Psicodélicos para tratar "dependência química": uma boa alternativa?

Psicodélicos no combate aos transtornos por uso de substâncias

Publicada em 08/03/2025

Psicodélicos para tratar "dependência química": uma boa alternativa?

Os transtornos por uso de substâncias (TUS) afetam milhões de pessoas em todo o mundo e representam um desafio significativo para a saúde pública. O consumo global de drogas tem aumentado nos últimos anos, enquanto os tratamentos convencionais, que combinam psicoterapia e medicamentos, ainda enfrentam limitações. A terapia psicodélica assistida (TAP) surge como uma alternativa promissora, utilizando substâncias como psilocibina, LSD, ayahuasca e ibogaína para tratar dependências químicas de maneira inovadora.

 

O que dizem os estudos sobre os psicodélicos?

 

Uma revisão de ensaios clínicos realizada entre 2013 e 2023 analisou os efeitos dos psicodélicos no tratamento de vícios, incluindo os vícios em álcool, tabaco e drogas ilícitas. Os resultados apontam que substâncias como a psilocibina demonstraram grande eficácia na redução do desejo por drogas e na manutenção da abstinência a longo prazo. Estudos indicam que a combinação da experiência psicodélica com a psicoterapia potencializa os efeitos terapêuticos, proporcionando mudanças comportamentais profundas nos pacientes.

 

Como os psicodélicos atuam no cérebro?

 

Os psicodélicos clássicos, como a psilocibina e o LSD, atuam principalmente nos receptores serotoninérgicos, promovendo alterações na percepção e no estado de consciência. Essas substâncias podem ajudar a reestruturar circuitos neurais ligados ao vício, reduzindo padrões de pensamento compulsivo e promovendo maior flexibilidade cognitiva. Já os psicodélicos não clássicos, como a cetamina e a ibogaína, interagem com múltiplos receptores, influenciando a liberação de dopamina e serotonina, neurotransmissores essenciais para o bem-estar emocional e a motivação.

 

A importância da psicoterapia no processo de cura

 

A eficácia da TAP não depende apenas do uso dos psicodélicos, mas também da integração dessas experiências com a psicoterapia. Sessões conduzidas por profissionais especializados auxiliam os pacientes a compreender e ressignificar suas vivências, consolidando os benefícios terapêuticos. Muitos estudos apontam que as experiências místicas induzidas pelos psicodélicos podem levar a profundas transformações emocionais, facilitando o abandono de padrões de comportamento destrutivos.

 

Barreiras e desafios para a implementação da terapia psicodélica

 

Apesar dos resultados promissores, a adoção da terapia psicodélica enfrenta desafios regulatórios e sociais. Muitas dessas substâncias ainda são classificadas como ilegais em diversos países, o que limita a realização de pesquisas em larga escala e dificulta sua incorporação em tratamentos convencionais. Além disso, é essencial que os profissionais de saúde recebam treinamento adequado para administrar essas terapias com segurança.

 

O futuro dos psicodélicos no tratamento da dependência

 

À medida que novas pesquisas são conduzidas, cresce o reconhecimento do potencial terapêutico dos psicodélicos. Estudos sugerem que esses compostos podem representar uma revolução no tratamento de transtornos por uso de substâncias, especialmente para pacientes que não respondem às abordagens tradicionais. No entanto, para que essa terapia seja amplamente adotada, é fundamental a realização de mais estudos clínicos e a revisão das regulamentações existentes.

A terapia psicodélica assistida pode se tornar uma alternativa viável para milhões de pessoas que sofrem com a dependência química. O aprofundamento das pesquisas e a regulamentação dessas substâncias são passos cruciais para garantir que essa abordagem inovadora possa beneficiar cada vez mais indivíduos. O debate sobre o uso dos psicodélicos na medicina continua crescendo, e o futuro dessa terapia promete ser transformador para a psiquiatria e a saúde mental.