No Canadá: por que tanta gente está fumando mais e mais cannabis
O consumo de cannabis no Canadá mais do que triplicou em uma década, com aumento expressivo do uso diário. Entenda como a legalização e os padrões sociais influenciam esse cenário e o que isso revela sobre saúde pública e comportamento
Publicada em 17/07/2025

Quando a cannabis vira companhia de todos os dias | CanvaPro
Em tempos de conexões tão rápidas e emoções tão rasas, talvez a gente devesse olhar com mais atenção para aquilo que as estatísticas não dizem de forma tão explícita: o que nos leva a acender o primeiro baseado? E o segundo? E quando ele se torna diário, quase ritualístico?
No Canadá, país que legalizou o uso adulto da cannabis em 2018, os números mostram um cenário em expansão. Mais gente consumindo, mais gente consumindo com frequência e, com isso, uma urgência crescente de entender o que está por trás desses dados.
Um retrato que muda com o tempo
As curvas do consumo de cannabis nos últimos anos não seguem uma linha reta. Entre altos e baixos desde o fim dos anos 1970, os dados mostram que os períodos de maior liberalização das políticas públicas coincidem com o aumento do uso, isso tanto nos Estados Unidos quanto no Canadá.
No Canadá, por exemplo, o consumo nos últimos 12 meses cresceu de 9,1% da população em 2011 para 32,4% em 2023. Um salto que não pode ser ignorado. E, embora a legalização tenha trazido avanços em regulação e acesso, também trouxe consigo a necessidade de entender melhor como, por que e quanto se está usando.
O uso diário deixou de ser exceção
O dado mais chamativo talvez não seja apenas quantas pessoas estão usando cannabis, mas quantas estão usando todos os dias, ou quase isso.
Segundo a Pesquisa Canadense de Uso de Substâncias, 25,4% dos usuários de cannabis relataram uso diário ou quase diário em 2023. São cerca de 2,8 milhões de pessoas. Em Ontário, esse percentual é ainda mais preciso: 8,6% da população adulta da província usou cannabis diariamente nos últimos três meses do ano passado.
Em paralelo, o uso diário de álcool (em torno de 10,3%) segue estável, sem os picos que a cannabis tem mostrado. O que indica que, embora a cannabis ainda não ultrapasse o álcool em prevalência geral, o perfil dos seus usuários está mudando e muito rápido.
Mais acesso, mais uso: o impacto da legalização
Não há como fugir: a legalização impacta diretamente o comportamento das pessoas. Com o uso medicinal autorizado a partir dos anos 2000 e a legalização do uso adulto em 2018, o Canadá se tornou um laboratório social real para observar padrões de consumo em tempo real.
Os dados mostram que, em vez de estabilizar, o uso continuou crescendo mesmo após a legalização. Isso aponta para um fenômeno que vai além do acesso: trata-se de normalização cultural, de um consumo que passou a ser visto com outros olhos, mais naturalizado, menos marginalizado.
A urgência de olhar para a saúde pública
Mais gente usando com mais frequência significa maior responsabilidade coletiva. A cannabis não é uma substância inofensiva, principalmente quando usada com regularidade e sem acompanhamento.
A comparação com o álcool ajuda a entender o contexto: embora o álcool ainda seja muito mais consumido, os usuários intensivos de cannabis já se aproximam numericamente dos consumidores de álcool de alto risco. Isso exige políticas públicas proativas, campanhas educativas e, sobretudo, empatia.
Por trás dos números, há pessoas, histórias, contextos, dores, alívios e rotinas. Alguns encontram na cannabis uma forma de relaxar, outros buscam alívio para sintomas crônicos e estresses do cotidiano, e há também quem use apenas porque está acessível.
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