O renascer de Dona Leny: amor, Parkinson e esperança com a cannabis medicinal

Com o apoio da família, a nossa entrevistada teve melhoras significativas com o uso da cannabis medicinal no tratamento do Parkinson. Uma história de afeto, ciência e esperança

Publicada em 17/04/2025

O renascer de Dona Leny: amor, Parkinson e esperança com a cannabis medicinal

"Se permita experimentar um tratamento com essa erva medicinal e sagrada da natureza. A melhora da minha mãe fala por si", diz Soraia, filha da Dona Leny (Foto: CanvaPro)

Aos 88 anos, dona Leny Graciano Giafferis carrega uma história de dedicação, afeto e sabedoria. Moradora de Bauru, interior de São Paulo, ela é o centro de uma família numerosa e amorosa, com quatro filhos, cinco netos e oito bisnetos que a têm como referência de cuidado e acolhimento. Durante toda a vida, foi uma mulher realizada no papel que escolheu viver: o de guardiã da casa e da família.


Sem formação acadêmica formal, dona Leny sempre teve sede de saber. Lia muito, gostava de se aprofundar em temas como culinária, saúde e plantas. Viajava sempre que podia e encantava a todos com seus pratos elaborados e com seu jeito leve de encarar a vida. Mas há três anos, sua rotina mudou drasticamente com o diagnóstico da Doença de Parkinson.

 

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Os primeiros sinais do Parkinson são tremores nas mãos e dificuladade de coordenação motora. (Foto: CanvaPro)


A filha Soraia Giafferis, de 60 anos, é quem cuida da mãe com zelo e admiração: “minha mãe sempre foi ativa e amorosa. Quando parou de andar, o emocional dela se abalou muito. Ver aquela mulher que fazia tudo com tanta alegria, agora dependente, mexeu com todos nós”. 

Os primeiros sinais da doença foram discretos: um leve tremor nas mãos e dificuldade de coordenação. Inicialmente, a esperança de que o tratamento tradicional devolveria sua autonomia era forte. Mas com o tempo, vieram as limitações físicas, a tristeza e a depressão. Até que, por sugestão do genro Sálvio do Prado, a família conheceu o óleo de canabidiol, e tudo começou a mudar.


“Com pouco tempo de uso da cannabis medicinal, os tremores pararam, a fala melhorou, a salivação também. Mas o que mais nos tocou foi o resgate do bom humor dela. Isso, pra nós, vale muito”, conta Soraia. Sem resistência por parte da família, o tratamento foi bem acolhido desde o início. Hoje, além do óleo de canabidiol, dona Leny faz sessões alternadas de fisioterapia e fonoaudiologia,  cuidados que, segundo a família, têm mantido sua qualidade de vida e lucidez.


O Parkinson sob olhar clínico


De acordo com a Dra. Gabriela Mânica, médica geriatra, o uso da cannabis medicinal no tratamento do Parkinson tem mostrado resultados promissores, principalmente nos sintomas não motores que afetam diretamente a qualidade de vida dos pacientes.

“Na minha prática clínica, observo que a cannabis pode oferecer benefícios importantes, especialmente quando usada como tratamento complementar. Entre os principais efeitos, destaco a melhora do sono, da rigidez muscular, da bradicinesia e, em muitos casos, até dos tremores. Além disso, conseguimos reduzir o uso de medicamentos como benzodiazepínicos, o que é muito positivo em idosos”, afirma.


 

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A especialista ressalta que o canabidiol (CBD) costuma ser o mais utilizado inicialmente, mas o tetrahidrocanabinol (THC) também pode ser indicado, especialmente para sintomas motores. Quanto às doses e ajustes constantes são baseados de acordo com o perfil clínico de cada paciente. “A escolha é feita de forma individualizada, considerando idade, sintomas, medicamentos em uso e histórico psiquiátrico”, explica.


Entre as contraindicações, Gabriela cita casos de arritmias graves, histórico de esquizofrenia ou situações em que o acompanhamento não pode ser feito adequadamente. Para ela, o caminho para que a cannabis medicinal seja adotada de forma mais estruturada no manejo do Parkinson ainda depende de estudos clínicos robustos, melhor regulamentação e formação adequada dos profissionais de saúde.

 “Muitos médicos ainda não se sentem seguros para prescrever e muitos pacientes não têm acesso. Quando superarmos essas barreiras, acredito que a cannabis poderá ocupar um espaço importante como parte de um cuidado mais integral e humanizado. O objetivo não é apenas prescrever cannabis, mas integrar esse recurso dentro de um cuidado mais amplo, seguro e com foco na qualidade de vida”, pontua a médica.


Dia Mundial do Parkinson: hora de olhar com mais atenção para quem amamos


Celebrado em 11 de abril, o Dia Mundial de Conscientização da Doença de Parkinson é um convite à escuta e ao olhar atento. A condição, que afeta o sistema nervoso central e compromete a coordenação motora e funções cognitivas, é muitas vezes diagnosticada tardiamente, justamente porque os primeiros sintomas podem parecer leves ou “naturais” com o envelhecimento.

 

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Cerca de 30% dos pacientes com Parkinson desenvolvem demência. (Imagem Ilustrativa/CanvaPro)

 

No Brasil, estima-se que cerca de 200 mil pessoas convivam com a Doença de Parkinson . A prevalência da doença aumenta com a idade, sendo mais comum entre os maiores de 60 anos . Estudos indicam que a incidência é maior em homens brancos, com um pico entre 70 e 79 anos. 


Além dos sintomas motores, como tremores e rigidez, cerca de 30% dos pacientes também desenvolvem demência associada à doença, impactando significativamente a qualidade de vida dos pacientes e de seus cuidadores.


Para Soraia, a data é um lembrete para observar nossos pais, avós, tios, com mais carinho e atenção. "Muitas vezes, os sinais estão lá, mas não percebemos. E, mais ainda, é fundamental abrir a mente para alternativas como a cannabis, que está nos ajudando tanto. Se permita experimentar um tratamento com essa erva medicinal e sagrada da natureza. A melhora da minha mãe fala por si”, finaliza.

 

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