tratamentos personalizados

Publicada em 30/12/2024

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Imagem: Canva Pro

O Brasil teve um salto de 241 mil novos pacientes que iniciaram o tratamento com cannabis medicinal em 2024, sendo assim, o país soma  mais de 672 mil pessoas que utilizam a terapia com canabinoides. Com esse crescimento, o setor também testemunha o surgimento de novas empresas, formas de administração de produtos e possibilidades terapêuticas.

O avanço rápido no setor acende um alerta para a necessidade de adotar tecnologias que possam auxiliar a produção desde a semente até o produto final.

 

Inovação tecnológica no setor de cannabis

 

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Afonso Braga Netto, CEO da empresa Digital Flower Imagem: Divulgação

De acordo com Afonso Braga Netto, CEO da empresa Digital Flower, o mercado brasileiro sempre esteve atento à inovação. “Devido às exigências regulatórias, que exigem rastreabilidade, segurança e padronização, além da necessidade de atualização de custos e inovação contínua em um mercado competitivo, o setor de cannabis medicinal está na vanguarda da adoção de tecnologias de ponta”, afirma.

Entre as tecnologias adotadas, Netto destaca a Inteligência Artificial (IA), biotecnologias e plataformas digitais integradas, que já estão em uso entre médicos e pacientes. Segundo ele, essas ferramentas permitem uma melhor análise de dados e especificidades dos consumidores.

No campo do cultivo, o blockchain é utilizado para garantir rastreabilidade e transparência, assegurando a origem e a qualidade dos produtos, do cultivo a distribuição. Já a Internet das Coisas (IoT), que são sensores inteligentes, monitora em tempo real o ambiente de cultivo, controlando fatores como iluminação, temperatura, umidade e nutrientes. A IA também pode ser usada para otimizar o cultivo, prevendo padrões de demanda.

Danilo Lang, fundador do portal Cannabis Empregos entende que com a planta regulamentada pelos órgãos competentes, avanços significativos no investimento em tecnologias devem ocorrer. "Esse progresso inclui tanto maquinário especializado para o campo quanto o uso de tecnologias avançadas para melhoria do estudo e da produção inteligente, com o apoio da IA"

Apostas em Startups canábicas

 

Outra estratégia utilizada no mercado de cannabis é o surgimento de startups, empresa que se caracteriza por um modelo de negócios inovador, escalável e sustentável, com base tecnológica. A The Green Hub realiza inovações colaborativas com empresas do mercado brasileiro e já conta o desenvolvimento de mais de 20 startups desenvolvidas.

Entre elas está a Adwa Cannabis, uma startup focada em pesquisas acadêmicas e na criação de novas tecnologias para o setor agrícola. Em entrevista ao Portal Sechat, o fundador da empresa, Sérgio Rocha, destacou a importância de trabalhar com dados refinados, capazes de reduzir custos de produção e minimizar possíveis perdas.

As tecnologias de dados também podem contribuir para a redução do uso de agrotóxicos e para a criação de ambientes confortáveis para as plantas.

 

Inovações em extração e prescrição de cannabis

 

Medical Cannabis Fair
Em 2025, a MCF está marcada para os dias 22, 23 e 24 de maio, no Expo Center Norte em São Paulo

 

A Medical Cannabis Fair 2024, evento referência no mercado B2B de cannabis medicinal na América Latina, foi palco de inovações tecnológicas que prometem transformar os tratamentos com cannabis. Destaques como a tecnologia de PowerNano para melhor  absorção dos canabinoides e a plataforma científica  focada no auxílio de médicos mostraram o potencial de soluções que aliam ciência e tecnologia para oferecer maior eficácia e personalização nos cuidados com a saúde.

Desenvolvida pela Thronus Medical, a tecnologia PowerNano reduz substâncias a tamanhos nanométricos, permitindo sua dispersão em água e absorção mais eficiente pelo organismo. Segundo Mariana Maciel, CEO da Thronus Medical, a inovação não só potencializa a absorção dos canabinoides, mas também acelera o início dos efeitos terapêuticos.

"Essa tecnologia foi projetada para garantir maior eficácia e rendimento dos óleos à base de cannabis, otimizando os resultados para quem utiliza tratamentos medicinais," explicou Maciel.

