O papel da cannabis no tratamento de doenças crônicas

Como os compostos da planta ajudam no manejo da dor, epilepsia e esclerose múltipla

Publicada em 26/11/2024

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Imagem: Canva

A cannabis medicinal tem se consolidado como uma alternativa eficaz no tratamento de diversas doenças crônicas. Suas propriedades terapêuticas, proporcionadas pelos compostos ativos da planta – os canabinoides, como THC (tetrahidrocanabinol) e CBD (canabidiol) – interagem com o sistema endocanabinoide humano, regulando processos importantes como inflamação, dor e controle motor. Aqui, exploramos três patologias onde a cannabis demonstrou grande eficácia, embasada por estudos científicos e uso clínico.

1. Dor Crônica

 

A dor crônica, frequentemente resistente aos tratamentos convencionais, é uma das principais indicações para o uso de cannabis medicinal. Estudos publicados no Journal of Pain e na revista Pain Medicine mostram que tanto o THC quanto o CBD possuem propriedades analgésicas e anti-inflamatórias, que ajudam a reduzir a percepção da dor em pacientes com condições como artrite, fibromialgia e dores neuropáticas. Além disso, a cannabis pode substituir ou complementar o uso de opioides, reduzindo riscos de dependência e efeitos colaterais severos.

Segundo uma revisão publicada na Cochrane Database of Systematic Reviews, pacientes que usaram extratos de cannabis relataram alívio significativo na intensidade da dor e melhora na qualidade de vida.

2. Epilepsia Refratária

 

A epilepsia refratária, caracterizada pela resistência aos tratamentos tradicionais, é outra área onde o uso medicinal da cannabis se destaca. O canabidiol (CBD) tem se mostrado altamente eficaz em reduzir a frequência e a gravidade das crises epilépticas. Estudos, como o publicado no New England Journal of Medicine, demonstram que o CBD pode reduzir em até 50% a ocorrência de convulsões em pacientes com síndromes graves, como a de Dravet e Lennox-Gastaut.

No Brasil, o CBD já é aprovado pela Anvisa para uso em condições de epilepsia refratária, reforçando seu papel como uma solução viável para pacientes e famílias que enfrentam limitações dos tratamentos tradicionais.

3. Esclerose Múltipla

 

A esclerose múltipla é uma doença autoimune que causa danos ao sistema nervoso central, resultando em sintomas debilitantes como espasticidade muscular, dor e dificuldade de mobilidade. Produtos à base de cannabis, como o spray oral Sativex (combinação de THC e CBD), são amplamente utilizados em países como Canadá e Reino Unido para tratar a espasticidade associada à esclerose múltipla.

Uma pesquisa publicada na Multiple Sclerosis Journal mostrou que pacientes tratados com Sativex apresentaram redução significativa na rigidez muscular e melhoraram a qualidade do sono e do movimento. Além disso, os efeitos colaterais relatados são leves e bem tolerados, tornando a cannabis uma opção segura e eficiente para esta condição.

Embora a eficácia da cannabis medicinal esteja bem documentada para diversas doenças crônicas, é fundamental que o uso seja feito sob orientação médica e em conformidade com a legislação vigente. O avanço das pesquisas e a ampliação do acesso a produtos de qualidade reforçam o potencial dessa planta no cuidado à saúde. Com o suporte adequado, a cannabis pode oferecer uma nova perspectiva para pacientes que convivem com condições crônicas debilitantes, promovendo mais qualidade de vida e bem-estar.

Referências

 

Journal of Pain - Cannabis for Chronic Pain

Pain Medicine - Cannabinoids in Pain Management

New England Journal of Medicine - Trial of Cannabidiol for Drug-Resistant Seizures in the Dravet Syndrome

Multiple Sclerosis Journal - Sativex for the Treatment of Spasticity in Multiple Sclerosis

Cochrane Database of Systematic Reviews - Cannabis-based medicines for chronic neuropathic pain in adults