Legalização da cannabis não aumenta uso entre jovens, diz pesquisador de Johns Hopkins
Estudo da Johns Hopkins mostra que legalização da cannabis não aumenta uso entre jovens e destaca falhas nas políticas e testes atuais sobre a planta
Publicada em 02/08/2025

Legalização da cannabis não eleva uso entre adolescentes | CanvaPro
Num país ainda dividido pela polêmica em torno da cannabis, uma fala recente ecoou com força e serenidade. Em um webinar promovido pela Administração Federal de Serviços de Saúde Mental e Substâncias dos EUA (SAMHSA), o pesquisador Ryan Vandry, da renomada Universidade Johns Hopkins, trouxe luz onde muitos ainda veem sombra: a legalização da maconha não está associada ao aumento do uso entre jovens.
A afirmação não veio solta, mas amparada por décadas de dados e uma análise cuidadosa das mudanças nas políticas estaduais. “Mesmo com o avanço da legalização, o consumo entre adolescentes se manteve estável e, em alguns casos, caiu”, pontuou Vandry.
Ele destacou dados da Califórnia, que desde 1996 permite o uso medicinal da planta, mostrando que alunos do ensino médio não passaram a consumir mais após a mudança na legislação.
Não é tudo igual: os diferentes rostos da cannabis
Ao longo da palestra, Vandry defendeu uma leitura mais profunda e menos genérica sobre a planta. Nem todo produto com cannabis é igual e isso importa, muito. Ele explicou que os efeitos variam conforme a dosagem, a forma de uso (oral ou inalada), a formulação e até a presença de compostos como os terpenos.
Por isso, ele propõe que as regulações deixem de focar apenas na quantidade de THC (o principal composto psicoativo da cannabis) e passem a considerar o impacto real de cada formulação. Um dos seus alertas foi sobre o delta-8 THC, substância semelhante ao delta-9 THC, mas que hoje ocupa uma zona cinzenta na legislação americana. “Em laboratório, vimos que dobrar a dose de delta-8 gera os mesmos efeitos do delta-9”, explicou.
Testes, efeitos e as falhas da lei
Outro ponto abordado por Vandry foi a ineficácia de testes atuais para detectar comprometimento por uso de cannabis. “Mesmo com sinais claros de alteração motora, muitos indivíduos passavam nos testes de sobriedade aplicados nas ruas”, contou. Ele ainda lembrou que produtos de CBD, amplamente usados de forma medicinal, podem conter vestígios de THC suficientes para gerar falsos positivos em exames toxicológicos.
Esse cenário, segundo o pesquisador, é mais um motivo para que a regulamentação seja revista. “Não dá mais para tratar todos os produtos como se fossem iguais”, afirmou.
Entre o alívio e o alerta
Vandry também falou sobre os riscos associados ao uso abusivo de cannabis, especialmente com predominância de THC, e a importância de diferenciar esses casos do uso medicinal ou moderado. Ele lembrou que o transtorno por uso de cannabis existe e precisa ser tratado com seriedade, mas isso não pode justificar políticas que ignoram a complexidade da planta e seus derivados.
Outro ponto importante levantado foi a diferença de impacto entre homens e mulheres. “Elas metabolizam de forma diferente, têm mais dificuldade em parar e apresentam sintomas de abstinência mais intensos”, explicou.
Uma planta, muitos caminhos
A palestra terminou com um apelo pela ciência: mais investimento em pesquisa, padronização de produtos e compreensão profunda dos canabinoides. Vandry destacou estudos recentes que identificaram novos compostos da planta e até genes associados à produção de canabinoides específicos, o que pode revolucionar o cultivo e o uso da cannabis no futuro.
Para ele, não se trata de ser contra ou a favor da cannabis, mas de compreender a planta com seriedade e respeito. “Regulamentar cannabis como um todo é um erro. Precisamos de normas específicas para produtos com THC, produtos com CBD e outros derivados. Só assim avançamos com responsabilidade”.
Com informações de Marijuana Moment.
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