Origem da cannabis: de planta sagrada a estigmatização global

Poucas plantas na história da humanidade desempenharam papeis tão diversos e vitais quanto a cannabis

Publicada em 23/12/2024

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Imagem: Canva Pro

Poucas plantas na história da humanidade desempenharam papeis tão diversos e vitais quanto a cannabis. Registros de seu uso medicinal remontam a cerca de 2700 a.C., na China, onde já era reconhecida por suas propriedades terapêuticas. O Imperador Vermelho, Shen Nung, catalogou a cannabis em seu tratado "Pen Ts’ao", destacando a planta entre as mais importantes para tratamentos de saúde.

Além de seu uso medicinal, o cânhamo, uma variedade da cannabis, foi amplamente utilizado como matéria-prima para a fabricação de tecidos, especialmente entre aqueles que não podiam adquirir seda. Registros de 1000 d.C. mencionam o uso da cannabis para alívio de dores intensas e como anestésico em cirurgias.

 

A repressão à cannabis na China Moderna

 

Com a fundação da República Popular da China em 1949, o uso da cannabis foi proibido. O governo alegava que os usuários estavam mais propensos à insanidade. As medidas contra a planta foram rigorosas, com penas severas, incluindo a pena de morte. Após a adesão da China à Convenção das Nações Unidas sobre Substâncias Psicotrópicas em 1985, as restrições foram reforçadas, especialmente para o uso recreativo.

 

O uso medicinal no Egito Antigo

 

No Egito, pergaminhos antigos mencionam a palavra Shemshemet ao se referir à cannabis. O papiro de Ebers, um dos mais completos textos médicos da época, descreve a mistura da planta com mel para tratar "calor uterino". Também era usada no tratamento do glaucoma e de inflamações, além de ser aplicada em doenças infantis, cicatrização de feridas, partos e febres.

 

Índia Antiga: cannabis nos textos sagrados

 

Na Índia, a cannabis tem uma longa e rica tradição. Textos hindus sagrados, conhecidos como “Os Vedas”, listam a planta como uma das cinco safras sagradas, associando-a ao deus Shiva. Até hoje, praticantes do hinduísmo na Índia e Nepal fumam cannabis em rituais religiosos.

Na medicina indiana, a planta era usada para tratar doenças digestivas, respiratórias, epilepsia e asma, conforme mencionado em escritos entre 500-600 d.C.

 

Da planta curativa à demonização global

 

Com o tempo, a planta, que foi reverenciada por tantas culturas, passou a ser demonizada. Esse processo envolveu uma mistura de interesses econômicos, racismo, moralismo religioso e influência política dos Estados Unidos.

Em 1971, o presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon lançou a campanha War on Drugs durante a Guerra do Vietnã. A União Soviética, na época, era a maior exportadora de cânhamo, mesmo com o uso medicinal e recreativo da cannabis proibido. Com a campanha de Nixon, a cannabis foi associada ao comunismo e tratada como uma ameaça ao estilo de vida cristão dos EUA.

O impacto dessa campanha foi global, resultando na interrupção da importação de cânhamo para fins industriais e no fechamento do mercado internacional de cannabis.

 

O Renascimento da cannabis: pesquisas científicas e medicinais

 

O professor Raphael Mechoulam, da Universidade Hebraica de Jerusalém, foi pioneiro ao isolar os principais canabinoides da planta, como o tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD), em 1963. Sua pesquisa revelou os benefícios terapêuticos da cannabis, especialmente no tratamento de epilepsia e dores crônicas.

No Brasil, o professor Elisaldo Carlini também foi pioneiro ao estudar o CBD. Em 1980, ele publicou o estudo "Administração crônica de canabidiol a voluntários saudáveis e pacientes epilépticos", destacando os benefícios do CBD para o controle de crises convulsivas.

A repressão perdeu força com o avanço das pesquisas sobre o potencial terapêutico da cannabis, passando por um longo processo até chegar nos dias de hoje.

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