Entre passos e pausas, Ana Carolina transforma a bengala e o canabidiol em símbolos de liberdade
Diagnosticada com esclerose múltipla, a criadora de conteúdo encontrou no uso da cannabis light e no afeto cotidiano formas de reinventar o próprio tempo e redescobrir a leveza
Publicada em 30/10/2025

Ana Carolina é fundadora do projeto "Minha Voz Importa", um movimento inclusivo para dar voz às doenças crônicas e raras | Foto: Arquivo Pessoal
Nas redes sociais, entre sorrisos, relatos sinceros e registros da rotina, Ana Carolina Rocha Guimarães, 33 anos, administradora e criadora de conteúdo, compartilha o que chama de sua “vida com pausas”.
Desde que recebeu o diagnóstico de esclerose múltipla (EM) em 2021, Ana Carolina precisou desacelerar, não por escolha, mas por necessidade. “Acordo devagar, tomo meus remédios, faço café e escuto meu corpo. Aprendi que o silêncio também é cuidado”, diz.
Entre uma xícara e outra, ela aprendeu a respeitar o tempo de cada gesto. A bengala, apelidada carinhosamente de Matilda, se tornou sua aliada, não um símbolo de limitação, mas de autonomia. “Com ela, posso sair, conhecer lugares, viver no meu ritmo. Ela me devolveu a liberdade que o medo tentou tirar”, conta.
O corpo que ensina

Antes do diagnóstico, vieram as incertezas. Espasmos, fadiga, dores musculares e lapsos de energia que pareciam não caber em nenhuma explicação. “Ninguém entendia o que eu sentia. Eu mesma duvidava do meu corpo”, diz.
A esclerose múltipla, uma doença autoimune que interfere na comunicação entre cérebro e corpo, exigiu de Ana Carolina algo além de força: presença.
“Aprendi a ouvir o que meu corpo tenta me dizer. A vulnerabilidade me ensinou mais do que qualquer manual de coragem”, reflete.
Em 2023, orientada por sua médica, ela iniciou o uso de óleo de canabidiol (CBD) como parte complementar de seu tratamento.
“O CBD foi um divisor de águas. Passei a dormir melhor, senti menos dor, menos cansaço. Minha perna ficou mais firme, meu corpo mais estável. É como se o peso do dia diminuísse um pouco”, relata.
Os medicamentos específicos para esclerose múltipla ajudam a evitar novos surtos, mas, segundo ela, o CBD atua no invisível, no incômodo cotidiano, na dor silenciosa, no cansaço que ninguém vê. “Ele me trouxe de volta o equilíbrio. O que o remédio tradicional não alcança, o canabidiol toca com delicadeza”, pontua.
Apesar dos benefícios, ela fala abertamente sobre os desafios de acesso e o preconceito. “O custo ainda é alto, e muita gente tem medo de falar sobre o uso. Mas esconder não ajuda ninguém. Quanto mais a gente fala, mais abrimos caminho para outras pessoas”.
Entre vulnerabilidade e voz

Foi nas redes que Carol encontrou não só acolhimento, mas propósito. No início, teve receio de ser julgada, especialmente por compartilhar seu tratamento com a cannabis. Hoje, ela transforma o medo em ponte.
“Falar sobre isso me libertou. Descobri que minha história podia acolher outras pessoas. Que existe ciência, empatia e vida por trás da cannabis medicinal”, afirma.
Entre posts, conversas e partilhas, Ana Carolina usa sua voz para lembrar que viver com uma condição crônica não é o fim de um caminho, mas o começo de um novo ritmo.
“Nos dias difíceis, respiro fundo, abraço o Romeu, meu cão, e lembro que o amor ainda está aqui. É ele quem me ensina que tudo passa, um dia de cada vez”, finaliza.
Esclerose Múltipla e o CBD como auxiliar no tratamento
Para a médica de família Carolina Rosa, que atua no Hospital de Amor e é pós-graduanda em Psiquiatria pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp), o uso da cannabis medicinal representa uma nova perspectiva de cuidado centrado no paciente.
“O canabidiol tem mostrado resultados promissores no manejo de sintomas que impactam diretamente a qualidade de vida, como dor crônica, fadiga, ansiedade e distúrbios do sono. No caso de pacientes com doenças neurológicas, como a esclerose múltipla, ele pode atuar como um importante coadjuvante ao tratamento tradicional, oferecendo bem-estar e equilíbrio emocional”, explica a médica.
Confira o vídeo completo com a Dra. Carolina Rosa, que explica de forma acessível como o canabidiol atua no sistema nervoso e pode contribuir para uma rotina mais leve e saudável



