Start-up britânica levanta €5 milhões para produzir tecidos ecológicos que substituem couro e plásticos
Moda sustentável ganha força com biomateriais feitos de cânhamo e bactérias
Publicada em 09/04/2025

Imagem ilustrativa: CanvaPro
Imagine um futuro onde as roupas não agridam o planeta, mas, ao contrário, nascem de processos inspirados na natureza? E mais, feitas com ingredientes como o cânhamo, o linho e até mesmo bactérias? Legal, né?
Pensando nessa proposta, a designer Jen Keane teve uma ideia: e se os tecidos pudessem ser produzidos de forma sustentável, imitando os processos da natureza em vez de explorá-la? A partir dessa visão, ela fundou a Modern Synthesis, uma start-up sediada em Londres que acaba de levantar US$ 5,5 milhões (cerca de €4,98 milhões) para tirar esse conceito do papel.
Criada em parceria com o biólogo Ben Reeve, a empresa combina ciência e design para desenvolver biomateriais capazes de substituir o couro animal e plásticos derivados do petróleo.
A tecnologia da Modern Synthesis utiliza nanocelulose, um composto natural produzido por bactérias alimentadas com açúcar. Ao ser combinada com fibras naturais como cânhamo, linho e liocel, essa base dá origem a materiais resistentes, biodegradáveis e com potencial para transformar a indústria da moda.
“Nosso processo é parecido com a forma como varões de aço são usados para reforçar o concreto, só que no nosso caso, a estrutura é totalmente livre de petroquímicos e pode ser processada nas mesmas máquinas usadas pela indústria têxtil convencional”, explica Jen Keane, CEO da Modern Synthesis.
A nova rodada de investimentos foi liderada pela Extantia Capital, fundo europeu com foco em tecnologias climáticas. O aporte permitirá à start-up expandir sua unidade-piloto e atender à crescente demanda de marcas que buscam alternativas mais ecológicas para seus produtos, ou seja, sustentabilidade em alta.
Para o investidor Yair Reem, sócio da Extantia, o potencial vai além da substituição do couro. “O que mais nos impressionou foi o fato desse material não apenas competir com o couro em termos de aparência e textura, mas também oferecer possibilidades completamente novas que inspiram os designers”, pontua.
Um processo biotecnológico em três atos
Inicialmente, o método consistia em cultivar as bactérias diretamente sobre os têxteis. No entanto, para ganhar escala, Jen e Ben transformaram o processo em três etapas:
1- Cultivo da nanocelulose em biorreatores;
2- Modificação das nanoestruturas, que permite controlar maleabilidade e resistência;
3- Composição final com fibras naturais como o cânhamo.
O resultado é uma versatilidade que impressiona desde o drapeado leve e fluido à película translúcida ou até mesmo um material mais denso e robusto, com aspecto e durabilidade similares ao couro. “Muita gente pode produzir nanocelulose, mas nosso diferencial está na forma como a transformamos em materiais de alto valor e baixo impacto ambiental”, afirma Keane.
Além da sustentabilidade, os materiais produzidos pela Modern Synthesis carregam um apelo estético e sensorial cada vez mais valorizado pelo mercado da moda, setor que, historicamente, tem um alto custo ambiental.
Ao apostar em tecnologias como essa, que aliam design, ciência e regeneração, a indústria começa a dar passos concretos rumo a um futuro onde vestir-se bem também é uma escolha ética e consciente.