Missão brasileira visita operação farmacêutica na Colômbia e aponta caminhos para a verticalização da produção de cannabis no Brasil

Integrantes da delegação destacam importância de trazer o cultivo farmacêutico para o país e reduzir custos na cadeia do IFA

Publicada em 14/11/2025

Missão brasileira visita operação farmacêutica na Colômbia e aponta caminhos para a verticalização da produção de cannabis no Brasil

Imagem: Divulgação


A missão técnica brasileira encerrou suas atividades na Colômbia com uma visita à Easy Labs, empresa certificada internacionalmente para o cultivo e processamento de cannabis em grau farmacêutico. O grupo, que reuniu representantes do governo, da Abiquifi e de empresas do setor farmacêutico, acompanhou todas as etapas do cultivo até a extração inicial do insumo farmacêutico ativo (IFA).

Segundo Carolina Sellani, Head de Assuntos Estratégicos da Abiquifi e coordenadora do Grupo de Trabalho de Cannabis, a visita permitiu visualizar toda a cadeia produtiva verticalizada, desde o cultivo das plantas madres até a primeira extração.

“Foi muito interessante poder ver, na prática, o tema do cultivo regular de grau farmacêutico, que a gente tinha discutido no primeiro dia com as instituições. Pudemos ver funcionando toda a tecnologia investida para garantir o melhor controle possível do material vegetal que vai se transformar em produto farmacêutico.”

 

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Delegação brasileira visita a unidade da Easy Labs, na Colômbia, para conhecer de perto o modelo de cultivo e produção de derivados de cannabis | Imagem: Divulgação

 

A farmacêutica segue todos os requisitos técnicos e regulatórios exigidos para a produção farmacêutica, incluindo certificações internacionais e protocolos de rastreabilidade. A empresa fornece extratos que, segundo Sellani, passam por uma etapa complementar no Brasil, onde ocorre a purificação do IFA.

“Enquanto não há regulamentação para o cultivo no Brasil, o processo se inicia na Colômbia, mas passa por uma etapa superimportante no país, com a purificação do extrato. Isso já demonstra o potencial brasileiro para uma cadeia totalmente nacional.”

O grupo fez parte da missão empresarial organizada pela Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos (Abiquifi), em parceria com a ApexBrasil, que começou no dia 10 de novembro em Bogotá. A comitiva contou com representantes do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), da Anvisa, da Embrapa, do Conselho Federal de Química (CFQ) e de grandes empresas farmacêuticas brasileiras.

Durante os dias de visita, os participantes puderam conhecer de perto as práticas de cultivo, controle de qualidade e conformidade regulatória adotadas pelas companhias colombianas autorizadas a produzir cannabis de uso farmacêutico.

Para Sellani, permitir o cultivo farmacêutico em território nacional seria um passo decisivo para fortalecer a competitividade do Brasil no setor de cannabis medicinal.

“Com a regulamentação, poderemos ter uma produção 100% nacional, o que reduz custos, melhora a logística e garante um fornecimento mais estável de produtos. Além disso, posiciona o Brasil de forma competitiva no cenário internacional, como produtor relevante dessa matéria-prima e do produto final.”

Ela destacou ainda o potencial brasileiro para desenvolver uma cadeia produtiva integrada, com impacto direto em custo e produtividade:

“Temos uma vocação e um potencial muito grandes para fazer essa produção de forma eficiente, com efetividade de custo e qualidade.”

 

Rigor técnico e controle de qualidade

 

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Cultivo indoor de cannabis na unidade da Easy Labs, na Colômbia | Imagem: Divulgação

 

Entre os participantes, o conselheiro federal do Conselho Federal de Química (CFQ), Ubiracir Lima, destacou o nível de tecnologia e controle implementados na operação da Easy Labs. Segundo ele, a estrutura visitada impressiona pela automação e pelo cuidado com o tratamento das plantas e insumos utilizados.

“A unidade da Easy Labs é totalmente indoor e automatizada. O que mais me chamou a atenção foi o cuidado com todas as matérias-primas e insumos usados nas plantas — desde o tratamento da água até os fertilizantes. Tudo é qualificado conforme o quimiotipo cultivado, com parâmetros específicos de nutrientes e condições ambientais para cada variedade.”

Ubiracir explicou que o controle de qualidade é realizado em todas as fases de crescimento, garantindo a segurança e a consistência do produto final.

“Eles mostraram como fazem o acompanhamento das etapas de desenvolvimento das plantas e o controle da qualidade em processo até o extrato bruto, que depois é exportado ao Brasil para ser purificado e cristalizado na unidade farmoquímica da Semeia, do mesmo grupo da Easy Labs.”

 

Aprendizado técnico e perspectiva para o Brasil

 

Ao avaliar os resultados da missão, Ubiracir Lima afirmou que a experiência trouxe uma visão prática e concreta sobre a aplicação industrial das boas práticas farmacêuticas no cultivo de cannabis.

“A visita tirou do papel o que antes estava apenas no imaginário. Conhecíamos os processos em laboratório, mas agora vimos a aplicação em alta escala, com controle rigoroso e boas práticas sanitárias. Foi a primeira vez que presenciamos isso tão de perto.”

O conselheiro destacou que o grupo retorna ao Brasil com um repertório técnico ampliado, capaz de contribuir para o debate regulatório e produtivo no país.

“Todos — Anvisa, Embrapa, MAPA — ficaram satisfeitos com o que viram. Voltamos com uma visão mais avançada sobre o caminho que o Brasil precisa trilhar para desenvolver sua própria cadeia de produção farmacêutica da cannabis.”