 

Extração por eletricidade 

 

Estreante na feira, a Natleaf apresentou uma tecnologia revolucionária que potencializa o poder do canabidiol (CBD). Por meio de métodos limpos e nanotecnologia, a empresa garante medicamentos à base de cannabis com até cinco vezes mais absorção e maior eficácia nos tratamentos.

"Acreditamos que a natureza sabe o que é melhor, por isso a nossa missão é entregar todo o poder do canabidiol (CBD), promovendo alta performance nas terapias com cannabis," destacou Carlos Magalhães, CEO da Natleaf Brasil.

 

Plataforma para prescritores

 

Outro destaque da feira foi o lançamento da plataforma digital Canabinote, desenvolvida para orientar a prescrição de cannabis medicinal com base em rigorosos critérios científicos. Liderada por Flávia Vilhena França, engenheira florestal com vasta experiência em pesquisa, a iniciativa organiza dados em três pilares: mecanismos de ação, formulações e concentrações.

"Saber qual a formulação e a dose ideal para cada situação passou a ser o meu maior desafio," relatou Flávia, que utilizou modelos metodológicos de seu mestrado para criar a matriz científica da plataforma.


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Desafios na implementação de novas tecnologias

 

Apesar dos avanços na regulamentação da cannabis no Brasil, o país ainda está atrás de outros mercados globais. Segundo Netto, a lentidão nos processos de registro de produtos e certificações dificulta a adesão e a agilidade das empresas. Além disso, os altos custos e a falta de fornecedores especializados no mercado local, somados a barreiras culturais e preconceitos, são obstáculos adicionais para a inovação no setor.

Uma estratégia utilizada pela empresa é adotar parcerias internacionais e inovações colaborativas, desenvolvendo tecnologias personalizadas para o mercado brasileiro. Também, investir em conscientização pública e diálogos com reguladores para promover um ambiente mais favorável à inovação por meio de educação e advocacy.

Netto destaca como possibilidade o modelo disruptivo do clube de compras por cotas, que facilita o acesso aos produtos enquanto mantém a sustentabilidade financeira. “Está é uma forma inovadora de driblar os custos elevados trazendo e acessibilidade aos consumidores”, enfatiza.

 

Tecnologias de análise

 

Professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), André Valle de Bairros, está desenvolvendo um kit comercial capaz de identificar os canabinoides presentes em produtos à base de cannabis e na planta in natura. Segundo o pesquisador, atualmente, há apenas um kit disponível no Brasil, com um custo elevado e que não atende à demanda.

“Está nova tecnologia, rápida, simples e barata, com uma boa resposta pode atender a diversas camadas da sociedade, permitindo análises químicas mesmo em locais com poucos recursos, o que seria excelente para empresas, produtores, associações e consumidores de cannabis medicinal”, explica Bairros.

 

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Paleta de cores com diferentes concentrações de canabinoides diluídos. Imagem: Maria Odete da Silva Dalan

 

O kit também poderá ser usado para outras finalidades, como perícias forenses. O lançamento está previsto para abril de 2025, com a transferência da tecnologia para uma empresa interessada na comercialização do produto.

 

Inovações para o futuro do setor

 

Danilo Lang ressalta que processos de automação já são uma realidade consolidada no mercado há décadas, desde a utilização de Unidade de Resposta Audível (URA) para atendimento até sistemas automáticos de troca de e-mails. "O que as empresas precisam entender é que o consumidor busca algo tangível e que proporciona uma experiência. Em alguns casos, o excesso de automação pode distanciar a empresa do que mais importa: os clientes", afirma.

Afonso Braga Netto destaca como tecnologias promissórias, a Realidade Aumentada (AR) e Realidade Virtual (VR), que podem ser usadas em plataformas educacionais para médicos e pacientes. Além disso, plataformas de e-commerce integradas com suporte à telemedicina e receitas digitais, facilitam o acesso a tratamentos canábicos.

Outro ponto recomendado é a automação agrícola, que inclui sistemas robóticos e IoT para cultivo em larga escala, garantindo padronização e sustentabilidade. O desenvolvimento de medicamentos baseados em perfis genéticos também promete melhorar os tratamentos, aumentando a eficácia e reduzindo os efeitos colaterais.

“Essas inovações tornarão os tratamentos mais eficazes, acessíveis e personalizados. Além disso, facilitarão o diálogo entre pacientes e médicos, aumentando a confiança nos produtos e expandindo o mercado globalmente”, conclui Netto.